Descrição de chapéu

Neil Young, cada vez mais Chico Bento, lança melhor disco em anos

Em 'Barn', artista resgata as principais marcas do country rock, enrolando a letra 'r' e gravando num celeiro do século 19

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Barn

  • Onde Disponível nas plataformas de streaming
  • Autor Neil Young & Crazy Horse
  • Gravadora Warner Music

Melhor disco de Neil Young na última década, "Barn" recoloca o artista na tradição das baladas rurais alternadas com country rock que o marcam desde os anos 1970. "Harvest", ou colheita, de 1972, é o padrão que os fãs buscam disco após disco, e um disco chamado "Barn", ou celeiro, claramente tem a intenção de se inscrever como uma continuação daquele que elevou Young ao estrelato há 50 anos.

O celeiro, afinal, é de verdade. Foi numa construção dessas, de toras de madeira, do século 19, restaurada e agora recheada de equipamentos musicais, que Young e sua banda Crazy Horse gravaram as dez canções nas montanhas do Colorado. É o 41º disco de Neil Young e o 14º gravado com a Crazy Horse.

Incorporando toda essa atmosfera, Young aparece mais caipira do que nunca, enrolando de forma impressionante o ‘r’ de palavras como "hair", "burn" ou "together" como se fosse um Chico Bento de 76 anos. Fosse em português, ele diria "porrrta".

Neil Young (à dir.) e os músicos do Crazy Horse na porta do celeiro em que gravaram "Barn" - Divulgação

A abertura do disco, que ganhou clipe, é a delicada "Song of the Seasons", uma séria candidata a figurar entre seus clássicos de gaita, como "Out on the Weekend" e "Heart of Gold", ambos de "Harvest". Além da gaita, uma sanfona acompanha a música, com uma pegada que lembra "Harvest Moon", a canção preferida dos apaixonados, lançada em 1992.

O disco segue com "Heading West", típica canção pauleira dos Crazy Horse. Com a base de Ralph Molina na percussão, Billy Talbot no baixo e o multi-instrumentista Nils Lofgren, Young traz reminiscências de quando era um garotinho e brincava nos trilhos de trem. "Good Old Days", ou bons e velhos dias, diz o refrão.

Imagem de capa do disco "Barn", de Neil Young & Crazy Horse, lançado em dezembro de 2021 - Divulgação

Enquanto "Change Ain’t Never Come" é baseada em um riff de gaita, há maior ambição em "Canerican". Trata-se de uma velha sensação cara a Young, de pertencimento ou não pertencimento aos EUA, já que ele nasceu no Canadá e chegou a Los Angeles por volta dos 20 anos.

Ele nunca se furtou a chamar os EUA de seu país, divulgando inclusive preferências políticas e combatendo a destruição ambiental do país. "Eu sou americano, americano é o que eu sou. Nasci no Canadá, vim pro sul para montar uma banda. Eu sou ‘canericano’, ‘canericano’ é o que eu sou", canta.

Em 2017, ele já havia tocado no assunto na canção "Already Great" (em contraposição ao slogan Make America Great Again, de Donald Trump): "Eu sou canadense, por falar nisso/ E eu amo os EUA", cantava.

homem com gaita e violão em rancho
O cantor e compositor Neil Young em seu rancho - Reprodução

O disco segue alternando porradas e lentas, como Young já havia feito em "Rust Never Sleeps", de 1978, só que daquela vez eram lentas no lado A e porradas no lado B. Em "Barn", elas vão se misturando, como ovelhas brancas e pretas, tocadas com precisão pelo pastor Chico Bento.

Como vem fazendo há muito tempo, Young e o Crazy Horse gravaram "Barn" ao vivo, com todos tocando ao mesmo tempo, e não da forma feita em estúdios, quando o primeiro grava sua parte, o segundo toca por cima, depois o terceiro e aí por diante, facilitando a percepção de possíveis erros e corrigindo-os.

Com Young, se algum erro aparecer, ele faz parte do clima geral da coisa e merece ficar no disco. Em "Barn", apenas os backing vocals foram adicionados mais tarde.

O processo, como nas últimas vezes, foi capturado em vídeo pela mulher de Young, a atriz Daryl Hannah. Ela lança o filme "Barn" em uma edição deluxe do álbum, que não chega ao Brasil.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.