Idles reflete a previsão de tempestade no Lollapalooza com show sinistro e pesado

Revelação britânica foi das poucas bandas internacionais que restaram da escalação pré-pandêmica do festival

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São Paulo

O Idles, uma das poucas bandas internacionais remanescentes da escalação pré-pandêmica deste Lollapalooza –adiado várias vezes até acontecer agora, dois anos depois–, mostrou um show sinistro e pesado no palco Budweiser, o principal do festival.

O grupo inglês subiu ao palco perto de 16h, só cinco minutos depois do horário previsto, apesar do atraso devido ao risco de raio no autódromo de Interlagos.

Banda Idles se apresenta no palso Budweiser no Lollapalooza, em São Paulo - Adriano Vizoni/Folhapress

A plateia não estava tão numerosa, mas isso diz mais sobre este domingo (27) de Lollapalooza do que sobre o Idles. Isso porque a principal atração do dia, o Foo Fighters, cancelou sua presença no festival devido à trágica morte do baterista Taylor Hawkins, na Colômbia.

Além de mais esvaziado em relação aos dias anteriores, o domingo estava repleto de fãs órfãos, com camisetas da banda americana. Além disso, o sol forte que vinha sendo uma constante deu lugar a um clima fechado, com muitas nuvens e garoa.

De certa forma, este é um ambiente que casa bem com a proposta do Idles. Revelação do punk britânico nos últimos anos, a banda tem um som barulhento e agitado, com o vocalista Joe Talbot vermelho se esgoelando com o microfone na mão.

O repertório foi dividido entre os quatro discos da banda, com destaque para "Joy as an Act of Resistance", álbum de 2018 que deu destaque internacional ao grupo e marcou um momento de muita agitação política na Inglaterra, com a eleição do primeiro-ministro Boris Johnson e o Brexit. É desse álbum a música "Colossus", que abriu o show.

"Car Crash", lançada em 2021 no disco "Crawler", cantada a seguir, define bem o estilo do Idles. Enquanto guitarras e baixos distorcidos criam clima, Talbot descreve em detalhes um acidente de carro.

A certa altura, o vocalista homenageou Taylor Hawkins. Ele pediu para que o público gritasse o nome do baterista tão alto que os deuses pudessem ouvir —e, claro, foi prontamente atendido. Definiu o músico como "uma luz que nunca vai apagar", e continuou gritando o nome do baterista ao longo de todo o show.

O momento fofo foi um dos poucos deste tipo no show. Depois da brutal "Divide and Conquer", a banda puxou "Love Song", um tipo irônico de canção de amor.

Enquanto baixo e bateria seguravam a base, Talbot cantou de maneira desleixada trechos de diversos sucessos da música pop, incluindo "Hey Jude", dos Beatles, "Nothing Compares 2 U", do Prince, "Wonderwall", do Oasis, e "All I Want For Christmas Is You", de Mariah Carey. Tudo isso sem dar uma risada, com um senso de humor que é peculiar do Idles.

O público se animou com "Never Fight a Man With a Pen", música que debocha da masculinidade frágil e usa o nome do ator Charlie Sheen como uma gíria para cocaína. "Crawl!", a faixa seguinte, em que o vocalista pediu para o público se abaixar e depois levantar, traz Talbot falando sobre as incoerências de lidar com um trauma.

Já perto do fim do show, o público mais uma vez puxou um grito de "fora, Bolsonaro". A banda não reagiu, e eles puxaram "Samaritans" outra em que debocham da masculinidade. "A masca da masculinidade está me vestindo", cantou Talbot.

O show acabou antes de ter uma hora de duração, com Talbot limpando algumas lágrimas e cantando a música mais conhecida da banda, "Danny Nedelko", que fala sobre a situação dos imigrantes na Europa. "Meu irmão de sangue é brasileiro", ele cantou, mudando a letra.

Apesar de manter a animação sempre em alta, foi um show com uma carga emotiva diferente. O próprio Talbot já teve problemas com o vício em álcool e drogas. Agora sóbrio, parecia sentido com a morte de Hawkins –as autoridades colombianas investigam se a causa de sua morte foi uma overdose de drogas e remédios.

O vocalista encerrou o show agradecendo o amor do público brasileiro e puxando a última música, "Rotweiller" –segundo ele, "uma canção antifascista para um público antifascista".

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