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Tony Goes

Vyni desperdiça BBB 22 e conquistas LGBTQIA+ ao se apaixonar por hétero

Talvez de forma inconsciente, ele assume papel da bicha que se acha indigna do amor verdadeiro

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Marcus Vinicius Fernandes de Sousa entrou no Big Brother Brasil deste ano prometendo fazer e acontecer. Aos 24 anos de idade, o autoproclamado "influenciador de baixa renda", encantou o público assim que seu nome foi anunciado. No fim de semana que antecedeu a estreia do reality, Vyni –o apelido que ele usa em suas redes sociais– ganhou nada menos do que 2 milhões de seguidores.

Era nítida a vontade da Globo de revelar um novo Gil do Vigor, um dos participantes mais emblemáticos da edição anterior do programa. Vyni e Gil têm muitos pontos em comum —ambos são gays, nordestinos, desinibidos e dispostos a causar confusão. Pelo menos, foi essa a impressão inicial.

Vyni e Elizer posam para foto
Vyni e Eliezer posam juntos na festa de Jade Picon no reality - Globo/Reprodução

"Você acha que, tendo festa toda a semana, eu não vou me acabar? Meu filho, eu só saio de lá carregado no caminhão do lixo", declarou Vyni antes de o programa entrar no ar. "Para discutir comigo, é bom vir com água e um banquinho, porque eu não arrego."

Toda essa empolgação se dissolveu logo na primeira semana. Vinicius se apaixonou perdidamente pelo empresário Eliezer do Carmo Neto, seu colega de quarto. Mesmo sendo heterossexual, Eli não rejeitou a paixão declarada de Vyni. Os dois desenvolveram uma amizade quase colorida, com direito a abraços e carinhos sem ter fim —mas não beijinhos.

O resultado foi que Vinicius se apagou na competição. Passou a viver em função do amado, enquanto este se engraçava com participantes como Maria e Natália. Eli também protagonizou um flerte com Jessilane na piscina que muitos fãs entenderam como assédio sexual.

Uma das cenas mais constrangedoras da temporada aconteceu quando Eli e Maria foram "para baixo do edredom" –o eufemismo usado pelo programa para as relações sexuais. Rejeitado, Vyni chegou a interromper as estripulias do casal, perguntando se alguém queria um copo d’água.

Vinicius também perdeu pontos com o público ao se mostrar pouco espontâneo. Cada movimento dele parece calculado para virar meme. Fingiu tropeçar ao se sentar na cadeira do confessionário no domingo retrasado e virou motivo de chacota nas redes sociais.

Mas o mais triste da trajetória do cearense na "casa mais vigiada do Brasil" foi mesmo sua subserviência a Eliezer. Apesar de saber que não tem a menor chance com o amigo hétero, Vyni seguiu submisso a ele. Na noite passada, que talvez tenha sido sua última na competição, Vinicius implorou a Eli para "dormir de conchinha", abraçado pelo amado. Conseguiu.

Talvez de maneira inconsciente, o jovem influenciador joga no lixo várias décadas de conquistas do movimento LGBTQIA+. Ao se mostrar apaixonado por um heterossexual, com quem nem sequer tem a chance de uma transa, Vinicius volta para o lugar que os gays ocupavam até meados do século passado. Ele assume o papel da bicha que se acha indigna de um amor verdadeiro e, por isso, se envolve com um homem que a despreza sexualmente.

O gay espalhafatoso e divertido deu lugar a uma espécie de gueixa, capaz de perdoar tudo e sempre pronta para servir de capacho a um macho alfa. Esse era o comportamento que a sociedade exigia dos homossexuais até a década de 1960 —fique no seu lugar, não se exiba muito, não queira mais do que migalhas. Você não merece.

Acontece que estamos em 2022, e boa parte da audiência do BBB 22 não aprovou a atitude de Vyni —ou melhor, a não atitude. O rapaz é um dos principais responsáveis pelo marasmo que assola esta temporada do reality.

Vinicius se humilhou numa época em que os gays ostentam sua condição com orgulho. Prometeu entretenimento e só entregou passividade. Segundo as enquetes online, será eliminado no paredão desta terça-feira, com mais de 70% dos votos. Já vai tarde.

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