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Isabel Allende, que lança 'Violeta', diz que vitória de Boric dá esperança ao Chile

Novo romance da escritora best-seller narra saga de uma família ao longo de um século num país inventado da América Latina

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Buenos Aires

Num momento em que o sobrenome Allende volta a estar em voga no Chile, com a chegada à presidência do país de um jovem político que o reivindica, Gabriel Boric, uma das parentes mais famosas do ex-mandatário socialista chileno que se suicidou durante o golpe militar de 1973, lança mais um livro, e comemora as transformações recentes em seu país.

"Boric me dá esperança no futuro do Chile", disse a escritora Isabel Allende, autora de um dos mais importantes best-sellers da história da literatura latino-americana, "A Casa dos Espíritos" e escritora local mais lida na região.

mulher branca com cabelos curtos loiros e batom rosa
A escritora chilena Isabel Allende, autora do best-seller 'A Casa dos Espíritos' - Lori Barra/Divulgação

Ela é filha do diplomata Tomás Allende Pesce, primo de Salvador Allende, e sofreu perseguição em seu país depois do golpe militar. Foi levada a se exilar, primeiro na Venezuela, depois nos Estados Unidos, onde vive até hoje.

A história de seu mais novo romance, "Violeta", lançado agora no Brasil pela Bertrand Brasil, é contada como se fosse uma carta da protagonista a seu neto. Atravessa os últimos cem anos e mostra a dissolução da opulência de uma família com uma trama cheia de intrigas e casos amorosos. O pano de fundo histórico é de um país imaginário na América Latina que também atravessa ditaduras e colapsos econômicos e naturais.

O livro é como uma saga familiar, que guarda semelhanças com "A Casa dos Espíritos". É a partir das famílias, e de suas mulheres, que se conta melhor as histórias humanas? A história oficial sempre é contada pelos homens e pelos vencedores. As vozes das mulheres, das crianças, dos pobres e dos derrotados nunca aparecem nos textos de história, e são essas as que me interessam.

A senhora já disse em outras entrevistas que o modo como vê o feminismo está marcado por sua própria história pessoal, quando ainda era uma menina e viu sua mãe ser abandonada. Na maioria de seus romances, sente que esse trauma está presente? Em que sentido isso aparece em "Violeta"? Escrevi vários livros e em quase nenhum há um pai presente e amável, sempre o pai biológico está ausente e, às vezes, substituído por um outro homem. No caso de Violeta, ela perde seu pai quando era criança e é criada pelas tias, pela mãe, pela instrutora particular e outras mulheres.

Isso também marca de alguma maneira sua relação com os homens, ela aprende desde jovem a se manter sozinha e a ser independente.

Violeta é um nome muito emblemático para o Chile, porque evoca a cantora e compositora Violeta Parra. Por isso a escolheu? Escolhi o nome porque gosto de como soa, não precisa de tradução, e isso é importante porque meus livros se publicam em mais de 40 idiomas. Além disso, por si só ele já carrega a cor do feminismo. Violeta Parra é uma das heroínas da arte no Chile.

A relação da protagonista com a filha, Nieves, tem algo da dor da perda real de sua filha Paula, que morreu aos 28 anos, em 1992? O modelo em que me inspirei para o personagem de Nieves foi minha enteada, filha de meu segundo marido, que morreu por causa do abuso de drogas. Mas, sim, a dor de Violeta ao perder sua filha se parece com a dor que eu senti ao perder Paula.

O livro é uma história também da América, ou das Américas do Norte e do Sul, que a senhora tão bem conhece —uma vez que viveu no Chile e há muitos anos mora nos Estados Unidos. Houve uma tentativa de tratar de crises que impactaram a ambas? "Violeta" é um romance. Quando escrevo ficção, não tenho a intenção de passar uma mensagem política. Mas os acontecimentos políticos e sociais sempre estão lá, ao impactar a vida dos protagonistas.

A história toma o tempo passado entre duas pandemias, a da gripe espanhola de 1918 e a atual, do coronavírus. Como a senhora viveu a pandemia da Covid e o que sente que poderá mudar quando e se isso terminar? Neste tempo de isolamento, vimos que é possível trabalhar e estudar de modo remoto. É possível que no futuro se mantenha uma forma combinada de relações online e presenciais. Vimos que há um aumento da violência social e da violência doméstica, também ficaram ainda mais em evidência as tremendas desigualdades e injustiças que há no mundo. Espero que façamos um esforço global para mudar essas situações. Além do mais, esse é o tempo da geração jovem, haverá mudanças substanciais na administração do mundo quando essa geração chegar ao poder.

A senhora assinou uma carta pedindo a libertação dos artistas presos políticos em Cuba, reivindicando sua liberdade e a liberdade de expressão na ilha. Como vê o que está ocorrendo lá com as manifestações recentes? Sou contra toda forma de autoritarismo repressivo e da censura. As pessoas têm de ter o direito de protestar, e o governo tem a obrigação de escutar.

Qual é sua opinião sobre o processo constituinte que está ocorrendo no Chile? A senhora crê que a substituição da Constituição da época de Pinochet será um avanço para a sociedade? Sem a menor dúvida, a mudança de Constituição trará mudança e progresso social e político. A ideia da nova Constituição é que exista paridade de gênero, inclusão de todos e todas, diversidade, respeito pela natureza, preocupação pela mudança climática, responsabilidade do Estado em vez de que tudo esteja em mãos privadas e dependa do mercado.

Qual é sua opinião sobre a vitória de Gabriel Boric sobre o candidato de ultradireita José Antonio Kast? O triunfo de Boric me dá esperança para o futuro do Chile, mas não nos esqueçamos de que 46% da população votou pela extrema-direita. É preciso que estejamos atentos.

Violeta

  • Quando Lançamento em 28/2
  • Preço R$ 59,90 (322 págs.)
  • Autor Isabel Allende
  • Editora Bertrand Brasil
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