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Cinema

'Sem Ressentimentos' trata sexualidade de forma leve e sem firmeza

Filme de Faraz Shariat é melhor quando os protagonistas brincam e se amam, como a 'bande à part' de Godard

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Sem Ressentimentos

  • Onde Em cartaz nos cinemas
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Benny Radjaipour, Eidin Jalali, Banafshe Hourmazdi
  • Direção Faraz Shariat

Os momentos mais interessantes de "Sem Ressentimentos" acontecem quando os três amigos, Parvis, Bana e Amon, juntos, vagueiam pelas ruas ou pelas casas, quando brincam, sonham ou se amam, quando constituem, enfim, uma "bande à part" que lembra até o filme de Jean-Luc Godard pela leveza.

Tudo gira em torno da estada na Alemanha de dois irmãos iranianos, Bana e Amon, e de um alemão de origem iraniana, Parvis. Para Bana, a melhor possibilidade de permanecer no país seria casar com um nativo. Mas os dois que se aproximam dela não parecem tão bom partido –um é tímido demais para chegar a ser gentil, o segundo é um cafajeste de primeira linha.

Ela rejeita ambos, o que quebra bem o galho do jovem diretor Faraz Shariat, ele também alemão filho de iranianos, nascido em 1994. Com isso, ele pode melhor se dedicar aos amores de Parvis e Amon, um par de namorados gays.

Shariat se distingue da maior parte dos cineastas dedicados à homossexualidade atualmente, que deixaram de ser subversivos para ser inclusivos. Com isso, os gays do cinema são, em geral, cercados de luzes amenas, como a dizer que, olha, somos normais como vocês. Essa falsa questão ajuda a esquecer que não existe normalidade, e Shariat passa por ela alegremente.

Amon descobre a sexualidade e o amor em companhia de Parvis. Desde então surge o problema –o que fazer com Bana? Além da possibilidade de ser deportada resta a ela o amor incondicional pelo irmão. Mas o filme não sabe muito bem o que fazer dela. Dedica mais atenção aos dois rapazes, à pegação e à "beijação" habituais nos filmes gays.

A lei do gênero se cumpre, mas admitamos que não vem em favor do filme aquele monte de planos fechados de dois caras se beijando. De todo modo, Shariat contorna ao menos parcialmente o problema, já que evita aquela coisa enjoativa de filmes que seriam não mais que sessões da tarde se tirassem deles as relações sexuais.

Quanto a Bana, além de parecer fartamente assexuada, a ela devemos alguns bons momentos do filme, como aquela panorâmica de 360 graus que reúne um círculo de moças (todas com ar ora africano, ora asiático), prestes a ser deportadas.

Shariat também resolve com leveza todos os dramas conexos, como o de Parvis ser um estrangeiro, embora alemão nato. Ou então qual será o tamanho da dor de Amon com a extradição da irmã? Como ficará a própria Bana?

Se não cede aos sentimentalismos, o que é bom, Shariat o faz praticamente fingindo que os problemas citados não existem.

É uma maneira de sobreviver, seja para os personagens, seja para um cineasta também filho de iranianos exilados, que não se sente de lugar nenhum. Alguém às voltas com sentimentos bastante confusos em relação a quase tudo (com exceção da sexualidade) e que ainda busca dar a eles uma forma mais firme.

Daí um filme cheio de altos e baixos, mas não desprovido de talento, como "Sem Ressentimentos".

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