Além de 'Com Açúcar, com Afeto', Chico Buarque revela música que deixou de cantar

Cantor diz que 'Pelas Tabelas' ficou datada e que achou 'absurda' a reação à sua declaração sobre tirar música do repertório

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São Paulo

Depois de dizer que não canta mais a música "Com Açúcar, com Afeto" em seus shows, Chico Buarque afirmou que "Pelas Tabelas", outra de suas composições, também "ficou datada". O artista falou sobre o assunto em entrevista ao Brasil 247.

"Tem um samba que gosto muito e é uma pena não poder cantar que é o ‘Pelas Tabelas’", ele disse. "Não canto mais porque fala ‘quando vi todo mundo na rua de blusa amarela/ eu achei que era ela puxando o cordão’ ou ‘quando ouvi a cidade de noite batendo as panelas/ eu pensei que era ela voltando’. Não dá mais. Era situada na época das Diretas Já. Ou seja, todo mundo batendo panela de camisa amarela, se eu cantar hoje… [risos] Ficou datada, não é? Não quer dizer que eu renegue a música. Só não canto mais."

 Chico Buarque e Nara Leão
Chico Buarque e Nara Leão - Reprodução

Na entrevista, Chico Buarque diz que achou "absurda" a reação ao comentário de que tirou "Com Açúcar, com Afeto" do repertório, feito em episódio da série documental "O Canto Livre de Nara Leão", do Globoplay. "Não imaginei que fosse suscitar alguma polêmica, alguma controvérsia. Eu disse que não cantava mais ‘Com Açúcar, com Afeto’, como de fato não canto há muitos e muitos anos. E um artista deixar de cantar uma música, não me parece uma notícia."

O cantor afirmou que não soube de críticas do movimento feminista à música e que deixou de cantar a composição porque achou que ela estava datada. "O único feminista que criticou essa música fui eu. Continuo achando que é uma coisa meio vencida, essa coisa da mulher lamurienta, que fica em casa. Puxa, nós estamos no tempo da Anitta! As mulheres estão falando alto, estão de cabeça erguida e acho bonito isso."

Ainda ao Brasil 247, Chico comentou que ainda gosta de "Com Açúcar, com Afeto", mas que tem cerca de 400 composições e que, naturalmente, não pode cantar todas. "Não tenho vontade de cantar essa música. Simplesmente não tenho vontade. Sou obrigado? Em todos esses anos e shows nunca ninguém pediu para cantar essa música. O máximo que pedem é ‘canta Raul’. Nunca me pareceu que alguém sentisse falta dessa canção. E de repente virou uma celeuma."

Chico também disse ao site que acha que Nara Leão, quem pediu a ele a composição de "Com Açúcar, com Afeto", não cantaria mais a música e rechaça a ideia de autocensura ou de cancelamento. "Claro que isso é uma burrice, os guardiões do politicamente correto querendo banir palavras do dicionário, banir músicas ou peças."

Chico escreveu "Com Açúcar, com Afeto" para Nara Leão depois de "A Banda", música dele que fez sucesso na voz dela. A música que ele tirou do repertório saiu em "Vento de Maio", disco que Nara lançou em 1967.

"Ela me encomendou e eu fiz. Gostei de fazer. A gente não tinha esse problema. E é justo que haja. As feministas têm razão, eu vou sempre dar razão às feministas, mas elas precisam compreender que naquela época não existia. Não passava pela cabeça da gente que isso era uma opressão, que a mulher não podia ser tratada assim", ele disse em "O Canto Livre de Nara Leão".

No eu lírico feminino, a letra de "Com Açúcar, com Afeto" retrata uma mulher que fica em casa enquanto o marido, que a sustenta, vive na rua entre bares, saias e praias, bebendo e discutindo futebol. A crítica ao teor machista da composição se dá em relação à condição de subalterna da mulher, que no fim do dia "esquenta o prato" e "abre os braços" para o marido.

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