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Entenda como o 'BBB' impulsiona os famosos, mesmo os já cancelados

Artistas como Karol Conká, Rodolffo, Projota, Viih Tube, Manu Gavassi e Carla Diaz viram suas cifras subirem com o reality

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Ribeirão Preto

Se participar do "Big Brother Brasil" antes rendia, quando muito, convites para festas com cachês mínimos e o espaço menos nobre das colunas de fofoca, com as redes sociais a história mudou, principalmente para as celebridades. Embora às vezes saiam canceladas, elas têm suas carreiras alavancadas pelo programa. É que a crise de imagem, aquela que rende até ameaças de morte, não costuma prejudicar o bolso de ninguém.

A maioria dos famosos que participaram do "BBB" desde o ano retrasado, quando Boninho passou a convidá-los, ganharam milhões de seguidores nas redes sociais, o que rende ações publicitárias tão lucrativas quanto um trabalho na TV. Mesmo entre os poucos que viram os números caírem, caso de Karol Conká, eliminada com 99,17% de rejeição, o prejuízo tem sido contornável a longo prazo.

O sertanejo Rodolffo, da dupla com Israel, sabe bem disso. Mesmo acusado de homofobia e racismo, ele viu sua quantidade de seguidores no Instagram crescer de 1,3 milhão para 5,1 milhões. O cachê de seus shows também triplicou, impulsionado pelo sucesso "Batom de Cereja", que viralizou no programa e se tornou a música mais ouvida do ano no Spotify, além da quinta mais tocada nas rádios, de acordo com a Crowley, que registra as cifras do setor.

Foi uma mistura de planejamento e sorte, diz Rodrigo Byça, o empresário da dupla. Já era planejado lançar o single na primeira semana do programa, para que Rodolffo aproveitasse o espaço na Globo para promovê-lo. Quando virou líder, ele pediu que tocassem a música na próxima festa.

O pedido foi atendido, mas quem a fez viralizar foram dois brothers que nem sequer eram seus aliados, João e Camilla de Lucas. Despretensiosamente, a dupla criou uma coreografia que foi reproduzida pelos outros participantes e, do lado de fora da casa, por milhões de usuários do TikTok, a rede social que atingiu seu ápice na pandemia com vídeos curtos de dancinhas e desafios.

É a prova de que as festas são ótimas oportunidades para se promover. Na edição retrasada, toda vez em que Manu Gavassi dançava "Don't Start Now", da britânica Dua Lipa, a música chegava ao topo das paradas brasileiras.

Gavassi é um dos maiores casos de sucesso entre as celebridades que participaram do "BBB". Ela tinha recusado o convite de Boninho, mas voltou atrás quando seu empresário, Felipe Simas, a convenceu de que era sua chance de mostrar ao Brasil o rosto por trás dos hits teen lançados na década passada.

Ela, então, gravou 130 vídeos para publicar enquanto estivesse na casa. Os temas variavam de sororidade, palavra cuja busca no Google aumentou em 250% à época, a cartas abertas a Selton Mello e a Sandy, que as responderam. Ela ainda criou uma agenda para garantir que a paleta de cores dos looks que usava nos vídeos era a mesma que estivesse usando no "BBB".

Com a estratégia cartesiana, a sister foi à final do jogo, triplicou sua quantidade de seguidores no Instagram e chegou à quarta posição do ranking da Billboard que mede o engajamento de artistas nas redes sociais mundo afora, quebrando o recorde brasileiro, que pertencia à Anitta. Ela ainda foi convidada pela Netflix para um seriado —"Maldivas", que estreia neste ano— e viu as portas do Mickey se abrirem para lançar um álbum visual no Disney+ —"Gracinha", que saiu em novembro.

Os brothers que tentaram seguir os passos ensaiados de Gavassi, no entanto, acabaram virando piada ao trazer discussões sobre temas como feminismo para a edição seguinte do programa.

Fiuk foi um deles. Pedia desculpa por ser homem, dizia que era um opressor nato, usava a língua não binária para dizer que maquiagem era para "todes", mas não caiu no gosto do público, que considerava sua militância forçada.

Na música, o programa não rendeu tantos frutos. Ele lançou um single antes e outro depois de sair da casa, mas não conseguiu emplacar nenhum. No entanto, no Instagram, ganhou cerca de 3 milhões de seguidores e conquistou contratos publicitários.

Outra prova de que a militância não é sinônimo de sucesso no "BBB" é a influenciadora Bianca Andrade, a Boca Rosa. Embora seu discurso tenha mudado depois do programa, antes ela perguntava, em tom de deboche, se a turma feminista pensava que estava num filme ao criticar o machismo de outros participantes.

O comentário fez com que fosse cancelada, mas as vendas de sua marca de maquiagem triplicaram. É que ela chorava muito e, mesmo entre tantas lágrimas, sua make não borrava, o que virou meme na internet.

Trajetória parecida foi a de Viih Tube. Como Gavassi, a youtuber gravou cerca de cem vídeos para publicar enquanto estivesse confinada, mas nada a impediu de ser cancelada por ser estrategista demais. Saiu com 96,69% de rejeição, uma das maiores do programa, mas monetizou o cancelamento e lançou um livro para relatar a experiência, chamado "Cancelada".

"O 'BBB' foi onde cicatrizei o trauma do cancelamento que tinha desde novinha. Comecei com medo de abrir a boca, mas depois me soltei. E deu certo. Saí com uma agenda gigante de publicidade. Tudo que me zoaram lá dentro —como eu ter ficado sem tomar banho ou ter jogado demais— aqui fora virou dinheiro", diz.

Não são todos, porém, que lidam assim com o cancelamento. Projota diz que tinha medo de sair na rua depois do programa, época em que sua família chegou a ser ameaçada de morte na internet. "A gente chegou no limite. Se não tivesse minha mulher e minha filha, não sei o que teria acontecido", diz o rapper, ao lembrar que, anos antes do "BBB", pensou em se suicidar enquanto enfrentava uma depressão.

"Ninguém ainda tirou a própria vida por causa do cancelamento. Parece que estão esperando isso acontecer para parar com isso", acrescenta.

Ele, porém, também transformou em publicidade parte do que tinha rendido seu cancelamento. Intolerante a lactose, ele não comia pratos como estrogonofe. A internet não perdoou, mas a Skol o convidou para brincar com seu paladar numa ação publicitária.

A participação no reality rendeu 900 mil seguidores no Instagram, mas sua expectativa era mais alta. "Não perdi nada, mas não cresci como queria, o que já é uma baita perda, porque fiquei dois meses longe da minha família e, quando saí, pouca coisa tinha mudado", diz o rapper, que acaba de lançar seu quinto álbum de estúdio, "A Saída Está Dentro", com composições em que reflete sobre sua passagem pelo "BBB".

Acusada de violência psicológica pelos espectadores e pelos brothers, Karol Conká foi a única que viu os números despencarem. Perdeu 400 mil seguidores no Instagram e contratos para se apresentar em festivais de música Brasil afora.

Um ano depois, no entanto, ela não só recuperou a perda na rede social como conquistou mais 100 mil seguidores. A rapper também ganhou uma série documental no Globoplay sobre sua participação no "BBB", manteve o programa que apresentava no GNT e se prepara para lançar um álbum em fevereiro.

A recuperação não demorou. Um mês após o fim do "BBB", Conká emplacou "Dilúvio", single em que reflete sobre seu cancelamento, entre as 50 canções mais ouvidas do país em todas as plataformas de streaming.

Mas o trauma, ela diz, não foi leve. "Desenvolvi síndrome do pânico e fiquei seis meses sem sair de casa", lembra. "O medo que senti não foi de perder minha carreira, mas minha sanidade. Eu tive medo de não querer mais viver. A vontade de desistir chegou. Graças a Deus e às terapias, não sucumbi. Mas cheguei perto."

É para evitar isso que algumas celebridades recorrem a coaches de influenciadores como preparação para o "BBB". São, normalmente, as que se saem melhor. Vice-campeã em 2020, Rafa Kalimann foi uma delas. Carla Diaz, que ganhou 5 milhões de seguidores durante o programa, também contratou o serviço.

Se antes Diaz era conhecida como ex-criança prodígio por papéis em novelas como "Chiquititas", hoje sua principal fonte de renda não vem da TV, mas de suas redes sociais, vitrines de produtos que vão de cápsulas de café a lubrificantes íntimos.

Era o objetivo da atriz, diz Gis de Oliveira, jornalista com especialização em relações públicas que trabalha desde 2002 preparando os brothers. Embora não detalhe a preparação da atriz "por motivos éticos", Oliveira diz que o trabalho é dividido entre corpo e mente, recorrendo a personal trainers, estilistas, psicólogos e terapeutas.

Faz parte da preparação fazer o famoso reviver traumas e encontrar pontos fracos para antecipar os conflitos que vão surgir no programa. "Enquanto um anônimo pode pular do trampolim mais alto, por não ter nada a perder, uma celebridade precisa ter cuidado com o que já conquistou", Oliveira afirma.

Ocorre que, enquanto uns têm até seis meses para se preparar, outros têm poucas semanas. Convidada 20 dias antes do confinamento, Pocah aprendeu até linguagem corporal, mas não foi suficiente para evitar rusgas com outros participantes. "Jogaram baixíssimo para me atingir e atacaram muito minha filha. São mensagens que eu nunca gostaria de ter visto", diz ela.

Ainda assim, a cantora conquistou 2 milhões de seguidores no Instagram e triplicou seu número de reproduções no streaming. Agora, ela se prepara para lançar nos próximos meses seu primeiro álbum. "Independentemente de ser ruim, hate é stream", diz seu empresário, Marco Salomão. "Significa que tem gente ouvindo, vendo, fazendo crescer."

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