Sob crise no MAM do Rio, novo diretor quer cortar custos sem modificar planos

Paulo Albert Weyland Vieira pretende fazer uma gestão de transição e que será ponte entre o conselho e a equipe

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Rio de Janeiro

Depois de vender a tela "Número 16", do pintor americano Jackson Pollock, em 2019 —negociada por US$ 13 milhões, metade do que era esperado—, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro parecia ter entrado na rota da prosperidade.

Afinal, era criado ali um fundo de R$ 34 milhões para garantir a reestruturação do museu a partir de 2020. Formada por Keyna Eleison e Pablo Lafuente, a nova equipe de curadores trazia uma aura mais diversa e acessível ao museu.

Obra 'No. 16' (1950) de Jackson Pollock
Obra 'Número 16' (1950), de Jackson Pollock - Divulgação

Isso até a surpreendente partida de Fabio Szwarcwald da direção executiva. Oficializada num pedido de demissão nesta segunda, sua saída sinaliza um novo capítulo de crise financeira para o MAM carioca.

Szwarcwald deixa o cargo após divergências com o conselho do museu, receoso com as despesas do fundo. Em 2020, o ex-diretor usou do montante R$ 9 milhões e, no ano passado, R$ 5 milhões. O gasto de R$ 14 milhões acendeu o alerta para os conselheiros do MAM, instituição privada sem fins lucrativos que tem custo médio anual de R$ 21 milhões. De acordo com o ex-diretor, os gastos eram inadiáveis.

homem branco de barba e cabelos grisalhos
O advogado Paulo Albert Weyland Vieira em retrato reproduzido no site oficial da firma do qual é sócio, Vieira Rezende Advogados - Reprodução

Sua gestão foi marcada por reparos estruturais —como a limpeza dos dutos do ar-condicionado e a instalação de uma brigada de incêndio— a fim de dotar o prédio de infraestrutura para contratar um seguro. "Ficaram questionando eu não ter caixa para isso. Mas esses investimentos são necessários para o museu", afirma Szwarcwald.

Conselheiro do MAM há mais de 20 anos, Paulo Albert Weyland Vieira, de 55 anos, anunciado agora como novo diretor, discorda do posicionamento de seu antecessor.

"O que ele chama de desentendimento é o custo. Havia uma instrução clara do conselho para reduzir. Ele deveria ter apresentado um plano para essa redução, mas isso nunca foi feito", afirma o novo diretor. Vieira conta que o conselho não questionou gastos com a segurança do prédio e que o serviço de uma seguradora será anunciado em breve.

Em julho de 2021, o museu anunciou o nome de Pedro Rodrigues para ocupar a direção financeira e administrativa. Szwarcwald afirma ter encontrado desde então dificuldades para o encaminhamento de projetos. Colecionador e egresso do mercado financeiro, Szwarcwald assumiu a direção executiva do MAM depois de ser exonerado da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, pela secretaria estadual de Cultura do Rio de Janeiro em novembro de 2019.

Fabio Szwarcwald no coquetel de abertura da exposição 'Antonio Bandeira', no MAM-SP, em 2019 - Mathilde Missioneiro - 10.dez.2019/Folhapress

Sua gestão foi marcada pelo reposicionamento do MAM. Em 2020, foram oito exposições, com 28 mil visitantes presenciais, um crescimento de 67% após a reabertura. No ano passado, foram dez mostras, com 50 mil espectadores.

O MAM afirmou que uma nova hierarquia estava acertada com Szwarcwald desde setembro. Ele assumiria a diretoria de relações institucionais, Rodrigues seria o diretor financeiro e administrativo, e Weyland Vieira, o novo diretor executivo. "Achávamos que ele já tinha acertado", diz Vieira.

Funcionários do museu contam que Szwarcwald não via com bons olhos a chegada de Rodrigues ao posto de diretor financeiro e administrativo. Para a troca de gestão, o ambiente político foi decisivo.

Não se sabia quem de fato era o diretor executivo do MAM, uma vez que Rodrigues pusera freio em algumas iniciativas de Szwarcwald. O ex-diretor desejava recuperar o Bloco Escola, que formou gerações de artistas entre as décadas de 1950 e 1970.

O novo diretor do MAM é colecionador e o primeiro brasileiro a integrar o conselho internacional da Tate Modern, de Londres. "Meu objetivo é promover uma gestão de transição, fazendo a ponte entre a equipe e o conselho", afirma.

A ideia será encontrar um equilíbrio orçamentário, aproveitando um possível lastro gerado pelo fundo. Afirma ainda que os estudos para a reinauguração do Bloco Escola, com financiamento do BNDES, continuarão em sua gestão. Também apoia a ideia de captar recursos a partir da ONG Brazil Foundation.

Para a recuperação financeira, a nova direção pretende gastar, da quantia do fundo, apenas o valor compatível com seu rendimento, que varia de acordo com a taxa de juros. Sob o aspecto curatorial, não haverá nenhuma mudança, e a programação para este ano deve ser assegurada.

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