Tudo o que se sabe de Mario Frias, de suas viagens caras à nomeação de amigos

Secretário da Cultura e assessores têm agendas esvaziadas em idas para o exterior agora alvo de investigação

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São Paulo

O secretário especial da Cultura, Mario Frias, está com a imagem desgastada nas últimas semanas, devido a viagens com agendas esvaziadas feitas com dinheiro público por ele e seus subordinados, além da nomeação de uma amiga para um cargo em sua pasta. Um cunhado do secretário também ocupa um cargo na Embratur e chegou a receber auxílio emergencial.

A viagem a Nova York

O fato mais representativo da atual crise foi sua ida a Nova York em dezembro para encontrar o lutador bolsonarista de jiu-jítsu Renzo Gracie —ele gastou R$ 39 mil para ficar na cidade por quatro dias para apenas três reuniões –o valor é 13 vezes o atual teto de cachê para artistas na Rouanet, de R$ 3.000.

Frias viajou acompanhado de seu secretário-adjunto, Hélio Ferraz, que gastou outros R$ 39 mil, de acordo com dados do Portal da Transparência.

O secretário especial da Cultura, Mario Frias, em evento de comemoração do Dia Nacional do Forró, no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira -13.dez.2021/Folhapress

O objetivo da viagem foi tratar de um projeto audiovisual com o lutador. Na agenda do secretário consta também que ele encontrou dois produtores que negociam turnês de espetáculos da Broadway na Ásia.

Em seu Twitter, Frias falou que as notícias da ida para Nova York eram mentirosas e que não pagou essa quantia pela viagem, embora não tenha dito quanto gastou.

De todo modo, as despesas causaram espanto —o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União pediu a abertura de investigação e mais de uma ação na Justiça questiona a permanência do secretário no cargo.

Ainda em relação à ida para Nova York, Frias chegou a entrar com uma ação na Justiça contra as companhias aéreas Gol e American Airlines, pedindo ressarcimento de R$ 33 mil por atraso no voo, mas retirou o processo depois da repercussão negativa que a viagem teve.

A viagem a Veneza

Desde que assumiu o cargo, em junho de 2020, Frias realizou 26 viagens, sendo esta para Nova York a mais cara. Em seguida vem um trajeto para Roma, em agosto do ano passado, quando ele participou da Conferência dos Ministros da Cultura do G20 —esta custou pouco mais de R$ 30 mil.

Depois vem sua ida para a Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, em maio do ano passado, ao custo de R$ 21.218 para a semana em que ficou na Itália. O evento homenageou Lina Bo Bardi, uma das mais importantes arquitetas brasileiras, que projetou marcos como o Masp, o Sesc Pompeia, o Teatro Oficina, entre outros.

A ida a Veneza não chamou atenção pelo valor gasto, e sim porque Frias revelou não saber quem era a arquiteta vencedora do Leão de Ouro, além de ter postado fotos suas em pontos turísticos nas redes sociais.

A viagem do chefe da Rouanet

Poucas semanas depois da turnê de Frias por Nova York, seu braço direito, André Porciuncula, gastou R$ 20 mil numa viagem de cinco dias a Los Angeles para apenas duas reuniões. O ex-PM hoje controla a Lei Rouanet.

Os gastos podem ter sido triplicados, já que ele embarcou com mais dois assessores da pasta, Gustavo Torres, do Ministério do Turismo, e o secretário do Audiovisual, Felipe Pedri. Frias só não viajou para Los Angeles com a equipe porque recebeu um diagnóstico positivo de Covid-19.

Porciuncula embarcou em classe executiva e ficou num hotel com diária de R$ 2.364.

A missão para Los Angeles tinha como objetivo tratar de assuntos do audiovisual, mas, inicialmente, não havia ninguém do setor na comitiva. Nas redes sociais, eles compartilharam registros de uma reunião no consulado do Brasil e na Câmara de Comércio Brasil-Califórnia.

O cunhado na Embratur

No meio disso tudo, veio à tona a informação de que o cunhado de Frias, Christiano Camatti, está na folha de pagamento da Embratur, a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo. A Embratur é uma autarquia do Ministério do Turismo, pasta à qual Frias é subordinado, responsável pela promoção de pontos turísticos brasileiros no exterior.

Entre abril e dezembro de 2020, Camatti recebeu auxílio emergencial do governo, no valor total de R$ 4.200, de acordo com dados do Portal da Transparência.

Na época, ele já era sócio de uma metalúrgica em Santa Catarina, a S&C Siderurgia e Metalurgia, com a irmã, Juliana Frias —ela se associou em 2004 e ele, em 2005. Publicitária, Juliana é mulher do secretário especial da Cultura.

A nomeação de uma amiga

Frias também nomeou a noiva de um aliado para um cargo em sua secretaria. Lais Sant'Anna Soares foi escolhida para o cargo de coordenadora de inovação no departamento de Empreendedorismo Cultural em 1º de fevereiro, quando era namorada do deputado federal bolsonarista Carlos Jordy, do PSL do Rio de Janeiro.

De acordo com seu perfil no LinkedIn, Sant'Anna é advogada e, nos últimos três anos, vinha trabalhando no escritório da família. Não há qualquer menção a atuação na área de inovação para a qual foi contratada.

A saída de Frias é dada como certa nos bastidores do governo. A mais cotada para assumir seu lugar é a presidente do Iphan, Larissa Peixoto, amiga pessoal do presidente Jair Bolsonaro. Frias deve concorrer a deputado nas eleições deste ano, mas sua saída pode ser antecipada devido às crises.

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