Enquanto a maioria das pessoas sonha com a fama nas redes sociais, os criadores do perfil Festa da Firma, no Instagram, fogem da exposição como o diabo da cruz. A razão para esse anonimato é a natureza das postagens: gozações com a vida corporativa.
Um post recente, curtido por mais de 50 mil pessoas, pergunta "Por que te copiei nesse email?". As respostas são apresentadas em um gráfico estilo pizza, típico do Excel, e variam com grandes fatias entre "você é meu chefe e quero mostrar que estou trabalhando", "pra te culpar por algo que fiz", "pra te culpar por algo vc fez", "uma demonstração de poder" e "pra provar, no futuro, que vc estava ciente".
Aquela que seria a resposta "certa", ou seja, desejável em uma corporação, é a que representa uma parte ínfima do gráfico: "pensei que seria útil".
Como os quatro amigos que mantêm a operação do perfil trabalham todos em corporações, a melhor saída foi fazer isso em segredo.
"Não sei como eles veriam o fato de que o cara que tira sarro do trabalho deles trabalhe para eles. Por isso, decidimos nunca aparecer", diz o criador da Festa da Firma, que bate cartão como engenheiro em uma multinacional de São Paulo.
Quanto ao assunto para os posts, isso vem da experiência pessoal do fundador. "Na minha profissão, acabo atendendo e tendo muito contato outras multinacionais, bancos, agências de marketing, empresas de tecnologia etc. Em todos esses escritórios, as dores dos funcionários são as mesmas. É prazo urgente, cliente sem paciência, cobrança do chefe, metas a serem atingidas etc", conta ele.
Uma fonte de inspiração, é claro, é a versão americana do seriado "The Office" (2005-2013, na Amazon Prime e na HBO Max), que revelou para o grande público o comediante Steve Carrell como o chefe de um escritório que, metendo os pés pelas mãos, praticamente trabalha contra seus comandados. É o rosto dele, na pele do personagem Michael Scott, que ilustra a foto de perfil do Festa da Firma.
Outras piadas que caíram no gosto do público são a "almost friday" e o "log off". A primeira, publicada sempre às quintas, traz fotos e vídeos do pessoal se divertindo e se preparando para o fim de semana. Já o
"log off", que acontece toda sexta, é o ato de desligar o seu computador ao fim da jornada semanal.
Captando essa angústia universal, que é idêntica em escritórios no Brasil, nos Estados Unidos, na Inglaterra e em todo o mundo, o Festa da Firma conseguiu chegar a 665 mil seguidores no Instagram, além de operações mais recentes e menores no Twitter e no Tiktok.
Para bolar uma média de dois posts por dia, o fundador acaba fazendo uma jornada dupla. Mas não está sozinho. A página teve uma primeira encarnação em 2017, em que apenas ele trabalhava, e foi logo fechada. Em 2019, três amigos de infância —um advogado, um CEO de start-up, e outro engenheiro civil— se unirem a ele o perfil renasceu. Desta vez, para o sucesso.
Comercialmente, o Festa da Firma deslanchou em 2021, quando a maioria dos escritórios fechou e as pessoas passaram a trabalhar em home office —de quebra, abrindo o leque para um assunto totalmente novo para piadas.
Algumas firmas passaram a procurar o perfil para divulgar seus produtos, pagando por publiposts, caso da Cultura Inglesa em São Paulo. Gigantes da indústria estão pagando para anunciar ali vagas em seus escritórios, inclusive de estágios e trainees, como feito pela Ambev. Todos esses anúncios são bolados pela equipe e seguem o mesmo espírito anárquico dos posts normais do Festa da Firma.
Além disso, a equipe do Festa da Firma deu uma masterclass sobre como aumentar o engajamento e o alcance de suas redes sociais para cem profissionais de marketing de uma grande empresa.
O resultado é espantoso. Segundo o criador do perfil, o Festa da Firma já fatura mensalmente mais que a soma dos salários dos quatro envolvidos. Parece que o plano B deu certo, então?
"Ainda não dá para pensar em largar o emprego normal", diz o fundador. "Estamos sujeitos mudanças de algoritmos, migração de plataformas, nunca se sabe o que vai acontecer nesse meio digital."
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