Descrição de chapéu Obituário Djenane Machado (1951 - 2022)

Morre Djenane Machado, atriz que estrelou a primeira 'Grande Família', aos 70 anos

Com beleza e talento notáveis, brilhou na TV entre as décadas de 1960 e 1980, mas ficou reclusa desde a morte do pai

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São Paulo

Quem viu televisão entre o final da década de 1960 e meados da seguinte não teve como não ficar impactado por Djenane Machado e seus imensos olhos verdes, desses que chamam de longe a atenção. Perfeitos para brilhar numa tela que ainda era em preto e branco.

Mas ela era muito mais do que um par de olhos. Era uma atriz talentosa, com potencial para se tornar uma grande estrela. Tinha um corpo escultural, presença marcante em cena, ótimo timing de comédia —o pacote completo.

A atriz Djenane Machado, no programa Saudade Não Tem Idade - Acervo UH/Folhapress

Djenane Vasconcelos Machado nasceu em 10 de junho de 1951, no Rio de Janeiro, na aristrocracia do showbiz brasileiro. Seu pai era Carlos Machado, um empresário do teatro de revista tão bem-sucedido que era conhecido como o "Rei da Noite". Sua mãe era figurinista dos espetáculos produzidos pelo marido, e a jovem Djenane Machado cresceu nos bastidores.

A beleza e os contatos da família garantiram a ela uma entrada precoce na carreira artística. Fez uma das filhas da família Von Trapp em uma montagem carioca de "A Noviça Rebelde". Em 1968, aos 17 anos, estreava na Globo na novela "Passo dos Ventos", uma trama de Janete Clair ambientada no Haiti colonial.

A atriz Djenane Machado na novela 'Estúpido Cupido' - Acervo UH/Folhapress


No ano seguinte, participou de três folhetins da emissora —"A Rosa Rebelde", "A Ponte dos Suspiros" e "Véu de Noiva". O segundo título, uma adaptação do romance de Michel Zevaco que marcou a estreia de Dias Gomes como autor de novelas, rendeu seu primeiro personagem de destaque –Branca, uma jovem da Veneza de 1500. Djenane Machado descoloriu os cabelos para o papel, criando um visual exótico para a época.

Foi também em 1969 que estreou no cinema, na pornochanchada "A Penúltima Donzela", dirigida por Fernando Amaral. Mas sua filmografia é pequena –os títulos mais notáveis são "Águia na Cabeça", de Paulo Thiago, de 1984 e "Ópera do Malandro", de Ruy Guerra, de 1985, em que teve discretas participações.

Parecia mesmo destinada a reinar na televisão. Em 1970, integrou o elenco de "Assim na Terra Como no Céu", a primeira novela de temática contemporânea de Dias Gomes. Seu primeiro grande sucesso viria no ano seguinte –Lúcia Esparadrapo, uma hippie amalucada na novela "O Cafona", com direito à sua própria música-tema na trilha sonora. A personagem se casava com Profeta, vivido por Ary Fontoura, na primeira cerimônia alternativa exibida pela TV brasileira.

Em 1972, depois de passar pela faixa das sete da noite com a novela "O Primeiro Amor", foi chamada para viver Bebel, na versão original de "A Grande Família", uma das primeiras séries produzidas pela Globo. O programa fez sucesso desde o início, mas ela só participou da primeira temporada. Na segunda, foi substituída por Maria Cristina Nunes, sem explicações.

Os motivos de seu afastamento nunca foram totalmente esclarecidos. Falaram em desentendimentos com a direção, mas é possível que o álcool e as drogas pesadas, que a afligiriam durante muito tempo, já tivessem dado as caras.

De qualquer forma, a saída de "A Grande Família" foi o primeiro grande abalo de uma carreira que, até então, seguia de vento em popa. Djenane Machado continuou na Globo até o começo da década de 1980, atuando em algumas novelas e apresentando o programa musical Saudade Não Tem Idade. Mas jamais se tornou a protagonista que prometia ser.

Nos anos seguintes, teve trabalhos esporádicos na TV Cultura e na extinta TV Manchete. Suas últimas aparições foram em 1986, nas novelas "Novo Amor" e "Tudo ou Nada".

A atriz Djenane Machado, em retrato de 1983 - Acervo Folha SP

Carlos Machado morreu em 1992. A perda do pai abalou Djenane Machado, que não só abandonou a carreira artística como se tornou praticamente reclusa. Circulavam rumores de que continuava lutando contra os vícios, mas poucos sabiam de seu paradeiro.

Até que, em 2016, o jornal Extra a localizou vivendo no Bairro Peixoto, um tranquilo enclave em Copacabana, junto com uma cuidadora. Ela disse então que estava escrevendo sua autobiografia, que, ao que tudo indica, jamais foi finalizada.

Casada e divorciada duas vezes, Djenane Machado não teve filhos. Morreu no Rio de Janeiro nesta terça-feira, aos 70 anos, de causas não reveladas.

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