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'The Dropout' mostra como Elizabeth Holmes enganou o mundo e se tornou bilionária

Fundadora da Theranos, interpretada por Amanda Seyfried, dizia ter tecnologia capaz de revolucionar testagem de sangue

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São Paulo

Quando chegou ao Vale do Silício pedindo financiamento, Elizabeth Holmes parecia ser o novo gênio do polo de tecnologia. Ela preenchia vários dos requisitos do currículo de gente como Steve Jobs e Mark Zuckerberg —largou a faculdade, começou com pouco dinheiro e dizia ter uma ideia revolucionária.

Só que faltava a ela algo essencial —a tecnologia capaz de transformar suas fantasias em realidade. A saga da Theranos, agora, é contada na série "The Dropout". Nela, acompanhamos Holmes durante seus anos de formação até a queda da empresa, que já foi avaliada em US$ 9 bilhões, ou R$ 45 bilhões, e conquistou o mundo da medicina e do empresariado com promessas vazias.

Amanda Seyfried como Elizabeth Holmes em cena da série "The Dropout"
Amanda Seyfried como Elizabeth Holmes em cena da série "The Dropout" - Divulgação

Criada por Elizabeth Meriwether, roteirista e produtora por trás do sucesso "New Girl", "The Dropout" pegou seu nome emprestado do termo associado àqueles que largam os estudos nos Estados Unidos, rejeitando uma educação formal em busca de um estilo de vida alternativo. Na pele da desertora da universidade de Stanford está Amanda Seyfried, que se viu em Holmes quando ficou sabendo de sua história.

"Eu não a conheci para fazer esse papel, mas eu desejo tudo de bom para ela. Ela fez o que todos estavam fazendo, afinal, o Vale do Silício é um lugar cheio de ideias, só que ela não conseguiu dar vida às dela", diz a atriz, em entrevista.

Pintada com diversos maneirismos e tiques, Elizabeth Holmes aparece em "The Dropout" como uma jovem obcecada com sucesso e dinheiro. Traquejo social não era exatamente seu forte, e os olhos arregalados e a voz profunda fizeram dela a personagem perfeita para uma série de ficção.

Essa afetação e a estética peculiar —Holmes usava terninhos pretos sobrepostos a blusas na mesma cor— ajudaram Seyfried a "entrar na cabeça" da CEO, uma pessoa que, para ela, realmente acreditava que mudaria o mundo.

Quando chegou a Stanford há 20 anos, Holmes tentou emplacar um adesivo que seria capaz de medicar seu portador. A ideia era inviável, disse a ela uma professora, o que a levou a sair da faculdade.

Aos 19, ela fundou a Theranos após persuadir amigos de família a investirem na empresa. Dois anos mais tarde, já havia captado US$ 6 milhões —cerca de R$ 30 milhões—, sob a promessa de que democratizaria o acesso à saúde. Motivada por um medo crônico de agulhas, Holmes passou a vender a ideia de que poderia fazer uma análise completa de saúde a partir de poucas gotas de sangue retiradas do dedo.

A empresa operou de forma sigilosa por boa parte de seus 15 anos. Foi só em 2013, ao anunciar uma parceria com uma farmacêutica e abrir uma série de pontos de coleta de sangue, que Holmes entrou no radar da mídia. Ela foi capa de revistas como a Fortune e a Forbes, que a descreveu como a mais jovem bilionária por conta própria do mundo.

Entender como a jovem chegou a esse ponto de forma tão rápida foi um dos maiores desafios para Elizabeth Meriwether, que não se encontrou com Holmes enquanto escrevia "The Dropout" e tinha como matéria-prima o que lia em jornais e revistas.

"Tanto se falou dessa história que Elizabeth Holmes acabou se tornando uma espécie de vilã e piada nacional. Eu queria contar a trajetória dela a partir de um olhar mais humano, buscando entender a lógica emocional de tudo o que aconteceu", diz a criadora da série. "Havia muita gente pondo rótulos nela. Eu queria ir na outra direção e, também, questionar a nossa cultura de endeusar CEOs e mitificar empresas de tecnologia."

Segundo Meriwether, essa cultura de tornar empresários como Elon Musk celebridades está no cerne da farsa da Theranos. Holmes, afinal, passou anos mentindo sobre o que ocorria em seus laboratórios enquanto era fotografada em eventos, dava entrevistas e se projetava como o ícone de uma geração feminista.

"O que é interessante nessa série é que ela mostra como um grupo de cientistas tentou preservar os fatos e a verdade, na contramão de forças poderosas como o dinheiro e a ambição. Essa é uma conversa relevante hoje, porque estamos vendo vários ataques à ciência e aos fatos", diz ela.

Sob assédio constante na atual era de fake news e pandemia, o jornalismo e a medicina foram o início da queda de Holmes. John Carreyrou, repórter do Wall Street Journal, se debruçou sobre a Theranos por meses após receber uma denúncia de um médico que estava reticente quanto à tecnologia de testagem de sangue da empresa.

A partir de 2015, uma série de reportagens ajudou a mostrar o tamanho da mentira que Holmes havia contado ao mundo –e a alguns funcionários e membros de sua diretoria, que incluiu dois ex-secretários de Estado americanos.

A Theranos fechou em 2018 e, no ano passado, após atrasos causados pela pandemia e por uma gravidez –Holmes deve dar à luz em julho–, sua fundadora foi condenada por diversas acusações de fraude. Ela atualmente aguarda a sentença, que deve ser divulgada em setembro e pode chegar a 20 anos de prisão.

"Essa é uma história fascinante, que nos deixa obcecados, como outros filmes e séries sobre golpes, justamente porque mostram algo que parece impossível. Afinal, como raios ela conseguiu tantos milhões de dólares com base em nada?", questiona Seyfried.

The Dropout

  • Onde Disponível no Star+
  • Elenco Amanda Seyfried, Naveen Andrews e Laurie Metcalf
  • Produção EUA, 2022
  • Criação Elizabeth Meriwether
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