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Amanda Gorman, poeta que declamou na posse de Biden, quer escrever romances

Autora busca investir no gênero que é seu amor original e acredita que fantasias para jovens adultos são subestimadas

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Nova York | The New York Times

"Escrever romances foi meu amor original, e ainda espero fazê-lo", diz Amanda Gorman, cuja nova coletânea poética, "Call Us What We Carry", inclui o poema que ela declamou na posse do presidente Biden. "É só porque geralmente consigo terminar de escrever um poema em menos tempo que um livro narrativo inteiro."

A poeta Amanda Gorman declama uma obra sua durante a posse do presidente americano Joe Biden - Kevin Lamarque/Reuters - 20.jan.2021

Que livros estão sobre seu criado-mudo? "Alexander Hamilton", de Ron Chernow, e "Otelo", de Shakespeare. Sou capaz de ler esses dois toda noite.

Qual é o último grande livro que você leu? "Postcolonial Love Poem", de Natalie Diaz.

Quem são seus escritores favoritos em atividade hoje –romancistas, ensaístas, críticos, memorialistas, poetas? São tantos! Alguns deles: Ocean Vuong, Clint Smith, Madeline Miller, Tracy K. Smith, Jeremy O. Harris e Roxane Gay.

Descreva sua experiência de leitura ideal (quando, onde, o quê, como). Uma lareira está crepitando ao lado, tenho um chá quente nas mãos, um cobertor sobre meu colo e um livro grosso e muito querido nas mãos.

Quando você começou a ler poesia? Que livros a levaram a apaixonar-se pela poesia? Na realidade comecei a escrever poesia antes de começar a ler, principalmente porque na época poesia não era uma coisa ensinada muito solidamente nas minhas salas de aula. Quando cheguei ao ensino médio, mais ou menos, uma mentora de redação me apresentou aos escritos de Sonia Sanchez e me deu um livro dos novos poemas seletos dela, "Shake Loose My Skin". Me apaixonei pela poesia dela e passei a reler todos os dias. Depois disso consegui um exemplar de "Angles of Ascent: A Norton Anthology of African American Poetry" e simplesmente senti "esta é a minha gente".

Houve um livro de poesia ou um poeta em particular que a inspiraram a escrever? Não são poemas, mas eu diria que "O Olho Mais Azul", de Toni Morrison, e "Licor de Dente-de-Leão", de Ray Bradbury, realmente deram o pontapé inicial no meu interesse em escrever como ofício. Quando eu era leitora jovem e me deparei com esses livros, senti uma vontade profunda de entender como esses autores tinham chegado a essas histórias.

Que poetas continuam a inspirá-la em seu trabalho? Isso é como me perguntar sobre o ar que eu respiro. Alguns apenas entre eles são Gwendolyn Brooks, Lucille Clifton, Federico García Lorca, Rainer Maria Rilke, Octavia E. Butler e Maya Angelou.

Existem poetas que você passou a apreciar mais com o passar do tempo? Shakespeare, de cara, algo que pode parecer um pouco elementar, dado que ele ocupa um lugar tão central na literatura. Mas por muito, muito tempo encarei Shakespeare com ambivalência ou mesmo dúvida, por essa mesma razão. Ele simplesmente me parecia mais um sujeito branco morto e antigo que meus professores tentavam me empurrar goela abaixo, sendo que eu estava louca para ler alguém que se parecesse comigo. Quando estava na faculdade, houve um momento em que pensei: "Se você vai se fechar para um autor, pelo menos leia-o para entender o porquê". Eu devia isso a mim mesma e à literatura. Então me obriguei a fazer um curso intitulado "Shakespeare Global", dado pela doutora Leah Whittington, e me apaixonei. Acho que o que me fez enxergá-lo com novos olhos foi o fato de finalmente poder ler Shakespeare através de uma ótica global, racial e de gênero.

Se você fosse escrever algo além da poesia, o que seria? Romances. Escrever romances foi meu amor original, e ainda espero fazê-lo. É apenas que geralmente consigo terminar de escrever um poema em menos tempo que um livro narrativo inteiro.

Quais são os livros para os quais você retorna sempre? Todos. Se leio uma coisa uma vez, tendo a relê-la pelo menos três vezes. Há alguns livros que releio pelo que podem me ensinar em matéria de como escrever. Por exemplo, "American Sonnets for My Past and Future Assassin", de Terrance Hayes, é uma master class do gênero. Releio "Wade in the Water", de Tracy K. Smith, quando preciso de uma aula de como estruturar poemas na página. E releio "The World’s Wife", de Carol Ann Duffy, quando preciso penetrar na mente poética de uma personagem que foi silenciada.

Que gêneros você gosta especialmente de ler? E quais você evita? Adoro um pouco de fantasia. Construção de mundos? Quero, sim! Sou muito medrosa para ler horror, mas tive surpresas agradáveis com thrillers como "My Sister, the Serial Killer", de Oyinkan Braithwaite.

Você vê algum gênero de livro como um "guilty pleasure"? (algo que você tem prazer em fazer, mas do qual se envergonha um pouco porque talvez não seja muito bem-visto). Na verdade, não. Talvez romances para o público jovem adulto, se bem que, para mim, eles sejam mais subestimados do que propriamente um "prazer com culpa". Adoro romances para essa faixa etária. Mas é uma pena que por muito tempo eles não foram encarados como grandes obras de literatura, algo que podem ser e são. Acho que vemos isso com obras como "O Ódio que Você Semeia", "The Giver", etc.

Qual foi o último livro que você leu que te fez rir? Morro de rir sempre que leio a série "Percy Jackson".

E o último que te fez chorar? "A Promise to Remember: The Names Project Book of Letters."

O último livro que te deixou furiosa? "Zong!", de M. NourbeSe Philip.

Como você organiza seus livros? Por gênero. E depois, dentro de cada gênero, pela cor da capa. E então por alguma ilógica esporádica que ninguém mais entenderia.

Que livros poderíamos nos surpreender ao encontrar em sua estante? "The Complete Guide to Watercolor" — ou guia completo para usar aquarelas—, "The Complete Idiot’s Guide to Journalism". Reli esse livro muitas vezes na adolescência, quando estava tentando imaginar como faria para pagar as contas sendo escritora.

Qual é a coisa mais interessante que você aprendeu recentemente graças a um livro? Quando você desenha, a borda de uma sombra que está mais próxima da fonte primária de luz geralmente é a que recebe menos luz refletida, por isso essa área na realidade tende a ser a mais escura.

Quem é seu herói ou heroína favorito de ficção? Hermione Granger.

Os livros cumprem uma função moral, a seu ver? Como? Sim. Mesmo que a gente não parta com a intenção de dotá-los de uma função moral, eles têm um impacto moral. Por exemplo, geralmente pensamos na leitura como algo que promove principalmente a capacidade acadêmica. Mas sabemos que ela também promove a inteligência emocional das crianças. Os livros têm o poder de transformar como enxergamos a nós mesmos e aos outros. Aproveitar esse potencial é uma escolha nossa.

Você vai promover um jantar literário. Quais três escritores, vivos ou mortos, você convida? Shakespeare, Phillis Wheatley, Lin-Manuel Miranda.

Que livros você tem vergonha de ainda não ter lido? A série "As Crônicas de Gelo e Fogo".

Qual é a próxima coisa que você pretende ler? Tudo. Mas vou começar por terminar "Four Hundred Souls", editado por Ibram X. Kendi e Keisha N. Blain, e começar a ler "A Ghost in the Throat", de Doireann Ní Ghríofa.

Tradução de Clara Allain

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