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Tony Goes

De Mario Frias a Felipe Folgosi, galãs decadentes tentam durar na política

Apoiadores de Bolsonaro, astros que não foram longe na carreira artística buscam sobrevida como deputados

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Não é de hoje que celebridades trocam o mundo artístico pela política. Daisy Lúcidi, morta em 2020, já era uma atriz consagrada quando se tornou vereadora no Rio de Janeiro, no início dos anos 1970, e depois ainda foi eleita deputada estadual. Só voltou a atuar em 2007, depois de um hiato de 31 anos.

Cidinha Campos era uma das jornalistas mais populares da TV brasileira quando decidiu se candidatar. Foi deputada federal pelo Rio entre 1991 e 1999, e depois deputada estadual até 2019. Ao todo, cumpriu sete mandatos, e ainda disputou a prefeitura da capital fluminense em 1992 e a vice-prefeitura em 2016, sem sucesso.

O secretário especial de Cultura Mario Frias, que vai se candidatar a deputado federal em 2022 - Pedro Ladeira/Folhapress

Mais recentemente, tivemos o caso do palhaço Tiririca, já em seu terceiro mandato como deputado federal por São Paulo, e o do ator Alexandre Frota, que ainda está no primeiro. Este último é o precursor de um fenômeno pequeno, porém notável, que eclodiu na política nacional —os ex-galãs que disputam cargos no Legislativo.

Frota despontou para a fama em meados dos anos 1980, como uma jovem promessa da Globo. Permaneceu na emissora até o final da década seguinte, sem nunca chegar a ser o protagonista de uma novela. Em 2001, ganhou um novo impulso ao participar da primeira edição da "Casa dos Artistas", a cópia escarrada do BBB exibida pelo SBT. Sua passagem pelo programa garantiu convites para outros realities, inclusive em Portugal.

Mas, sem dispor de um grande talento dramático, viu as oportunidades como ator minguarem aos poucos. Para sobreviver, trabalhou como "go-go dancer" em boates e, num golpe de marketing que o devolveu às manchetes, como ator de filmes pornográficos.

Quando esta carreira começou a dar sinais de cansaço, Frota se reinventou mais uma vez. Tornou-se um combativo militante da direita nas redes sociais. O timing foi perfeito: em 2018, embalado pela onda conservadora que varreu o país, o ator foi eleito deputado federal por São Paulo, pelo PSL —então o partido de Jair Bolsonaro, a quem apoiou fervorosamente.

Sua história parece ter inspirado outros rapazes que, dotados de beleza física e um certo carisma, até que conseguiram algum destaque no início de suas carreiras artísticas. Agora, já meio entrados em anos e sem maiores perspectivas no horizonte, eles se arriscam na política. Todos defendem a reeleição de Bolsonaro.

O mais notório de todos é Mario Frias, que deve deixar em abril o cargo de secretário da Cultura para concorrer a deputado federal pelo PL de São Paulo. Sem nenhuma experiência em administração pública, o ator é o mais longevo ocupante do cargo no atual governo.

Os especialistas na área apontam a mediocridade de sua atuação, mas Frias agita sua base de seguidores ao investir com frequência contra a Lei Rouanet e outros mecanismos de financiamento público das artes e espetáculos. Também ficaram célebres seus tuítes repletos de erros de português.

Outro pré-candidato à Câmara, por São Paulo, é o ator Felipe Folgosi. Membro da geração de talentos revelada pela Globo na minissérie "Sex Appeal", de 1993 —um grupo que inclui também Camila Pitanga, Luana Piovani e Carolina Dieckmann— Folgosi participou de produções da emissora até 1998.

Já no século 21, acumulou trabalhos em novelas da Record e do SBT, sem nunca repetir o sucesso dos primeiros anos. Nos últimos tempos, tornou-se autor de teatro e de histórias e quadrinhos, e ainda causou celeuma na internet ao divulgar ridículas teorias de conspiração.

Para completar, há o caso de Thiago Gagliasso, que não chegou a ser galã porque desistiu cedo da carreira de ator. Mas ficou conhecido em todo o Brasil por causa de seu irmão, o astro Bruno Gagliasso, com quem rompeu publicamente por razões políticas.

Thiago é um ardoroso admirador de Bolsonaro e acaba de se filiar ao PL, na mesma cerimônia ocorrida em Brasília, no sábado (19), em que Felipe Folgosi também se juntou à agremiação. Promete sair candidato a deputado estadual pelo Rio de Janeiro.

O que têm em comum esses rapazes, além da boa aparência e do apoio incondicional a Jair Bolsonaro? O fato de nenhum ter ido muito longe na carreira artística (a bem da verdade, Thiago Gagliasso nem chegou a tentar). É curioso que eles enxerguem na arena política a chance de uma sobrevida profissional, quando tantas outras portas parecem ter se fechado.

Mas talvez tenham escolhido o ano errado para se candidatarem. As eleições de 2022 serão bem diversas das de 2018. Bolsonaro está em segundo lugar em todas as pesquisas, ainda muito atrás de Lula, apesar de alguns avanços recentes.

É duvidoso que se repita este ano o clima de pânico moral que elegeu para o Congresso, quatro anos trás, um recorde de nomes ultraconservadores —e, em sua maioria, extraordinariamente despreparados para os cargos que vieram a ocupar.

Mario Frias, Felipe Folgosi e Thiago Gagliasso deveriam, mais uma vez, se mirar no exemplo de Alexandre Frota. O deputado rompeu como Bolsonaro logo no início de seu mandato, e se bandeou para o PSDB de João Doria. Com a reeleição para a Câmara tida como incerta, Frota cogita agora em concorrer a deputado estadual por São Paulo. A desculpa é a mais clássica de todas —"assim eu fico mais perto da minha família".

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