Descrição de chapéu Moda tiktok

Saiba o que é old money, visual aristocrático que faz sucesso no TikTok

Jovens da geração Z se passam por milionários de berço em vídeos virais e repaginam estética para o hoje

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São Paulo

O dinheiro fala, mas a riqueza sussurra. É o que difere a ostentação da elegância e exemplifica o contraste entre o novo rico e velho rico. Ganhar na loteria pode até proporcionar privilégios de uma carteira cheia, mas nunca oferecerá a experiência de nascer num berço de ouro.

Essas são as regras da estética old money, que desde o ano passado é uma das queridinhas no TikTok. Ao acessar à rede, é possível que o algoritmo lhe faça ver imagens de mansões antigas, com arquitetura georgiana, country clubs, joias de ouro branco reluzente, vastos campos de vegetação florida e roupas de tons suaves e fibras naturais.

​Old money, que em inglês significa dinheiro antigo, é uma referência a quem já nasceu com a conta bancária abastada a ponto de não se preocupar em ascender na vida. Passando de geração para geração, a moeda vai envelhecendo e, sem perder o valor, resulta em heranças bem acumuladas.

Apesar da estética ser sucesso no TikTok, ela não é exatamente nova —desde o século 19, é tática comum para diferenciar quem herda a grana daqueles que viraram ricos.

Agora, porém, há um aceno ao "preppy" —visual comum em colégios internos americanos e britânicos—, com vestes como gola alta, estampas de xadrez, coletes, saias plissadas, blazers e casacos trench. Ou seja, algo como os figurinos das séries "Gossip Girl" e "Elite" somados à estética de "Bridgerton" e "The Crown".

O que chama atenção é que grande parte das pessoas que viralizam com esses vídeos enaltecem uma realidade que é distante da própria vida delas.

"A geração Z vê o old money como um escapismo que revela um sonho de vida, dos prazeres, do dinheiro e, acima de tudo, de uma segurança financeira obtida sem esforços", diz Lara Almeida, autora
do livro "Psicologia Fashion".

A psicóloga explica que esses jovens não herdeiros que são admiradores do old money usam o lado lúdico das redes para seus vídeos, o que até pode proporcionar a eles leveza e autoestima, mas
é também capaz de reforçar inseguranças e frustrações.

"O old money diz respeito a pertencer a um grupo pequeno, privilegiado e elitizado. É estar num pedestal. Mas tudo isso é um jogo de poder pesado e complexo", diz Almeida.

Ao criar códigos de vestuário, a moda distingue as classes sociais. O luxo que o old money exalta é atribuído à discrição, a cores sóbrias, tecidos limpos, modelagens casuais e alfaiataria. Do lado oposto, está o exagero, o chamativo, o brilhoso e o ultracolorido.

A principal oposição ao old money da era atual é o Y2K, que dominou os anos 2000 e voltou recentemente numa onda retrô, com suas cores-chiclete, jeans, acessórios infantis e brilho carregado do visual dopamina.

Ambos os movimentos são sucesso entre a geração Z, mas só um vem sendo criticado. Por fazer tantas referências ao dinheiro herdado, o old money está imerso em valores cultivados por elites, dinastias e aristocracias brancas de boa parte da Europa e dos Estados Unidos, o que faz dele um alvo de vários críticos.

Para muitos, a popularização dessa estética nada mais é do que uma romantização de racismo, desigualdade social e colonialismo.

No TikTok, uma jovem que usa o perfil @deadhollywood viralizou ao dizer que o old money é entediante por representar a ausência de negritude e de extravagância. Para ela, é "o auge da moda supremacista branca", que se debruça sobre "magreza e elegância".

Mas a distinção entre os herdeiros e os novos ricos é um assunto que há tempos gera debates. Exemplo disso é "O Grande Gatsby", clássico de F. Scott Fitzgerald, publicado em 1925.

Na história, o pomposo Jay Gatsby é conhecido por dar festanças em seu casarão, regadas a álcool e extravagâncias. Em contraste com ele, há a milionária família dos Buchanan, que leva uma vida mais discreta do que a sua e mora numa mansão de visual colonial georgiano, envolta por ar fresco, jardins floridos, vistosas vidreiras, lustres cintilantes e amplos cômodos.

"[Os personagens] Tom e Daisy Buchanan usam figurinos que prezam pela elegância clássica, com tons neutros e tecidos de qualidade, de cortes e modelagens impecáveis. A estética old money traz sofisticação e nobreza sem a necessidade de ostentar marcas", diz a designer Taynah Pontes, que analisou o figurino da obra de Fitzgerald, num artigo acadêmico.

Mulher jovem loira usa um felpudo casaco lilás, joias de pérola lilás e uma tiara de prata
Carey Mulligan no papel de Daisy Buchanan, em 'O Grande Gatsby', de Baz Luhrmann - Imdb

"O Gatsby, apesar de ter se tornado muito rico, não tem a origem rica e isso é refletido em suas roupas, que não carregam a mesma estética dos Buchanan e, inclusive, são criticadas por Tom."

Criticado ou enaltecido, o visual tem atraído grande interesse. Só no Brasil, no ano passado, as buscas por "old money" na rede social de imagens Pinterest aumentaram em 3200% em relação ao ano anterior.

Professora e historiadora de moda, Maíra Zimmermann explica que a chegada do TikTok é crucial na recém-popularização do old money. Isso porque, segundo ela, a rede oferece uma fácil construção de narrativas virtuais fantasiosas.

"É como brincar de ser príncipe ou princesa", diz a historiadora. "É inegável que o old money tem problemas, de descontextualizações históricas e branquitude. Ao mesmo tempo, existe uma questão aspiracional, de escapismo e de identidade. São várias camadas a serem analisadas."

Erramos: o texto foi alterado

O estilo arquitetônico que faz sucesso no ​TikTok é o georgiano, não gregoriano. O trecho foi corrigido.

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