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Christiane Jatahy vence Leão de Ouro da Bienal de Veneza por sua obra teatral

Dramaturga brasileira que revolucionou os palcos da Europa receberá o prêmio no Festival Internacional de Teatro

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RFI

A dramaturga e diretora Christiane Jatahy será laureada pelo conjunto de sua carreira teatral com o Leão de Ouro da Bienal de Veneza. O prêmio é resultado de décadas de trabalho que aliam o olhar poético ao político. O anúncio foi feito na manhã desta segunda-feira. O prêmio será entregue na 50ª edição do Festival Internacional de Teatro, que acontece em junho.

A carioca nascida em 1968 é considerada uma das figuras mais originais da onda de artistas que atravessaram o Atlântico para revolucionar a cena teatral europeia nos últimos anos.

Dramaturga Christiane Jatahy no teatro Comédie Française, em Paris - Eric Feferberg/AFP

"Uma observadora impiedosa e aguda da violenta crueldade de nosso mundo", definem Stefano Ricci e Gianni Forte, diretores da Bienal de Teatro que propuseram o nome da brasileira, aprovado pelo Conselho de Administração da Bienal de Veneza.

Dramaturga, diretora e cineasta, Jatahy tem uma longa trajetória de criação nos interstícios de diferentes linguagens. Em 2005, escreveu e dirigiu "A Falta que nos Move". A partir de 2008 a peça foi transformada em um longa-metragem de 13 horas contínuas de filmagem, sem cortes, gravado com três câmeras na mão. Entre as suas apresentações nacionais e internacionais, uma sessão simultânea de 13 horas foi realizada no Rio de Janeiro, em Lisboa e em Paris.

A partir daí, aprofundou suas relações com a Europa e passou a trabalhar em diversos projetos associados no continente europeu. Em Londres, criou e dirigiu o projeto "In the Comfort of your Home", uma videoinstalação com a performance de 30 artistas brasileiros.

Na sequência, ela se dedicou a uma trilogia que passou pelos grandes festivais brasileiros e europeus. Adaptou a peça "Senhorita Júlia", de Strindberg, em uma mistura de cinema e teatro vivo. "Julia" recebeu o prêmio Shell de melhor direção em 2011. Em 2014, foi a vez de adaptar "As Três Irmãs", de Tchékov na peça "E se Elas Fossem para Moscou?". O trabalho foi agraciado novamente com prêmio Shell. Fechando a trilogia, criou "A Floresta que Anda", uma livre adaptação de Macbeth, de Shakespeare, misturando videoinstalação, performance e cinema.

Em 2017, foi a primeira brasileira a dirigir uma peça na conceituada Comédie-Française, de Paris. Ela apresentou "A Regra do Jogo", uma versão do filme de Jean Renoir de 1939.

No ano seguinte, começou a desenvolver a "Nossa Odisseia", a partir da obra de Homero. Nesta obra, mais uma vez, trabalhou com uma aproximação entre passado e presente, entre diferentes dramas existentes no mundo. "Os Ulisses e as Penélopes somos todos nós em busca de nossos desejos", disse ela em entrevista à RFI, em 2019.

Para esta obra, desmembrada em "Ítaca" e "O Agora que Demora", Jatahy foi ao encontro dos "Ulisses reais", ou seja, os migrantes, os exilados, os que são injustiçados. Ela filmou testemunhos na Palestina, no Líbano, na África do Sul, terminando a sua Odisseia junto aos índios kaiapó na Amazônia, usados em sua criação teatral.

Em março, a carioca, que é artista associada do Théâtre Ódeon, estreia em Paris a sua mais nova produção "Entre Chien et Loup". Uma peça inspirada no filme "Dogville" que leva ao palco uma reflexão sobre a capacidade dos seres humanos de aceitar as diferenças diante de um contexto de extremismos.

A cerimônia de premiação acontecerá durante o 50º Festival Internacional de Teatro, que acontece de 24 de junho a 3 de julho deste ano em Veneza.

O Leão de Prata pela carreira será concedido à performer e documentarista Samira Elagoz.

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