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Cinema

'Nove Dias' é boa estreia de Edson Oda, apesar de correr poucos riscos

Longa de brasileiro imagina mundo espiritual com conceitos e regras próprios, mas que também impedem voos mais altos

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Nove Dias

  • Onde Em cartaz
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Bill Skarsgård, Winston Duke e Zazie Beetz
  • Produção EUA, 2020
  • Direção Edson Oda

O que há depois da morte? Como seria um universo espiritual? Existe céu ou inferno? E o purgatório? Não é de hoje que o cinema adora explorar "o outro lado", que rende histórias dos gêneros mais variados, da comédia ao terror, passando por tramas românticas e até animações —como a recente "Soul", do ano passado, premiada com o Oscar de sua categoria na edição deste ano.

Longa-metragem de estreia do brasileiro Edson Oda, "Nove Dias" aborda o período da "pré-vida" —assim como "Soul"— com um olhar sensível e original.

No início da trama, vemos Will, vivido por Winston Duke, acompanhando algumas vidas simultaneamente por meio de fitas de videocassete em televisões de tubo (digamos, "antigas"), quase um "Big Brother" espiritual. Apesar de fazer anotações em cadernos de todas elas, ele se detém particularmente na trajetória de Amanda, uma jovem prodígio violinista, prestes a fazer um concerto.

No dia do grande evento, Will recebe a vista de Kyo, papel de Benedict Wong, para verem juntos a apresentação. No entanto, uma fatalidade interrompe a vida de Amanda.

Will então se prepara para outra tarefa. Ele é o selecionador que vai escolher, entre alguns poucos candidatos, quem vai ter a oportunidade de ingressar em uma vida na Terra. O processo de entrevistas dura nove dias para o contemplado.

Para isso, faz perguntas que testam a moral e senso ético dos candidatos. "Você e seu filho de 11 anos estão num campo de concentração. Ele tenta fugir e é capturado. O guarda coloca uma corda no pescoço dele e pede para você derrubar a cadeira que o mantém vivo. Se não concordar, ele matará todos no campo. O que você faz?", pergunta o selecionador numa entrevista, por exemplo. Em seguida, diz que não existem respostas certas ou erradas --mas que elas existem, existem.

Durante o processo, no entanto, é cada vez mais perceptível que Will não reagiu bem à morte repentina de Amanda —uma vida selecionada por ele.

A grande força no filme de Oda está em estabelecer os limites e regras desse mundo que ele constrói, que atraiu elogios de pessoas como os celebrados diretores Quentin Tarantino e Spike Jonze —este também produtor do longa.

Will vive em uma casa isolada no meio de um deserto, e sua rotina de trabalho parece quebrada apenas pelas intervenções do amigo Kyo e de uma das entrevistadas, Emma, papel de Zazie Beetz, de "Deadpool 2", um espírito livre e questionador, digamos.

No entanto, esses mesmos conceitos parecem às vezes atuar como uma âncora para o filme, impedindo viagens mais longas.

Em sua estreia, Oda já se mostra um ótimo diretor de atores, com boas performances do trio central –Winston, Wong e Beetz.

Apesar do sem-número de produções hollywoodianas de vida após a morte, a cadência de "Nove Dias", no qual os detalhes importam mais que uma cena rápida, está mais associada ao cinema oriental, de diretores como Akira Kurosawa ou Hirokazu Kore-eda —Oda já revelou que "Depois da Vida" foi uma de suas inspirações.

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