'Tio Tommy' desvenda como o fundador da Newsweek foi parar no interior do Brasil

Documentário que demorou 12 anos para ser investigado mostra indícios de que britânico atuou como informante da CIA

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São Paulo

O britânico Thomas John Cardell Martyn, que fundou a revista americana Newsweek em 1933, levou muitos segredos para o túmulo. E um deles é por que raios ele está enterrado na pequena cidade de Agrolândia, de 10 mil habitantes, no interior de Santa Catarina.

Esse é o mistério revelado no documentário "Tio Tommy – O Homem que Fundou a News-week", longa de estreia de Loli Menezes, que acaba de chegar às plataformas de streaming. O título do documentário usa o nome da revista na época de sua fundação, "News-week", com hífen.

Cartaz do filme mostra foto antiga de homem de bigode
Cartaz do documentário "Tio Tommy - O Homem que Fundou a News-Week" - Divulgação

Um mistério que tomou mais de uma década de buscas, segundo conta a diretora. "Faz uns 12 anos que um amigo meu chegou na minha produtora e disse: ‘Você sabia que o fundador da Newsweek está enterrado na minha cidade? O túmulo diz 'founder of Newsweek’. Na mesma hora começamos a investigar", lembra Menezes.

Na época, ela não encontrou nada na internet sobre o personagem. O jeito, então, foi começar a investigação pelo próprio túmulo. Em um feriado, aquele amigo da diretora, o ator Malcon Bauer, vai a Agrolândia e descobre que Cardell Martyn fora casado com sua tia-avó. É seu tio Tommy.

Aos poucos, Menezes foi desvendando diversos mistérios e descobrindo facetas fascinantes de Tommy. Sua família era da Cornualha e ele batizou sua chácara em Santa Catarina de Tintagel, o castelo na região onde teria nascido o rei Arthur. Havia sido aviador na Primeira Guerra Mundial. Seu avião foi abatido pelos alemães e, do acidente, restou-lhe uma perna mecânica.

Tommy havia trabalhado na revista Time e no jornal New York Times. Havia fundado, e perdido anos depois, a Newsweek, após uma negociação de venda em que acabou excluído.

Morou na Argentina por dez anos. Depois, em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde vendeu equipamentos para o Jockey Club nos anos 1950. E foi em alguma dessas capitais que conheceu a agrolandense Mary Irmgard Stahnke, que viria a ser sua terceira esposa. Nos anos 1970, o casal foi morar em Agrolândia, onde ambos morreram, primeiro ela, e, seis anos depois, ele, em 1979.

Além do Brasil, as filmagens do documentário levaram a equipe à Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha e Argentina, onde historiadores, netos e familiares foram entrevistados, cada um fornecendo respostas ou pequenas pistas para o quebra-cabeças chamado Tommy. A edição do documentário, assinada por Marko Martinz, foi outra saga, tomando quatro anos de trabalho.

Mas um dos grandes mistérios parecia que rolava por baixo dos panos. Na página de internet de um historiador inglês, Thomas John Cardell Martyn foi apontado como um dos participantes de uma operação da CIA, a agência de inteligência americana, chamada de Mockingbird —uma suposta infiltração de agentes em órgãos da imprensa americana nos anos 1950.

"Tudo indica que Thomas tenha continuado a fornecer informações para o governo americano quando se mudou para a América do Sul", conta Menezes. Antes de se estabelecer no Brasil, Tio Tommy passou anos viajando por países da região, notadamente Argentina e Peru. Em cada documento, mudava dados, como seu próprio nome, seu local de nascimento, o nome de sua mãe etc.

"Não dá para provar que ele tenha sido um informante da CIA, mas todas as informações que levantamos estão no documentário. Deixo em aberto para que o espectador tire suas próprias conclusões", diz a diretora.

"Tio Tommy" estreou no festival É Tudo Verdade do ano passado e, além do streaming, vai passar no Canal Brasil nas próximas semanas. Ganhou ainda um prêmio na Argentina e outro no New York Movie Awards.

Tio Tommy – O Homem que Fundou a News-week

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