Descrição de chapéu Livros Flip

Margaret Atwood defende na Flip novas utopias contra a mudança climática

Autora de 'O Conto da Aia', que dividiu mesa com cientista brasileiro, mostrou impaciência com perguntas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Precisamos voltar a pensar em utopias, porque será necessário inventar novos modelos de como viver para prevenir as mudanças climáticas. Foi o que destacou Margaret Atwood, uma das escritoras mais conhecidas mundialmente por inventar uma distopia em "O Conto da Aia", em sua participação na Flip nesta quarta.

Para ela, contudo, os dois conceitos sempre estão imbricados. "Toda distopia tem dentro de si uma utopia, com personagens que acham que aquela é uma sociedade melhor."

No século 19, se escreviam muitas utopias, mas em seguida esse tipo de produção parou porque os líderes políticos tentaram implementá-las na vida real, disse a autora. "E não deu muito certo, como a Rússia de Stálin, a China de Mao, o Camboja de Pol Pot. Eles diziam, 'vamos fazer uma utopia, mas antes temos que nos livrar de todas essas pessoas."

Agora, com a ameaça climática, será preciso voltar a imaginar. E não será tarefa dos políticos, mas da "população em geral, que tem que avisar aos políticos que, se não agirem pelo meio ambiente, não vão ser eleitos".

Atwood, que dividiu a mesa com o cientista brasileiro Antonio Nobre, se mostrou várias vezes impaciente com a falta de objetividade das perguntas dirigidas pela mediadora. A autora parecia desafinar da proposta geral de debater plantas, afirmou com rispidez que uma pergunta era "impossível de responder" e, em numerosos momentos, retrucou com secura a elucubrações longas da mediação.

Nobre, que estuda a Amazônia, fez coro à ideia de que todo ser humano tem traços utópicos e distópicos. A origem da nossa crise planetária, diz ele, é "a perda da conexão com os espíritos da floresta" e é papel dos artistas e poetas reavivar a consciência sobre esse aspecto holístico que anda esquecido.

"A realidade que nos ameaça, que vai tirar nosso oxigênio e água, é invisível. É preciso retomar a fraternidade, abraçar uma árvore, sentar no solo e abraçar Gaia, para trazer de volta a conexão que nós perdemos."

Nobre reforçou a necessidade de atentar às sabedorias indígenas, capazes de sintetizar com rapidez as mesmas conclusões a que cientistas levam anos para chegar, formulando frases "com a elegância da equação matemática mais poderosa".

Ele afirma apelar com frequência a colegas cientistas para "reconduzir as orientações dos cinco séculos que nos divorciaram do mundo holístico", já que "a verdade não tem que ficar restrita ao método científico" e pode ser encontrada, diz ele, também por meio do amor.

Atwood concordou com a necessidade de se aproximar das visões de povos originários para reverter a crise civilizatória em que a tecnologia nos encurralou. "Muito se fala sobre inventar um jeito de sair dessa crise, temos que inventar, mas também temos que olhar para a mesma sociedade de perspectivas diferentes."

As mesas da programação da Flip, que se estendem até domingo, dia 5, podem ser vistas gratuitamente pelo canal do YouTube da festa literária.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.