Descrição de chapéu Artes Cênicas

Marieta Severo e Andréa Beltrão dizem, sem hesitar, que votarão em Lula

Fundadoras do teatro Poeira, que celebra 15 anos agora, afirmam que o ambiente político afeta pessoalmente os artistas

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Rio de Janeiro

Comemorando os 15 anos do Poeira, teatro que elas fundaram em Botafogo, no Rio de Janeiro, e um dos espaços cênicos mais queridos dos cariocas, as atrizes e sócias Marieta Severo e Andréa Beltrão demonstraram preocupação com os rumos da política nacional em entrevista à Folha.

O teatro foi um dos muitos afetados pelos cortes de patrocínio da Petrobras em 2019. A realização dos projetos, que promoviam cursos de teatrólogos renomados do Brasil e do exterior, ficou então ainda mais difícil, segundo a dupla.

Na época do ocorrido, redes bolsonaristas comemoraram o suposto "fim da mamata". Severo, aos 75 anos, diz que comentários do tipo não são motivados só por ignorância. "É má intenção. Conseguiram colar essa pecha na gente. A mamata deles continuou. Só não é desvendada porque eles se protegem."

Marieta Severo e Andréa Beltrão: leia a entrevista completa

"Fizemos todo o Poeira com o nosso dinheiro. Mas não temos nenhum problema com a Lei Rouanet, a gente só tem a favor. Todos os países do mundo têm incentivo fiscal para a indústria cultural, que rende milhões e emprega milhões", afirma Severo.

"Essa secretaria de Cultura que está aí não entende nada", prossegue ela. As atrizes declaram voto em Lula nas eleições de outubro sem pestanejar.

Além do investimento das proprietárias, a bilheteria das peças consegue igualar o custo de manutenção do Poeira, mas segundo Beltrão e Severo raramente há lucro. Pouco antes da pandemia, as sócias bancaram novas oficinas. Agora, terão patrocínio do banco Itaú para os projetos pedagógicos, que em outros tempos chegaram a receber José Sanchis Sinisterra, expoente do teatro espanhol, e a diretora francesa Ariane Mnouchkine, fundadora do Théâtre du Soleil.

Comandar o Poeira em meio à chamada "guerra cultural" é um fardo. Para elas, o ambiente político afeta pessoalmente os artistas, desestimulando qualquer criatividade. "Nunca se falou tanto na palavra ‘democracia’, por quê? Porque ela está sendo ameaçada todo santo dia. Temos que relembrar todo dia o que é a democracia, vendo as instituições ruindo por dentro. Esse ano é o ano de berrar, gritar, tentar convencer, tentar ver quem são esses 20% da população. Qual a alma de vocês para apoiar isso? Eu tenho medo", diz Severo.

Beltrão, por sua vez, confessa não ter se desgrudado da tevê durante as sessões da CPI da Covid, mesmo sem fôlego para a enxurrada de notícias –muitas vezes falsas– vindas do mundo político.

A derrocada econômica do Rio de Janeiro é outro fator delicado para a gestão do Poeira. Com a falta de patrocínio para peças, elas assistem ao naufrágio das salas de teatro da cidade, cujo mapa revela um ambiente cada vez mais conservador, dominado por milícias e igrejas neopentecostais.

"Witzel, Crivella, Cláudio Castro são tão nocivos e insignificantes ao mesmo tempo. Agora, não tenho mais essa questão de ‘se é religioso é careta’. Chega um momento em que uma ausência total do Estado em relação aos direitos dos habitantes da cidade abre um espaço que precisa ser ocupado", comenta Beltrão.

Ir para outra cidade, porém, é carta fora do baralho para a atriz. "Eu amo esse bagulho todo", diz. Deixar o país também está descartado. "Ficam falando ‘ai, se o Bolsonaro for reeleito, eu vou embora’. Eu fico olhando assim para a pessoa e digo ‘boa viagem’."

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