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Cinema

'Não Olhe para Cima' é um filme que se vê com gosto, apesar de excessos

Adam McKay, diretor de 'A Grande Aposta' e 'Vice', parece ter desistido de tentar falar sério

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Não Olhe para Cima

  • Quando Em exibição nos cinemas; estreia na Netflix em 24/12
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence e Meryl Streep
  • Produção EUA, 2021
  • Direção Adam McKay

"Não Olhe para Cima" começa como um filme normal de meteorito prestes a acabar com a vida na Terra. Mas pouco depois que a descoberta é feita numa universidade do estado americano de Michigan o tom começa a mudar. Os dois cientistas, o doutor Mindy, papel de Leonardo DiCaprio, e Kate Dibiasky, papel de Jennifer Lawrence, são chamados com urgência a Washington —à Casa Branca, mais precisamente.

Mas, em vez de serem atendidos de imediato pela presidente Meryl Streep, levam um chá de cadeira de sete horas. Motivo –o fulano indicado para a Suprema Corte pela personagem de Streep está para ser bloqueado, tais e tantas são as sujeiras que tem em sua folha corrida.

Desde então a Casa Branca começa a ser o palco de uma comédia burlesca, com uma presidente dedicada em tempo integral a ganhar as próximas eleições legislativas. Ela entende que do meteorito prestes a acabar com o planeta pode cuidar mais tarde.

Jennifer Lawrence e Leonardo DiCaprio em cena do filme "Não Olhe para Cima", de  Adam McKay
Jennifer Lawrence e Leonardo DiCaprio em cena do filme 'Não Olhe para Cima', de Adam McKay - Niko Tavernise/Divulgação

Admitamos, ela está longe de ser a única irresponsável do pedaço. Por exemplo, a diretora-geral da Nasa não defende os cientistas. Mas ela foi indicada pela presidente. É uma anestesiologista, quer dizer, não entende bulhufas de assuntos espaciais —em compensação é uma importante doadora da campanha da presidente.

Desde então, Adam McKay está em seu ambiente natural –a oposição aos usos e costumes dos Estados Unidos do século 21. Assim, a substituição do jornalismo pela mídia, a submissão da ciência à mídia, o poder de sedução da mídia —aqui representada por Cate Blanchett— , a busca de audiência a todo preço, o cuidado obsessivo com as pesquisas e com os "likes", a política como um espetáculo cada vez mais vagabundo, a transformação definitiva dos doadores de campanha em investidores de campanha.

Ou seja, estamos num estágio em que a política se transforma num espetáculo cada vez mais vagabundo e gira em torno de uma nação de imbecis —é de um estado demencial que se trata.

Mas chega um momento em que as coisas se tornam sérias o bastante para até a pateta presidencial se dar conta de que precisa fazer alguma coisa. Ela decide enviar uma missão destinada a destruir um meteorito. Claro, isso não pode ficar barato —é preciso montar um espetáculo cheio de bandeiras e, sobretudo, promover um novo herói nacional. Que, no caso, é um velho professor de ginástica fanfarrão, com cara de general latino-americano.

Quem achar que toda essa palhaçada parece em vários pontos com o Brasil —só que aqui não é de um filme que se trata— não estará longe da verdade. Quem entender que o burlesco do filme passa do ponto em vários momentos, também. Em filmes passados, McKay tentou explicar da maneira mais didática possível o que foi o grande "crash" de 2008, depois buscou carimbar um vice-presidente dos Estados Unidos como ser altamente perigoso.

Desta vez parece ter desistido de tentar falar a sério. Sua nova empreitada em vários aspectos lembra o Stanley Kubrick de "Dr. Fantástico". Embora menos vigoroso que o filme de Kubrick, perto da média do cinema americano contemporâneo é um luxo. E, excessos à parte, um filme que se vê com prazer.

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