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Cultura em 2022 pode entrar nos eixos se variantes não botarem tudo a perder

Com o avanço da vacinação, setor mergulha em eventos presenciais, enquanto o mundo digital colhe frutos da pandemia

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São Paulo

Não é simples fazer previsões em uma virada de ano em que tantas incertezas se equilibram no fio da navalha de uma ômicron e de uma H3N2, que já cancelaram carnavais, fecharam a Broadwaypouco após uma entusiasmada reabertura —e adiaram até uma cerimônia do Oscar.

Mas nessa valsa entre as variantes, doses de reforço e o entendimento de que a Covid-19 não vai sumir, diversos setores começam a colocar as asinhas de fora antes que 2022 seja o que não queremos.

Ingressos antecipados para megaeventos como o Lollapalooza, previsto para março, e o Rock in Rio, em setembro, esgotaram rápido, confirmando a vontade de uma população que evidenciava disposição para aglomerar em prol de Dua Lipa, Justin Bieber ou Miley Cyrus.

Espera-se também o Primavera Sound —primeira edição do festival no Brasil, marcado para outubro—, bem como espetáculos da noite, como o D.Rete —já em fevereiro—, com 40 horas de festa ininterruptas entre Memorial da América Latina e a tradicional casa D.Edge, e o DGTL São Paulo, no Pavilhão do Anhembi, em abril.

Até agora, porém, nem todos confirmaram a exigência do passaporte da vacina, como alguns festivais fizeram ao longo de 2021. Outros, como o Coolritiba, em maio, correm atrás do prejuízo dando meia-entrada a quem levou as picadas.

O mundo das artes, em particular, onde a muvuca se dissolve entre pavilhões e galerias, pôde sentir o gosto do retorno já no último semestre de 2021, como visto nas experiências lotadas da SP-Arte (que era em abril e foi para outubro, mas aconteceu), da Bienal de São Paulo e da Art Basel, em Miami, que sintetizou tendências entre o mundo tátil e a perenidade do digital.

Nesse sentido, as exposições apostam com segurança no centenário da Semana de Arte Moderna. As celebrações em São Paulo vão desde uma experiência imersiva na obra de Cândido Portinari, no Museu da Imagem e do Som, até mostras de artistas como Adriana Varejão, Lenora de Barros e Jonathas de Andrade na Pinacoteca —para quem quer manter os pés em 2022, mas refletir sobre o passado. Andrade também vai para fora, representar o Brasil na tradicional Bienal de Veneza, que começa em abril.

Peças e espetáculos de dança também correm para seu habitat, buscando atender ao anseio do público e dos artistas que já não sabiam como romper a simbiose com o cinema, as janelinhas de Zoom ou como sobreviver frente ao desmonte do governo.

E, conforme as companhias recuperam a articulação com instituições culturais, peças antes virtuais serão reencenadas nos palcos, e festivais como a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp), em junho, e a Ocupação Mirada, em setembro, podem retornar após empreitadas online.

Por outro lado, a pandemia veio embaralhar a dicotomia entre real e virtual, já que muitas novidades remodelaram a indústria de consumo —do delivery ao sob demanda.

O streaming se consolidou em 2021 como único nicho a ganhar audiência em todas as faixas horárias enquanto canais pagos e abertos seguem em declínio. O ano que chega deve marcar ainda uma nova fase da guerra entre as plataformas, agora que novatos como a HBO Max e Disney Plus se firmaram no país.

As fronteiras entre TV e streaming devem ficar mais difusas também com a nova estratégia dos serviços. Não basta mais encaixar o Brasil em novos produtos "para inglês ver", acreditam. Agora eles devem ir de encontro ao brasileiro, seus hábitos e preferências.

Daí a debandada de dezenas de astros globais —de Lázaro Ramos a Camila Pitanga, passando por Silvio de Abreu— para diferentes casas. Aguarde uma enxurrada de produções alinhadas menos a "3%" ou "Coisa Mais Linda" que a "Verdades Secretas 2". E mesmo uma sinergia crescente entre Globo e Globoplay para seguir no ringue contra a Netflix.

Novelas inéditas, por sua vez, não devem ser nocauteadas pela Covid-19, visto os protocolos sanitários —mas as reprises não devem sumir tão rápido.

Já Hollywood não perdeu tempo, e desde o segundo semestre aproveitou para desovar sucessos garantidos. Do módico "Viúva Negra", passando por "007: Sem Tempo para Morrer" e o estouro de "Homem-Aranha: Sem Volta para Casa" —primeiro filme desde a pandemia a passar do US$ 1 bilhão em bilheteria mundial e maior estreia do Brasil na história—, os estúdios fizeram o test drive certo para ver que o calendário pode entrar nos eixos.

"O Batman", o novo "Pantera Negra" e a possível continuação do "Avatar" de James Cameron já anteveem as verdinhas na tela grande, mas o streaming reserva apostas no mesmo calibre, como as séries "O Senhor dos Anéis" —Amazon—, "House of the Dragon" —HBO Max— ou "The Sandman" —Netflix.

E mesmo que Cannes e Veneza tenham destilado glamour em 2021, os cinéfilos deverão aceitar que festivais locais como a Mostra Internacional de São Paulo devem adotar um modelo híbrido, ainda que privilegiando as salas.

Os incentivos do governo no setor também devem ganhar novo respiro com a renovação de contrato da Ancine (Agência Nacional do Cinema) com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social como agente financeiro do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), principal fonte de financiamento do setor.

Dos R$ 5 bilhões previstos para os próximos cinco anos, já foi aprovado um edital no final de dezembro destinando R$ 100 milhões para a conclusão de filmes e R$ 11,6 milhões para a comercialização. Ainda assim, a pandemia fechou cerca de 300 salas de cinema no país, freando o crescimento pré-Covid.

Enquanto isso, a Cinemateca Brasileira, vítima de seu quinto incêndio em um período às traças, passa a ser gerida pela Sociedade Amigos da Cinemateca até dezembro de 2026. As atividades no local devem voltar no ano que vem.

Quem ainda não tem coragem de sair, ou a paciência de permanecer de máscara, também poderá vislumbrar a cultura com o mercado editorial respirando aliviado, com bons resultados, novas livrarias e editoras.

Essas grandes esperanças vêm ao lado do próprio marco da Semana de Arte Moderna —que motivará reedições e livros comemorativos—, do centenário de José Saramago —o único Nobel de literatura em língua portuguesa— e até da publicação por aqui do último consagrado com o prêmio sueco, o tanzaniano Abdulrazak Gurnah.

Após o governo taxar livros como coisa de rico, talvez seja o momento de aproveitar as novidades enquanto ele vira os olhos para os conchavos políticos em ano de eleição.

Falando nisso, o setor dos games —que Bolsonaro sempre tentou seduzir com a redução de impostos, sem grande efeito— já se mescla aos debates contemporâneos e coleciona grandes influenciadores que viraram oposição.

Mas a distância entre os produtores de conteúdo e o público segue em um abismo que impede a chegada às classes C, D e E dos consoles de nova geração —que podem custar até mais de R$ 6.000.

Assim, smartphones, usados pela maioria (41,6%) dos gamers brasileiros segundo a Pesquisa Game Brasil, devem seguir como o refúgio deles —e de toda a população que ainda não enxerga novos horizontes em suas janelas.

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