Machine Gun Kelly mostra no Lollapalooza conversão do trap ao pop punk

Músico encarna espírito do roqueiro sensível, tatuado, com unhas pintadas e cabelos tingidos de cor-de-rosa

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São Paulo

Uma das novidades do Lollapalooza Brasil para sua edição "pós-pandêmica" é o show de Machine Gun Kelly, ex-rapper que ganha notoriedade agora convertido à sonoridade do pop punk e à estética emo.

O show, no palco Budweiser, começou por volta de 19h, quando as caixas de som reproduziram a música "Welcome to the Black Parade", clássico emo do My Chemical Romance. MGK, como é conhecido o músico, subiu ao palco logo depois com "Title Track", cujo nome é uma brincadeira com o título do penúltimo álbum dele, "Tickets to My Downfall", de 2020.

Show do Machine Gun Kelly no palco Budwiser durante o Lollapalooza Brasil 2022 - Rubens Cavallari/Folhapress

O público gritava "ei ei ei" conforme a música pedia, e labaredas de fogo subiam atrás do músico. "Nunca vi tanta gente na minha vida", ele disse ao microfone, antes de puxar "Kiss Kiss" e botar a plateia para pular.

MGK pediu para que o público lembrasse a data do show no primeiro dia do Lolla. Isso porque exatamente nesta sexta, ele lançou um novo álbum, "Mainstream Sellout", o segundo depois que deixou de lado a carreira de rapper para investir no rock. Ele então puxou "Maybe", que na gravação tem participação da banda de hardcore emo Bring Me the Horizon.

MGK não estava na escalação inicial deste Lolla, divulgada originalmente em 2020, e agora aparece como um dos nomes de maior destaque, reunindo uma multidão no palco principal do festival. Na verdade, foi justamente há dois anos que ele abraçou as guitarras, com "Tickets to My Downfall".

Antes do disco, ele há anos mantinha uma carreira no trap, o subgênero do rap de batidas eletrônicas e Auto-Tune. Com o disco, ele entrou de cabeça no mundo da sonoridade que fazia muito sucesso nos anos 2000.

"Ainda sou jovem, estou gastando minha juventude", ele cantou em "Drunk Face", música bastante adequada para a ocasião. Além de jovens fãs do pop punk, MGK apela para quem era adolescente quando bandas como Paramore, Green Day, Simple Plan e Panic! at the Disco dominavam o rádio.

MGK também encarna o espírito do roqueiro sensível e sofrido, com a figura de garoto problema tatuado, com unhas pintadas e cabelos tingidos de cor-de-rosa, como se fosse uma figura saída diretamente de um clipe na MTV em 2004. Depois de dizer que estava de ressaca, puxou "All I Know", em que diz que tudo o que sabe é que não sabe de nada.

Show do Machine Gun Kelly no palco Budwiser durante o Lollapalooza Brasil 2022 - Rubens Cavallari/Folhapress

Visivelmente feliz por estar lançando um novo disco com um show em São Paulo, ele pediu que a plateia acendesse os isqueiros. Depois, acendeu o que deu a entender ser um cigarro de maconha.

Apesar dos ânimos do cantor, a plateia pouco conhecia as novas músicas. O disco foi lançado horas antes do show, mas alguns singles, como "Ay!", já estavam havia semanas nas plataformas de streaming.

Outra fatia do repertório que não empolgou foi a do trap. Afora as diferenças de sonoridade, é como se o clima de festa e celebração de letras como a de "El Diablo" não casassem com a persona emo que o alçou à fama.

Na balada triste "Papercuts", ele pediu novamente que o público acendesse as luzes do celular. Foi quando deu para perceber o tamanho do apelo do artista, já que as luzes se espalhavam até os espaços mais distantes do palco principal.

Machine Gun Kelly acende o que parece ser um cigarro de maconha no palco Budwiser durante o Lollapalooza Brasil 2022 - Rubens Cavallari/Folhapress

Hoje, MGK é um artista retrô, ainda que suas bases estéticas não estejam tão distantes assim no tempo. Ele evoca os mesmos sentimentos de 15 anos atrás ao cantar para uma juventude desajustada, atrás de álcool e drogas para conseguir se satisfazer –como em "I Think I'm Okay".

Isso fica claro quando ele agradece "aos que vieram antes", antes de puxar o cover de "Misery Business", clássico de 2007 do Paramore. Foi um dos momentos de maior celebração do show.

Acusado de dar declarações racistas e machistas –como quando disse que mulheres negras eram melhores no sexo oral–, MGK falou sobre a persona polêmica. "Não deixe a pessoa ao seu lado dizer que você não devia ser um fã", disse. "A música é minha única religião."

Ele ainda desceu até o público, enquanto balões cor-de-rosa sobrevoavam a plateia. Foi quando cantou dois hits, "My Ex's Best Friend" e "Emo Girl", esta uma ode às garotas emo.

O show chegou ao fim pouco depois das 20h, com "Jawbreaker", "Forget Me Too" e "Bloody Valentine", três pop punks chicletes, como manda sua cartilha. De certa forma, o Lollapalooza voltou a 2005 por alguns momentos. "Toca Panic! at the Disco!", gritou um jovem sentado no fundo, resumindo o clima da noite de sexta no festival.

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