Sem Foo Fighters, mas com rap, Lollapalooza chega ao fim em misto de luto e festa

Após homenagens ao baterista Taylor Hawkins, Emicida exaltou a presença dos rappers brasileiros no placo do evento

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Foi com um misto de luto e de festa que Emicida e Rael iniciaram o show de encerramento do Lollapalooza neste domingo (27).

A apresentação, que contou com nomes de peso do rap nacional, começou após um vídeo com Perry Farrel, dono do festival, comentando sobre sua amizade com Taylor Hawkins. Ele reproduziu um áudio do baterista do Foo Fighters morto nesta sexta (25): "Cuidem de vocês, que eu tomo conta de mim. Vejo vocês em São Paulo. Amo, amo, amo vocês'", disse ele dias antes de morrer.

Apresentação do cantor Emicida no palco Budweiser, durante o festival Lollapalooza, no autódromo de Interlagos, na capital paulista
Apresentação do cantor Emicida no palco Budweiser, durante o festival Lollapalooza, no autódromo de Interlagos, na capital paulista - Adriano Vizoni - 26.mar.22/Folhapress

Antes de os rappers prestarem suas homenagens —cantando "My Hero", música de 1997 do grupo de rock—, o festival apresentou parte de um show do Foo Fighters no Lollapalooza de 2012, em São Paulo, quando o baterista cantou "Cold Day In The Sun", de 2005.

A apresentação, que tinha sido prevista para o festival, foi um jeito da organização tapar o buraco na programação deixado pela banda de rock —que cancelou toda a sua turnê pela América Latina após saber da morte de Hawkins.

Emicida disse que a ocasião era especial para o rap. "A música cura, a música é nossa religião, Mano Brown, DJ KL Jay, Criolo tudo no mesmo palco. Hoje é um dia histórico", disse o rapper. Na sequência, ele cantou "Noiz", de 2013.

Criolo entrou no palco com uma camiseta estampada com urna eletrônica na frente e a palavra "vote" na parte de trás. Ele cantou "Não Existe Amor em SP". Em certo momento, Rael, também no palco, provocou o TSE: "Pode multar", disse. Emicida completou logo depois dizendo que "não adianta xingar". "O negócio é no voto", acrescentou.

Criolo —nascido no Grajaú, bairro do extremo sul de São Paulo, próximo ao autódromo de Interlagos, onde acontecia o festival—, fez um medley de "Não Existe Amor Em SP", de 2011, "Convoque Seu Buda", de 2014, e "Subirusdoistiozin", de 2011.

Após gritos de 'fora Bolsonaro', outra rapper, Bivolt, subiu ao palco e cantou "Essa Onda", de 2021. Na sequência, Drik Barbosa entoou "Rosas". Emicida era o responsável por anunciar os MCs que iam entrando.

Rael cantou "O Hip Hop É Foda", de 2014 —simultaneamente aparecia a palavra "vote" no telão. O momento de maior comoção do público foi o anúncio de Mano Brown e Ice Blue, integrantes do grupo Racionais MCs.

Ao som de "Mil Faces de um Homem Leal", música que exalta Carlos Marighella —deputado do PC do B morto em 1969 pelo regime militar brasileiro—, Brown ressaltou que a mudança do Brasil está nas urnas.

"Da Ponte Pra Cá", de 2001, foi a segunda a aparecer no repertório dele, seguida de "Eu Te Proponho", de 2014. Ao fim da música, mais um lembrete dos músicos: "É na urna que decide."

Após a entrada do rapper mineiro Djonga, que fez show na tarde de domingo no festival, Brown e Ice Blue encerraram as suas participações.

"Somos maior, nos basta só sonhar, seguir", verso de "Levanta e Anda", de 2014, finalizou a apresentação dos rappers. O grupo carioca Planet Hemp foi o próximo a subir no palco.

"Hoje, ele não", disse Marcelo D. "Isso aqui é sobre Taylor Hawkins, sobre Chorão [ex-vocalista do Charlie Brown Jr. morto em 2013], isso é sobre Chico Science [ex-vocalista do grupo Nação Zumbi morto em 1997], hoje a narrativa é nossa e vamos falar o que quiser", afirmou D2.

Com uma imagem de Taylor Hawkins ao fundo do palco, "Samba Maioral", do Nação Zumbi, foi a música de largada do Planet Hemp.

Após chamar o rapper Criolo ao palco, D2 anunciou que em 2022 o grupo vai lançar um álbum com músicas inédito —o último disco da banda, "A Invasão Sagaz do Homem Fumaça", foi lançado em 2000.

"Dig Dig Dig" e "Legalize Já" foram tocadas na sequência. Minutos depois, D2 disse: "Não podemos fazer campanha política, mas podemos homenagear o festival", afirmou. "Olê, olê, ola, Lula, Lula", cantou na sequência.

O clima de luto foi substituído pela vontade dos cantores de enfrentarem a tentativa de censura do TSE. "Fomos orientados a não falar de política, mas vamos falar", disse D2 ao microfone.

Queima de fogos vermelhos sobre um dos palcos do Lollapalooza
Homenagem ao baterista Taylor Hawkins do Foo Fighters - Rubens Cavallari/Folhapress

O show seguiu com as músicas "Queimando Tudo", de 1997, "Raprockandrollpsicodeliahardcoregga", 2000 e "Fazendo Sua Cabeça", de 1995. Ao fim, B Negão pediu para o público fazer uma roda de bate cabeça. "Se o festival é de rock, abre essa roda", afirmou, enquanto cantava uma versão hard core da música "Deixa a Gira Girar", de 1973, da banda Os Tincoãs.

Enquanto cantava "Zerovinteum", música que exalta o Rio de Janeiro, D2 disse que que faltava um paulistano no palco, e chamou Emicida. "Vocês e os Racionais MCs são a minha escola", afirmou o rapper.

Antes do fim da música, D2 puxou coro em homenagem à deputada estadual Marielle Franco, assassinada a tiros em 2018. "Precisamos lembrar de quem se foi. Marielle presente!".

Mr. Catra, que morreu em 2018, também foi homenageado. "Como diria o mestre Mr. Catra: quem tem seda?", perguntou B Negão, enquanto ao fundo surgiu uma imagem do funkeiro.

"Eu bato no peito e falo: há 20 anos eu represento os maconheiros do Brasil", afirmou D2. Antes do fim do show, uma reportagem da TV Globo de 1997 foi exibida no telão. Ela mostrava Marcelo D2 sendo preso por apologia às drogas. Ao som de "A Culpa É de Quem", música que compara crimes de corrupção com consumo de maconha, imagens históricas de racismo, crimes contra crianças e mortes foram mostradas.

"O tempo passa e a saudade só aumenta", disse D2. Antes de sair do palco, ele ainda fez um trocadilho juntando o nome do evento com o do ex-presidente Lula (PT). "Lulapallooza", disse.

A banda paulistana de rock Ego Kill Talent foi a última a subir ao palco. Ela iniciou sua apresentação com "We All". Neste momento, o nome de Hawkins e os anos de seu nascimento e morte, 1972 e 2022, foram exibidos no telão.

Por fim, o grupo fez um cover de "Everlong", de 1997, um dos maiores sucessos do Foo Fighters.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.