De SP-Arte a ArtSampa, feiras de arte brigam por colecionadores em São Paulo

Capital tem cenário inédito com três eventos no primeiro semestre, e proximidade de datas chegou a espantar galerias

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Obra de arte com Monalisa cheia de emojis em volta de seu cabelo

'Quadro a Quadro', de Nelson Leirner, obra que Silvia Cintra + Box 4 leva a nova feira ArtSampa Jaime Acioli/Divulgação

São Paulo

Ao menos para o calendário do mercado de arte, a pandemia parece ter acabado. Depois de amargar um período de mostras e vendas virtuais, um retorno mais firme ao mundo fora das telas já se desenhava em São Paulo tanto com galerias animadas com as vendas do último semestre quanto com o retorno da SP-Arte para o pavilhão da Bienal, berço da feira desde 2005, depois de uma única edição presencial no Arca, galpão de ar industrial na Vila Leopoldina.

Mas pelo jeito a animação após um período de mais restrições foi tanta que a capital paulista vai receber mais duas feiras, ambas gestadas já durante a pandemia —e isso só no primeiro semestre.

Abre essa nova agenda a ArtSampa, comandada por Brenda Valansi, fundadora da ArtRio. Em junho é vez da estreia da ArPa, que chega ao complexo do Pacaembu. Mas tem público na cidade para esse tanto de evento?

As organizadoras acreditam que, sim, o público existe, e cada uma aposta num formato para atrair o que acreditam ser seu nicho. A SP-Arte, por exemplo, parece estar num esforço de internacionalização e de costurar grandes nomes do mercado a espaços menores, até a artistas sem representação.

Enquanto isso, a ArtSampa aposta num evento com palestras antenadas a discussões atuais e maior didatismo nas exposições das obras. Já a ArPa vai abrir a porta simultaneamente a uma feira de design e outra de literatura e espera chamar público também com mostras de esculturas e instalações ao ar livre.​

Mas a adesão das galerias para cada uma das feiras já mostra que não é tão simples fechar essa conta —e alguns galeristas não têm tanta certeza que há comprador para tanta feira.

A proposta de Valansi para São Paulo começa menos de um mês antes da abertura da SP-Arte, a mais consolidada do circuito, e a proximidade de datas desagradou a uma série de galerias que decidiram não participar do evento.

Galeristas apontaram justificativas diferentes para não aderir a ArtSampa apesar de participarem —e gostarem— ​da ArtRio. Em resumo, participar de uma feira requer boas obras, equipe para botar os projetos em pé e centenas de milhares de reais para alugar os estandes, ainda que as cifras dos trabalhos compensem.

Para quem está no mercado secundário, por exemplo, que vende peças em geral de artistas mais consagrados que já passaram por outras coleções, às vezes se torna inviável arranjar bons trabalhos para apresentar num período tão curto. Outras também apontaram que, apesar de acharem que as vendas seriam vantajosas, não valia a pena participar de uma feira com um perfil de participantes de galerias menores.

Ainda que estejam lá nomes conhecidos no mercado, como Silvia Cintra + Box 4, Central e Sé, por exemplo, chama a atenção a falta de galerias de peso como Nara Roesler, Luisa Strina, Fortes D'Aloia & Gabriel, Mendes Wood DM, entre outras.

A associação de Galerias de Arte do Brasil, a Agab, chegou a pedir a alteração dessa data por meio de uma carta assinada por algumas galerias, mas o apelo não foi atendido.

Brenda Valansi justifica que decidiu manter por uma questão de logística, já que sua feira no Rio de Janeiro acontece no segundo semestre e ficaria difícil para empresa por trás do evento fazer a ArtSampa em outra data. Ela também afirma que entre ser a segunda ou terceira feira do calendário, prefere mesmo ser a primeira.

"Vir para São Paulo sempre esteve no nosso planejamento. Uma empresa carioca vir para cá é uma expansão importante", afirma Valansi, que abre o evento na Oca, no parque Ibirapuera, a partir desta quarta-feira. Isso porque, segundo ela, chegar à capital paulista amplia a divulgação da marca para atingir novos públicos e é também um chamariz para patrocinadores, que contam com duas praças.

Ela também se diz satisfeita com o perfil das 39 galerias que participam da feira e com os eventos paralelos de debates e apresentações de DJs. "Acho que quem quis fazer está na ArtSampa, as pessoas acreditam nessa proposta", diz ela.

Com estandes de até 60 metros quadrados, a feira apresentará, por exemplo, obras para o centenário de Nelson Leirner, trabalhos digitais vendidos com NFT e uma curadoria especializada em videoarte.

"Quis trazer espaços em que o público possa entender o trabalho do artista, ou por que aquele determinado nome está sendo homenageado, para que a feira, de alguma maneira, passasse mais conteúdo às pessoas", diz Valansi.

Ela também afirma que, financeiramente, o evento já valeu a pena com a venda de estandes, já que o preço é o mesmo independentemente do tamanho da galeria.

"Entendo a ArtRio fazer feira em São Paulo porque temos o melhor mercado de arte contemporânea, inclusive pela redução do mercado no Rio com algumas galerias fechando e outras vindo para cá", afirma Marlise Corsato, diretora da Kogan Amaro, que participa da ArtSampa e da SP-Arte com artistas e projetos diferentes.

"Para nós, que ficamos tanto tempo fechado, é importante ter feiras para se reconectar com as pessoas. O que dificulta participar de muitas delas é o valor dos estandes, que são caros, ainda mais agora no começo dessa retomada em que muita gente está insegura. Mas apoio que elas aconteçam."

Janaína Torres, diretora da galeria com seu nome, concorda. Ela afirma que essa é uma possibilidade de expandir o público da instituição. Ela também avalia que a falta de nomes de peso na ArtSampa não é um problema e pode ser uma chance para galerias de menor porte mostrar a que vieram.

Ela admite, no entanto, que a proximidade de datas das duas primeiras feiras é um desafio para a logística das galerias e afirma que há uma conversa em curso para que o calendário seja mais diluído durante o ano.

"A participação em dois eventos tão próximos pode demandar muito dos artistas e expositores, e talvez por isso possamos observar uma coincidência tão pequena entre os participantes das duas feiras", afirma Fernanda Feitosa, por trás da SP-Arte, que recebe 92 galerias brasileiras, oito internacionais e 32 de design. O evento também está com uma nova diretora, Tamara Perlman, que manteve a feira Parte por oito anos.

Metade das galerias da ArtSampa confirmaram presença na SP-Arte, e só cinco confirmaram presença nas três feiras do primeiro semestre. Feitosa afirma, no entanto, que não vê esse calendário concorrido como uma ameaça, pelo contrário. Novos nomes, para ela, vão ajudar a expandir o mercado de arte brasileiro —o perfil diferente de galerias de cada um dos eventos reforça isso.

Camilla Barella, por trás da Viva Projects, que comanda a ArPa, explica que a proposta da feira é focar o mercado nacional com cerca de 40 nomes brasileiros de lugares diferentes do país. Já figuram na lista de galerias alguns nomes de peso, como Raquel Arnaud, Millan, Mendes Wood DM, entre outras.

A feira é uma parceria com o consórcio Allegra Pacaembu, que venceu a concorrência pela administração do estádio pelos próximos 35 anos e é comandado por Eduardo Barella, marido da dona da feira que já levou um projeto de exposição de obras antes da reforma.

"Nós fomos de uma para três feiras em São Paulo, e isso muda bastante o cenário", afirma Camilla Barella, que idealizou o projeto em 2020, antes de esse novo calendário estar mais palpável. Mas ela acha que é possível crescer, principalmente se mantendo num modelo que ela chama de intimista, sem tanta diferenciação de tamanhos entre estandes, e reunindo nomes de regiões fora do eixo Rio-São Paulo.

"Como toda feira, existe um risco participar dos novos eventos, mas acredito que há uma euforia com esse cenário menos restritivo da pandemia e a gente quer pegar um pouco desse clima", afirma Victoria Zuffo, da Lume, que levará obras para os três eventos.

"Sentimos em Paris e em Nova York o mercado todo animado. Estava todo mundo sedento, e ninguém aguenta mais 'viewing room' online."​


2022 tem calendário agitado de feiras de arte

  • Segundo a plataforma especializada em arte Artnet, mais de 70 feiras vão acontecer no mundo em 2022. Das brasileiras, apenas a SP-Arte figura na lista
  • Só no próximo mês, abril, a Artforum contabilizou 14 desses eventos pelo mundo
  • Além de SP-Arte, ArtSampa e ArPa, o segundo semestre do ano ainda recebe a SP-Foto, que será transferido para a Arca, galpão onde aconteceu a SP-Arte no ano passado em sua primeira edição presencial após a paralisação em função da pandemia

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