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Tiffany Haddish, estrela de 'The Afterparty', se inspirou em traficantes que namorou

Interpretando uma investigadora de polícia na nova série, artista teve vida atribulada mas se diz identificada com o papel

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São Paulo

Depois de 12 anos de uma carreira marcada por pequenas participações em séries de TV, Tiffany Haddish finalmente estourou em 2017, com o filme "Viagem das Garotas". Ela conseguiu se destacar num elenco que contava com nomes bem mais conhecidos, como Queen Latifah, Regina Hall e Jada Pinkett Smith. Ganhou vários prêmios e convites e se consolidou como a grande comediante negra de sua geração.

Por isso mesmo, não deixa de ser surpreendente o fato de ela ter sido escalada para o papel da investigadora Danner, a mais centrada e racional personagem da série "The Afterparty". É Danner quem interroga cada um dos suspeitos de um assassinato, todos eles com marcados traços cômicos. Mesmo assim, a atriz traz leveza e ironia a uma figura que poderia ser aborrecida –afinal, estamos falando de Tiffany Haddish.

Comediante Tiffany Haddish em Hollywood - Michael Tullberg/AFP

"Eu conheço Gordon Miller há muito tempo", conta ela, em entrevista por videoconferência, lembrando o criador de "The Afterparty". "Ele já viu meu lado sério e inquisidor. Eu faço muitas perguntas. Quando li os roteiros, senti que Danner havia sido escrita especialmente para mim."

"A vida me preparou para este papel", ela acrescenta. "Eu venho do sul de Los Angeles, um lugar barra pesada. Já estive em diversas delegacias. Namorei policiais e traficantes. Fui detida e interrogada muitas vezes. Conheço todos os lados desse balcão."

A atriz tem, de fato, uma biografia atribuladíssima. Seu pai, um judeu vindo da Eritreia, um país do leste da África, sumiu quando ela tinha só três anos de idade. Sua mãe então se casou de novo e teve mais quatro filhos.

Esse padrasto não era flor que se cheirasse. Segundo a própria Haddish, ele admitiu ter sabotado os freios do carro da família. Seu plano era matar a todos, para ficar com os seguros de vida. Mas não deu certo –no dia do acidente, só a mãe estava no carro. Ela sobreviveu, mas com ferimentos tão graves na cabeça que a teriam deixado esquizofrênica.

Aos 12 anos de idade, Tiffany Haddish foi morar em lares provisórios, assim como seus irmãos. Os cinco só foram reunidos três anos depois, quando a avó materna os acolheu. Mas esse período difícil teve um efeito positivo sobre a futura atriz –ela testava seus dons de comediante diante de plateias formadas por suas famílias temporárias.

"Comecei a fazer teatro no colégio", conta ela. "Um pouco de tudo, até Shakespeare. Ganhei vários prêmios e percebi que gostava mais da comédia, apesar de ser mais difícil do que o drama."

Mesmo assim, não foi simples engatar uma carreira na área. Haddish passou por vários empregos diferentes e chegou a morar dentro de um carro por um tempo.

Quando tinha 27 anos —hoje está com 42—, um reencontro mudou sua vida. Tiffany Haddish conseguiu encontrar seu pai e se reaproximou dele. Quando ele morreu, 11 anos depois, ela levou suas cinzas à Eritreia e se apaixonou pela terra de seus ancestrais.

Também se converteu ao judaísmo. Todo esse processo é contado em tom de piada no especial de stand-up "Black Mitzvah", disponível na Netflix. Mesmo assim, Haddish leva sua religião a sério e acredita que a espiritualidade tem ajudado sua carreira.

"Estou sempre estudando a Torá e a Bíblia. Sou muito curiosa, quero sempre aprender. Acho que minha relação com Deus me permite criar novos relacionamentos rapidamente. Eu não conhecia Oscar Isaac, por exemplo, mas, durante as filmagens de "The Card Counter", nós nos demos muito bem." Haddish se refere ao elogiado drama que estrelou ao lado de Isaac, dirigido por Paul Schrader e exibido no último Festival de Veneza.

"Eu sou uma atriz, e posso atuar em qualquer gênero. Menos pornografia. Quer dizer, eu poderia, mas não quero. Prefiro desafios maiores", diz ela, aos risos.

No final do ano passado, Tiffany Haddish esteve novamente na Eritreia. "Nos Estados Unidos, ser rico significa ter uma casa imensa, um carro chique. Na Eritreia, ser rico significa ter muitas cabras. Muitos filhos. Muitas mulheres! Estou encantada com a beleza e a resiliência do povo de lá. Não importa quantas vezes eles sejam derrubados. Sempre se levantam e se saem vitoriosos. O lugar onde eu me sinto melhor no mundo é a aldeia do meu pai."

Pouco depois desta entrevista, Tiffany Haddish foi presa em Peachtree City, no estado americano da Geórgia, depois que o carro que dirigia entrou pelo quintal de uma casa. A polícia suspeita que ela tenha fumado maconha e adormecido ao volante. A atriz foi solta depois de pagar uma fiança de cerca de R$ 8.800.

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