Críticas a 'fora, Bolsonaro' em clube no Rio provocam indignação nas redes

Após apagar nota que condenava manifestações políticas, Renascença apagou postagem e diz defender a democracia

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São Paulo

Uma nota de repúdio contra os gritos de "fora, Bolsonaro" que ecoaram durante eventos no Renascença, um dos mais importantes clubes de samba do Rio de Janeiro, publicada na terça (25) —e apagada horas depois— provocou ruídos e dúvidas sobre o posicionamento da gestão do espaço.

Clube Renascença durante uma festa do 'Samba do Trabalhador', em 2005, no Rio de Janeiro - Alexandre Campbell/Folhapress

Assinado pelo presidente do Renascença, Alexandre Luiz Xavier Alves, um comunicado publicado nas redes sociais da entidade se dizia contra manifestações políticas nas dependências do clube. Essa nota foi vista como um endosso às reclamações de frequentadores que, também pelas redes, condenaram as manifestações contra o presidente da República no espaço.

A nota dizia que, segundo o estatuto do clube, não é permitido "promover em suas dependências qualquer manifestação de caráter político-partidário" e que "nenhum associado poderá usar ou envolver o nome do clube em campanha de caráter político-partidário". Após ser criticada por usuários, a nota foi retirada do ar.

Nesta quarta-feira (26), o clube publicou um novo comunicado, no qual trouxe outra visão sobre o ocorrido. "Por sua própria história de luta pela resistência, o Renascença Clube não é contra manifestações políticas e jamais cercearia a liberdade de expressão de quem quer que seja. O clube é apartidário, mas apoia o direito à democracia", afirma o texto.

Em resposta ao episódio, os integrantes do Samba do Trabalhador —roda de samba com apresentações tradicionais no espaço— também se manifestaram nas redes apontando que "o samba, em sua essência, sempre foi um ato de resistência, um lugar onde aqueles que nunca tiveram voz passaram a poder se expressar através da arte".

"Por aqui, seremos sempre apreciadores incansáveis da liberdade da expressão e contra qualquer tipo de censura", conclui a nota. Antes, Moacyr Luz, do grupo, afirmou ao jornal O Globo que não queria acreditar que alguém "do clube como o Renascença tenha um pensamento dessa ordem, preconceituoso e fascista". "Deve ter sido falha de comunicação. Melhoraram uma situação desagradável."

Em entrevista, Alexandre Alves afirma que, embora a nota tenha sua assinatura, a primeira publicação foi um mal-entendido. "[No momento da postagem], eu estava ajudando a distribuir quentinha dentro do clube. Aquela nota foi feita por um advogado e estava guardada", disse. Segundo o presidente, o erro foi de uma funcionária, que se antecipou e postou o comunicado antes que ele passasse por uma análise e revisão para então ser encaminhada aos sócios —e não ao público.

Alves reitera sua desaprovação à primeira postagem e diz que está avaliando se foi um ato proposital. "Eu estava querendo dizer que, como gestor, eu não posso me posicionar dessa forma porque o estatuto não permite. Mas o público pode." "Meu partido é o negro", conclui ele.

Fundado em 17 de fevereiro de 1951, o Renascença foi criado por sambistas negros que, discriminados em rodas de samba tradicionais do Rio de Janeiro, decidiram criar seu próprio espaço. Nascido no Méier e atualmente alocado no bairro de Andaraí, o clube é considerado um núcleo das tradições afro-descendentes e do samba de raiz.

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