Olhar para o mundo do crime e da corrupção pela ótica feminina se tornou uma constante entre as produções brasileiras no streaming. "Bom Dia, Verônica", da Netflix, "Os Ausentes", da HBO Max, "Insânia", do Star+ foram algumas das obras que fizeram isso. Agora, chegou a vez do Amazon Prime Video também entrar na onda, com "Sentença", que estreia nesta sexta (15).
Aqui, no entanto, a heroína não segura em armas –ela é uma advogada pro bono, de reputação ilibada e que se tornou um dos principais nomes do meio criminal por não perder nenhum caso, nem mesmo quando "defende bandido", como sua avó diz, salientando o conflito familiar que Heloísa enfrenta.
A personagem é de Camila Morgado, que vive um momento fértil na carreira ao emendar trabalhos no cinema, no streaming e na televisão –ela acaba de estrear na nova fase da novela "Pantanal", no papel de Irma. E celebra o momento de diversidade no trabalho, com papéis em diferentes meios e gêneros, algo que se tornou possível graças à chegada em peso de streamings no Brasil.
"O mercado ficou muito aquecido, não só para os atores, ainda mais no pós-pandemia e num momento tão difícil que a gente atravessa no nosso país. O brasileiro e a brasileira sabem muito bem as dificuldades que a gente está passando, especialmente na área da cultura", afirma ela por vídeo, alfinetando o descaso com a cultura sob a gestão Bolsonaro.
"Acabou a cultura do país, eles [o atual governo] conseguiram destruí-la. O estrago é imenso, então com esses investimentos das plataformas, ao menos, o mercado consegue se manter aquecido."
Para conceber Heloísa, Morgado conta que teve a assessoria de uma advogada criminalista. Também mergulhou em livros para entender o sistema carcerário brasileiro —afinal, é nele em que estão os clientes da personagem. "Presos que Menstruam", "Encarceramento em Massa" e "Prisioneiras", este de Drauzio Varella, colunista deste jornal, foram seus parceiros no projeto, que questiona a Justiça e a criminalidade no país.
"Sentença" começa em ritmo acelerado e descontraído, com um celular perseguindo uma dançarina por uma comunidade do Rio, registrando o que parece ser um clipe de funk. Mas o clima é interrompido quando a câmera flagra, ao fundo, uma mulher ateando fogo a um homem. Ela é Dinorá, e se torna a nova cliente da advogada interpretada por Morgado.
O crime choca o país e a opinião pública está contra a ré. Para tentar ajudá-la, Heloísa navega pelas entranhas de uma facção criminosa e, em paralelo, descobre que seu passado familiar também é marcado por uma história de mistério e violência.
Para Morgado, o trunfo de "Sentença" é poder ver uma mulher peitando tantos homens em ambientes hipermasculinizados, sob a direção, a escrita e a produção de outras mulheres, ainda mais numa trama que navega por gêneros pouco receptivos a elas –além do crime, há também o drama de tribunal, o thriller e a ação. "Tem que botar a mulherada para jogo mesmo. Quanto maior a representatividade, mais acolhimento e sororidade a gente vai ter", diz a atriz.
Diretoras da série, Anahí Berneri e Marina Meliande contam que, além de abordar esse universo por uma ótica feminina, era importante trazer esses gêneros para a realidade brasileira, "adaptar o drama de tribunal para o sistema judiciário do país".
"A gente está lidando com personagens ficcionais. Não é para a série ser um tratado sobre a Justiça no país, mas a gente mostra como ela é desigual, o que no fim é um espelho da sociedade brasileira como um todo", diz Meliande.
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