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'Depois da Festa' vai da comédia ao filme de ação, mas fica na média

Para desvendar um assassinato em série de Chris Miller, cada personagem traz sua versão em episódios de estilos diferentes

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São Paulo

Depois da Festa

  • Quando Novos episódios às quartas
  • Onde Disponível no Apple TV+
  • Elenco Tiffany Haddish, Dave Franco, Ben Schwartz e Zoë Chao
  • Produção EUA, 2022
  • Criador Chris Miller

É tudo americano demais em "Depois da Festa". Não que isso seja um problema quando o resultado é bom. Mas, no caso da minissérie da Apple TV+ —com quatro episódios disponíveis e um novo a cada quarta-feira até completar oito—, a "americanice" exacerbada é só um dos elementos que atrapalham o que poderia ser um entretenimento de primeira.

A ideia original é ótima e tem pedigree. O criador da série, que também dirige todos os episódios, é Christopher Miller. Seu parceiro frequente, Phil Lord, assina como um dos roteiristas e produtor-executivo. A dupla é autora de sucessos como "Uma Aventura Lego", de 2014, "Tá Chovendo Hambúrguer", de 2009, e ganhou o Oscar de melhor animação em 2019 por "Homem-Aranha no Aranhaverso", um dos melhores filmes —se não o melhor— da franquia.

"Depois da Festa" foi criado para ser um longa-metragem e evoluiu para uma história contada em oito episódios de mais ou menos 40 minutos cada um. O tom é cômico, mas se trata de um suspense.

Depois de uma festa de reunião de 15 anos de formatura da turma de 2006 de uma escola de ensino médio do estado americano da Califórnia, os amigos mais próximos de Xavier, papel de Dave Franco, são convidados para uma festa na casa dele. Ele é um popstar milionário e egocêntrico, que faz muito sucesso como músico e ator, mas era conhecido na escola como um nerd sem noção. A maioria das pessoas da festa tem ódio dele. E, no fim da noite, ele morre.

Ou melhor, é assassinado. Atirado de um terraço na beira de um penhasco, de frente para o mar. Seu corpo é encontrado rodeado de alguns elementos que podem servir como pistas, como um boné de couro preto, uma peruca loira e alguns camarões. Um momento antes do grito de horror que parou a festa e anunciou a tragédia, Aniq, papel de Sam Richardson, de "Veep", é visto por todos subindo as escadas da casa furioso em busca do anfitrião.

Aniq é um geek, trabalha criando quebra-cabeças, é o amigão da turma toda, que foi à festa sem ser convidado para tentar conquistar a atenção da garota por quem era apaixonado na escola, Zoe, interpretada por Zoe Chao. Mas, quando a noite está no fim, Aniq acorda no chão da sala e percebe que foi drogado contra sua vontade e acabou largado, com as calças abaixadas e o rosto todo desenhado de canetinha.

Quando chega à cena do crime, a detetive Danner, papel de Tiffany Haddish, com seu assistente atrapalhado, o detetive Culp, interpretado por John Early, o tom cômico da minissérie fica estabelecido.

Os dois não sabem direito como conduzir uma investigação, mas ela tem muita curiosidade em relação aos personagens da trama, quer saber tudo nos mínimos detalhes. Danner investiga o crime à revelia de seu chefe, que não aparece, mas com quem ela fala ao telefone, sempre prometendo que não vai seguir com o trabalho, que está indo embora.

Ela se instala no estúdio de Xavier e chama um a um os convidados para que cada um conte sua versão da noite, ou, como ela gosta de dizer, "o filme na sua cabeça".

E é esse o gancho para que história seja contada usando estilos diferentes. Aniq, por exemplo, o primeiro a ser investigado, já que é o principal suspeito, interpreta uma comédia romântica. No episódio seguinte é a vez de Brett, papel de Ike Barinholtz, de "Esquadrão Suicida", "Super-Heróis: A Liga da Injustiça", ex-marido de Zoe, esse um clichê de filmes americanos que se passam em escolas. Ele é o atleta burrão, que vira um adulto agressivo e meio sem rumo na vida. Sua versão é contada como um filme de ação. Ele é chato e desinteressante, o episódio, idem.

Alguns capítulos são muito bem realizados, como o musical de Yasper, um rapper que fazia dupla com Xavier na escola mas decidiu seguir seu próprio caminho, se deu mal e hoje em dia trabalha instalando aparelhos eletrônicos na casa dos mais ricos. E a animação de Zoe, que era uma das meninas mais populares da escola e se casou cedo, com Brett, o atleta burrão, teve uma filha, se divorciou e está louca para recuperar o tempo perdido.

E tem a melhor personagem de todas, interpretada pela melhor atriz, com a história mais interessante. Ela é Chelsea, papel de Ilana Glazer, uma das criadoras e protagonistas de "Broad City", uma das séries cômicas mais criativas da última década, que aqui interpreta uma garota desajuizada. Um acontecimento misterioso no passado acabou com a sua reputação na escola e a empurrou para uma juventude de atitudes autodestrutivas. Ela vai à festa para se vingar de Xavier.

De oito episódios, cinco são muito bons. É uma boa média. Pena os produtores terem sido tão ambiciosos e deixarem o circo tão armado para que seja quase inevitável que haja uma segunda temporada. A última cena, em vez de trazer algum alívio para o espectador que acompanhou toda a saga e investiu no suspense, só abre a porta para mais perguntas. Assim não vale.

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