Nomeado nesta quinta-feira como novo secretário especial da Cultura do governo federal, Hélio Ferraz de Oliveira acompanhou Mario Frias na polêmica viagem da dupla a Nova York feita em dezembro do ano passado.
Frias, que deixou a pasta da Cultura para se lançar como candidato a deputado federal por São Paulo, gastou R$ 39 mil dos cofres públicos na viagem, pedida em caráter de urgência. Oliveira gastou outros R$ 39 mil. A viagem, agora sendo investigada pelo Tribunal de Contas da União, foi o escândalo que marcou o final da gestão do ex-galã do folhetim adolescente "Malhação".
Nos Estados Unidos, ambos tiveram reuniões com o lutador de jiu-jítsu Renzo Gracie, para um projeto audiovisual do qual foram divulgados poucos detalhes, e também com produtores responsáveis por levar espetáculos da Broadway para turnês na Ásia.
Em post no seu Instagram, o novo secretário defendeu a viagem. "Na viagem em questão fizemos importantes tratativas para construção de polo de formação de atores em musicais, discutimos pautas do audiovisual e falamos sobre projetos incríveis que passam entre esporte e cultura em favor das crianças menos favorecidas. Fizemos políticas públicas, com grande esforço", escreveu.
A agenda da dupla em Nova York, no entanto, foi esvaziada, com menos de uma reunião por dia.
Antes de ser alçado à chefia da pasta da Cultura, Oliveira ocupava o cargo de adjunto de Frias, posição na qual ficou menos de um ano. Ele é muito próximo de Frias, de quem é o advogado e com quem trabalhou como produtor-executivo num game show estrelado pelo agora ex-secretário chamado A Melhor Viagem, anterior à entrada de ambos no governo.
Nome menos popular fora do governo, Oliveira ficou algo conhecido por ter ido junto com a Polícia Federal pedir as chaves da Cinemateca Brasileira, no momento em que a federação assumiu o comando direto da instituição, em agosto de 2020. Naquela ocasião, ele era secretário nacional do Audiovisual substituto.
Sua nomeação indica que a pasta deve manter seu perfil de celeiro da ala ideológica mais radical do bolsonarismo e dar continuidade às pautas defendidas por Frias, a exemplo do esvaziamento da Lei Rouanet e da maledicência de artistas famosos. O novo secretário já criticou, por exemplo, a atriz Marieta Severo.
Segundo um ex-servidor que prefere não se identificar, Oliveira é conhecido no gabinete por não trabalhar, por armar confusão contra os colegas e por ter demorado para dar andamento em questões relativas à Cinemateca Brasileira. A instituição sediada em São Paulo ficou anos paralisada, sofreu um incêndio no ano passado e voltou finalmente à ativa há pouco, com nova diretoria.
Oliveira tem em torno de 40 anos e é graduado em direito pelas Faculdades Metropolitanas Unidas, curso que terminou em 2009. Ele estudou junto com Felipe Carmona, secretário nacional de direitos autorais, de quem se tornou amigo pessoal.
De acordo com seu currículo disponível no site do governo, preenchido à mão, o novo chefe da Cultura tem também especialização em direito de família e sucessões, e fez extensão em direito imobiliário.
Temente a Deus, pai de três filhos, Oliveira é armamentista e já publicou uma foto segurando uma metralhadora ao lado de outros nomes da cúpula da Cultura.
Ele também disse ter vivido e repetido "o sonho Disney" com sua mãe, e parece apreciar o universo de desenhos animados infantis, dando uma festa com temática de Snoopy no ano passado.
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