Quem é o artista que fez das prisões lugares brilhantes e coloridos na era do iPhone

Americano Peter Halley, da geração de Jeff Koons, apresenta primeira mostra em São Paulo com obras feitas na pandemia

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São Paulo

Peter Halley sempre organizou em suas pinturas um mundo de prisões interconectadas. Celas geométricas, muitas vezes de cores gritantes e ligadas por fios condutores, são repetidas nas obras do americano desde os anos 1980, quando começou sua produção dentro de uma geração que formou nomes pop como o de Jeff Koons.

"Comecei a pintar com pigmentos fluorescentes em 1981. Sentia que, desde aquela época, minhas pinturas descreviam um mundo tecnológico, um mundo feito pela tecnologia humana, não pela natureza", diz o artista em entrevista. É um universo das cidades, dos telefones e de cidadãos totalmente conectados pela internet.

Antes mesmo de a pandemia afastar todos de vez, Halley diz que já sentia o mundo se tornando um lugar em que se passa mais e mais tempo fisicamente isolado em frente aos computadores. Essa condição de uma comunicação cara a cara que foi substituída pelos contatos virtuais foi demonstrada de maneira ainda mais dramática com a Covid.

Foi nesse novo contexto que Halley produziu cinco obras que estão agora em exibição na galeria Millan, em São Paulo, em sua primeira mostra no Brasil. Apesar de manter um vocabulário simples nos últimos 40 anos, toda a perspectiva de solidão parece ter sido reforçada nos últimos anos.

"Quando eu era jovem, lia muito Michel Foucault. Parecia que ele pensava que o fenômeno da pandemia foi um fator determinante para como as cidades modernas foram construídas, desenhadas", conta ele. "E me atingiu a ideia de que talvez todo esse desenvolvimento da internet foi uma espécie de medo inconsciente de pandemias."

Essas leituras do filósofo francês, aliás, atravessam sua obra desde o início. Halley, que é diretamente influenciado por uma turma de minimalistas, como Frank Stella, Sol LeWitt e Donald Judd, conjugou essas formas elementares que se organizavam nos museus como uma maneira de sintetizar as intenções sociais da arquitetura da vida real.

As celas e prisões, temas recorrentes em suas obras, também aparecem mais instáveis na produção mais recente do artista, como se flutuassem umas sobre as outras em telas aglutinadas.

"A maioria das minhas pinturas hoje contém várias telas. Tenho me interessado pela ideia de que cada tela, ou cada painel, representa um espaço separado. Eu os vejo se movendo para trás e para frente no espaço", diz o artista. Alguns estão empilhados, outros parecem na iminência de cair, numa "espécie de instabilidade ou qualidade rítmica", segundo ele.

Homem branco de camisa em frente a quadro colorido
Retrato do artista Peter Halley - Renata Morales/Divulgação

A percepção dos pigmentos fluorescentes, que carregam um caráter antinatural, também se alterou com os olhos das gerações mais recentes, cada vez mais imersas nos brilhos excessivos dos computadores, tablets, celulares e telões das cidades.

"Em boa parte da minha carreira, pelo menos até o começo dos anos 2000, as pessoas tinham problemas com a cor da minha pintura. Os celulares, os iPhones, mudaram tudo isso", afirma ele. "Todos nós olhamos nossos celulares o dia todo e ficamos muito mais acostumados a olhar para esse tipo de cor brilhante e eletrônica."

Halley, hoje com 68 anos, afirma que acha seu trabalho mais palatável para gerações mais jovens do que para as pessoas de sua própria idade. "Acredito que os mais jovens veem nas minhas pinturas um reflexo do mundo em que eles vivem."

Peter Halley: Novas Pinturas

  • Quando Até 18/12. Seg. a sex.: 10h às 19h. Sábado: 11h às 15h
  • Onde Na galeria Millan - r. Fradique Coutinho, 1360, São Paulo, SP
  • Preço Grátis
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