Após fala de Lula sobre aborto, veja lista de filmes que debatem o tema

Assunto duro é observado com franqueza em produções que falam de amizade e hipocrisia moral e social

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São Paulo

Em ano de eleição, temas polêmicos costumam ficar fora do radar dos candidatos, sob o risco de perderem votos num cenário frágil e polarizado. Daí que petistas históricos avaliaram que Lula, pré-candidato à presidência, errou ao falar de aborto em um debate na terça-feira (5), em especial pelo impacto em lideranças evangélicas que o PT pretende conquistar.

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Cena do filme 'Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre', de Eliza Hittman - Divulgação

"Aqui no Brasil, as mulheres pobres morrem tentando fazer aborto, porque é proibido, o aborto é ilegal", afirmou Lula. Atualmente, o aborto só é permitido no Brasil em casos de estupro, anencefalia do feto ou risco de morte para a mulher. E é tema de muito debate. Uma pesquisa de 2020 apontou que apenas 16% dos brasileiros afirmam acreditar que a prática deveria ser permitida em qualquer ocasião.

A discussão moral, por exemplo, prevaleceu à lei quando a ministra Damares Alves agiu para impedir aborto em criança de 10 anos, em setembro de 2020.

E o cinema pode contribuir para a discussão, sobretudo ao fornecer visões que tentam escapar do olhar simplista.

Não à toa, "O Acontecimento", longa baseado no romance autobiográfico de Annie Ernaux, que fala sobre um aborto em sua juventude, foi o grande vencedor do Festival de Veneza em 2021. O filme está com estreia marcada para o dia 28 de abril nos cinemas brasileiros.

Veja a seguir uma lista de obras disponíveis no streaming que contribuem para o debate sem esconder a dor, as dúvidas e a seriedade do assunto.

A Passagem do Cometa

Esse curta-metragem da paulistana Juliana Rojas faz uma ligação incomum. Nos leva para uma clínica de aborto clandestina em 1986, às vésperas da passagem do cometa Halley. Num tom sóbrio, o filme explora a difícil decisão com delicadeza e sem julgamentos, usando o astro milenar como metáfora de algo de que não se entende bem, que parece distante e borrado, refletindo a própria miopia da sociedade em relação ao tema. Não é fornecido o passado nem as razões das personagens, mas o curta trabalha o medo e, o que importa, as vidas que estão em jogo.

A obra é um episódio da série "O Som e o Tempo", de 2017, cuja proposta era mostrar a história da música brasileira ao longo do século 20. A música homenageada é "Falta Alguma Coisa", em interpretação do grupo Rumo.

Brasil, 2017. Direção: Juliana Rojas. Disponível no Vimeo

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Cena do filme 'A Passagem do Cometa', curta-metragem de Juliana Rojas - Divulgação

Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre

A atriz Sidney Flanigan vive uma jovem que embarca em uma saga para ir do estado americano da Pensilvânia para Nova York, onde pode interromper uma gravidez indesejada sem o consentimento dos pais. O filme busca retratar a situação de maneira pragmática, sem deixar de ser dolorosa e assustadora, sobretudo por tratar de uma adolescente. Esse peso é, aos poucos, aliviado pelo calor do companheirismo de uma prima, que acompanha menina nesse trajeto.

EUA/Reino Unido, 2020. Direção: Eliza Hittman. Disponível no Globoplay, Telecine, e para locação em plataformas como YouTube, Google Play e Apple TV


​Lingui

Diferentemente do Brasil, no Chade, um dos países mais pobres da África, o aborto é totalmente ilegal, além de ser contra a religião. E, nesse drama do diretor Mahamat-Saleh Haroun, a filha adolescente de uma mãe solteira, na periferia da capital, descobre estar grávida. A jovem é expulsa da escola e, frente à dor e às complicações que se abatem sobre a menina, até a mãe muda de ideia e vai tentar encontrar uma forma de conduzir o aborto. Filme que representou o país na corrida pelo Oscar

França/Alemanha, 2021. Direção: Mahamat-Saleh Haroun. Disponível na Mubi

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Cena do filme 'Lingui', drama africano produzido no Chade - Divulgação

Uma Canta, a Outra Não

A belga Agnès Varda, morta em 2019, não fez pouco pelo cinema francês. Além de precursora da nouvelle vague, trouxe o feminismo de maneira original e pungente para as telonas —e o tema do aborto, que é legal hoje na França até o período de 14 semanas, não poderia passar despercebido. Nesse musical de 1977, a diretora narra décadas de uma amizade entre duas mulheres que se fortalece de maneira definitiva quando uma ajuda a outra, mãe de duas crianças, a fazer um aborto seguro na fronteira com a Suíça. O feminismo pulsante desse longa vai muito além desse momento, mas seu coração reside na busca pela liberdade

França/Bélgica, 1977. Direção: Agnès Varda. Disponível no Globoplay, Telecine e Oi Play

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Cena do filme 'Uma Canta, a Outra Não', de Agnès Varda - Divulgação

Um Assunto de Mulheres

Neste outro filme francês, do prolífico Claude Chabrol, o aborto é discutido como uma questão moral e, o que o torna singular, do ponto de vista de quem o realiza —de maneira clandestina, em casa. A protagonista, vivida por Isabelle Huppert, vai se envolver com um amante e, ao descobrir o caso, seu marido decide denunciá-la pela sua atuação nesse "assunto de mulher" —como define o título original em francês— para os nazistas. Com uma personagem longe da retidão (no fundo, os abortos rendem um bom dinheiro), o filme expõe a hipocrisia e a dificuldade de viver em uma sociedade autoritária.

França, 1988. Direção: Claude Chabrol. Disponível no Globoplay, Telecine e Oi Play

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Cena do filme 'Um Assunto de Mulher', de Claude Chabrol - Divulgação
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