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'Moonfall', sobre fim do mundo, é a real tragédia do cinema deste ano

Roland Emmerich cai em clichês, piadas péssima e diálogos patéticos em filme que imagina colisão da lua com a Terra

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Moonfall – Ameaça Lunar

  • Onde Nos cinemas
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Hale Berry, Patrick Wilson, John Bradley
  • Produção Reino Unido, China, EUA, 2022
  • Direção Roland Emmerich

A catástrofe do ano acaba de estrear no Brasil e ela veio em duplo sentido. O primeiro é que "Moonfall - Ameaça Lunar" é um filme-catástrofe —"com cenas impactantes de destruição", diz a sinopse— daqueles em que os humanos são ameaçados por inúmeras calamidades naturais.

O segundo é que a grande catástrofe deste filme é a sua própria existência. Em homenagem a tamanha ruindade, este jornal poderia mudar seu sistema de avaliação e incluir uma explosão antes das cinco estrelas possíveis. "Moonfall" receberia essa avaliação inédita –"catástrofe", com o ícone de explosão ao lado.

Só não dá para cravar que é o pior filme estilo blockbuster do ano porque ainda estamos em fevereiro, e o ano só começa depois do Carnaval. Mas a minha aposta é nesse mesmo.

cena de filme
John Bradley em cena do filme 'Moonfall - Ameaça Lunar' (2022), dirigido por Roland Emmerich - Divulgação

"Moonfall" é o novo longa do diretor Roland Emmerich, e ninguém chega a tal patamar de destruição da noite para o dia. O cineasta alemão começou a se especializar em sacanear com a Terra há um quarto de século, quando a humanidade e Will Smith tiveram de enfrentar aliens malignos em "Independence Day".

Outras desgraças planetárias dignas de menção saídas do imaginário de Emmerich aconteceram em "O Dia Depois de Amanhã", quando fomos atingidos por nova era glacial, e em "2012", ocasião em que o núcleo da Terra começou a esquentar, causando maremotos, terremotos, erupções vulcânicas e muita tristeza.

Em todas essas obras milionárias, de alto orçamento, sempre há de um lado o presidente americano, o vice, o diretor da Nasa etc. De outro, aparecem os heróis em descrédito, que já tiveram dias melhores. Mas são eles que salvarão a humanidade; neste caso, os astronautas interpretados por Halle Berry e Patrick Wilson.

Outro clichê comum nos filmes de Emmerich –enquanto buscam salvar a civilização, nossos heróis também têm inúmeros problemas pessoais para resolver, lidando com filhos rebeldes, cachorros desobedientes, ex-mulheres ou antigos adversários. Enfim, eles são gente como a gente.

Ah, sim. Também é figurinha fácil o cientista maluco ou teórico da conspiração, ainda mais desacreditado que os heróis em desgraça. Eis aqui o personagem de John Bradley, que despontou na festejada série "Game of Thrones".

Tudo isso bate cartão no filme e ameaça "Moonfall - Ameaça Lunar", mas não só. Os roteiristas também ameaçam o filme a toda hora, escrevendo piadas péssimas —quando o malucão está procurando um artigo em sua casa superbagunçada, seu gato faz xixi justamente em cima daquele papel— e diálogos patéticos —"eu não trabalho para você, eu trabalho para o povo americano".

Na sequência inicial do filme, astronautas flutuam pelo espaço e discutem os significados da letra da canção "Africa", da banda Toto, um clássico do easy listening. A seguir, eles se envolvem num acidente que acarreta a morte de um deles. Ao retornar para casa, a dupla remanescente acaba jogada para escanteio.

Os problemas da Terra têm início na bela, brilhante e romântica Lua. Nosso satélite aparentemente inofensivo está saindo de órbita e ruma para uma colisão com o planeta. Em inglês, "moonfall" significa queda da lua.

Se, ficando lá em cima bonitinha, a massa lunar influencia apenas as marés dos oceanos –e, quiçá, a velocidade do crescimento de nossos cabelos, se forem cortados na minguante ou na crescente—, quando ela chega perto demais, essa atração gravitacional vai pôr o mundo dançando dentro de um liquidificador. E dá-lhe destruições mundiais pela natureza em fúria.

É disso que o povo gosta, afinal, fato que Emmerich está careca de saber. No entanto, desta vez ele ousa um pouco mais. A Lua não é o que parece. A Lua não é um satélite natural. A Lua é algo construído para –melhor não estragarmos surpresas para o eventual espectador. Basta dizer, para se ter uma ideia do tamanho da viagem, que a Lua lança tentáculos nanorrobóticos movidos a inteligência artificial. E quer sangue.

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