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Criador de 'Euphoria' inunda 'Águas Profundas', com Ana de Armas, de sexo e morte

Adaptação de Patricia Highsmith tem Ben Affleck como suspeito de matar os amantes da mulher, vivida pela atriz cubana

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São Paulo

Numa das cenas mais famosas do cinema dos anos 1980, Adrian Lyne dirigiu Jennifer Beals curvando seu corpo para trás numa cadeira e recebendo um balde de água sobre ele, em "Flashdance". Já estava ali uma sensualidade que seria elevada a níveis ainda mais ousados em seus filmes seguintes, e que guia, agora, a trama de "Águas Profundas".

Nele, o líquido também aparece no jogo de sedução dos protagonistas –embora, dessa vez, a água encharque corpos sem vida, de gente assassinada justamente por causa do sexo tão onipresente no roteiro. É que no longa estrelado por Ben Affleck, ele se torna o principal suspeito da polícia quando os amantes de sua mulher, vivida por Ana de Armas, começam a morrer.

Jacob Elordi e Ana de Armas cena do filme "Águas Profundas", de Adrian Lyne
Jacob Elordi e Ana de Armas cena do filme 'Águas Profundas', de Adrian Lyne - Divulgação

"Águas Profundas" é uma adaptação do livro homônimo escrito por Patricia Highsmith há 65 anos. Na trama, Vic e Melinda van Allen formam um casal abastado. Ela, no entanto, é infeliz na monogamia, e o marido, para evitar o divórcio, faz vista grossa para os casos dela com homens mais jovens e belos –como os galãs Jacob Elordi e Finn Wittrock. Mas Vic não lida bem com o ciúme e seu círculo de amizade passa a desconfiar da suposta harmonia trazida pelo arranjo.

Para a versão cinematográfica, no entanto, Lyne decidiu descolar o suspense dos anos 1950 e trazer a trama para os tempos atuais, onde achou que conversaria melhor com o público. "Antes havia um clima paroquial, um tanto inglês, ironicamente", diz o cineasta britânico sobre a obra, que leu em sua casa no sul da França, onde diz ficar imerso em literatura.

Além de mudar o contexto no qual os amores e os crimes se desenrolam, Lyne também inundou a história com mais erotismo. Se na versão de Highsmith o acordo entre o casal protagonista acontece porque ambos estão sexualmente frustrados, na adaptação de agora o sexo não parece ser um problema.

Os personagens de Ben Affleck e Ana de Armas transam sem parar ao longo da trama e, em determinados momentos, parece até que ela o trai para dar prazer ao marido. Ele se esgueira pela janela para ver a mulher aos amassos com um rapaz no jardim e, em outra cena, se deleita com a imagem dela no banco de passageiro do carro, abrindo o zíper do amante ao seu lado, lambendo a mão e acariciando seu pênis enquanto ele dirige.

"A verdade é que se você fosse casado com qualquer outra pessoa, você ficaria tão entediado que se mataria", diz ela ao marido, depois de uma briga. Tanta intimidade resultou num romance real entre Affleck e Armas, mas que não aguentou esperar o lançamento de "Águas Profundas" e já terminou.

Este é o primeiro filme de Lyne em 20 anos –o último foi, ironicamente, chamado "Infidelidade". Em seu enxuto currículo estão ainda "Lolita", de 1997, "Proposta Indecente", de 1993, "9 1/2 Semanas de Amor", de 1986, e "Atração Fatal", pelo qual foi indicado ao Oscar. Todos carregam a marca do diretor –são dramas em que romance e suspense se enroscam enquanto os personagens, de forma semelhante, se agarram por baixo das cobertas.

Questionado sobre os motivos para ter ficado longe do cinema por tanto tempo, ele volta à sua casa no litoral francês, um lugar "adorável", de onde "é difícil sair para vir a Hollywood", mas também alfineta a indústria da qual parece relutar em fazer parte. "Não é como se eu não tivesse tentado fazer coisas. Eu acho que os filmes que eu gostaria de fazer simplesmente estão ficando mais difíceis de serem feitos. Só estão interessados em filmes da Marvel e coisas do tipo hoje em dia", afirma.

Ele dá como exemplo a atenção e o orçamento robusto que recebeu para filmar "Atração Fatal" em 1987 e diz que, hoje, um longa como aquele jamais receberia tanto incentivo. Estrelado por Glenn Close e Michael Douglas, o longa sobre uma amante que persegue a família do homem com quem se envolve rendeu seis indicações ao Oscar, incluindo melhor filme.

Talvez para encontrar um equilíbrio entre seus jogos de sedução afiados dos anos 1980 e a juventude cheia de energia e liberta de tabus de hoje, Lyne teve Sam Levinson como um dos roteiristas –o outro é Zach Helm– de "Águas Profundas".

Levinson entrou no radar de Hollywood com a série "Euphoria", queridinha das novas gerações e um sucesso de audiência inabalável, com sua trama regada a sexo, drogas e desolação.

"Eu amo ‘Euphoria’, realmente acho que foi um divisor de águas. O roteiro e a maneira como a série é filmada são fabulosos", diz ele, que compara uma das cenas da segunda temporada, em que a protagonista Rue é confrontada pela mãe sobre seu vício em drogas, a "Vidas Amargas", com James Dean.

De fato, Levinson parece ter embarcado no projeto para equilibrar uma sutileza comum aos thrillers eróticos com o jeito gráfico e sem amarras das séries adolescentes de hoje em dia. Numa das cenas que escreveu, e uma das preferidas de Lyne, a personagem de Ana de Armas é direta durante uma discussão. "Você quer saber se eu estou fodendo ele? Quer saber como eu o faço gozar?", questiona, com um linguajar que parece o de Rue e sua turma colegial.

Aos 81 anos, 20 deles distantes da cadeira de direção, Lyne esteve confortável enquanto levava "Águas Profundas" às telas. São tempos completamente diferentes, com coordenadores de intimidade e empoderamento feminino mudando a forma como a sexualidade das mulheres é capturada pelas câmeras, mas o cineasta não poderia estar mais à vontade.

"Eu sempre gostei de filmar relacionamentos e, obviamente, o sexo é parte deles, simples assim."

Águas Profundas

  • Quando Estreia nesta sexta (18), no Amazon Prime Video
  • Elenco Ben Affleck, Ana de Armas e Jacob Elordi
  • Produção EUA/Austrália, 2022
  • Direção Adrian Lyne
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