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Entenda por que Anitta e 'Envolver' não são o sucesso tão global que parecem

Mais de 60% dos plays que levaram o hit a se tornar a música mais ouvida do Spotify no mundo vieram do Brasil

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São Paulo

O brasileiro comemorou o sucesso de Anitta com a música "Envolver" como se a seleção brasileira tivesse enfim se tornado hexacampeã. Houve até torcida organizada, com audições simultâneas em massa, para ajudar na exportação do hit.

Com isso, Anitta chegou ao topo das mais tocadas no Spotify mundo afora, alcançando um feito inédito para um artista brasileiro e traçando uma carreira que dá orgulho a qualquer brasileiro. No entanto, seu sucesso, restrito à América Latina, não é tão global quanto parece.

É o que aponta um levantamento produzido pelo DeltaFolha a partir das 200 canções mais ouvidas do Spotify em 73 países diariamente, desde 2017, quando a cantora fez sua primeira aposta no mercado estrangeiro com "Paradinha".

A capa do novo disco de Anitta, 'Versions of Me', criado para exportação
A capa do novo disco de Anitta, 'Versions of Me', criado para exportação - Divulgação

Prova disso é o desempenho de "Envolver" na plataforma, que teve mais de 60% dos plays que o levaram ao topo vindos só do Brasil. É um movimento contrário à maioria dos 74 hits que alcançam o topo no período analisado.

No dia em que chegou ao topo da parada global, aliás, "Envolver" aparecia entre as 200 mais tocadas de só 36% dos países em que o Spotify opera. Músicas que chegam à primeira posição normalmente figuram entre as mais tocadas de 92% dos territórios.

Números à parte, há duas leituras possíveis do cenário.

A primeira é que Anitta conseguiu mobilizar seus ouvintes no Brasil e na América Latina em geral como poucos artistas fizeram. É como se pelo menos um em cada 52 brasileiros tivesse ouvido a música no dia em que atingiu o pico.

Com isso, "Envolver" se tornou a única música a chegar ao topo da parada global do Spotify tendo figurado em tal posição em apenas um ranking local —o Brasil. É um feito tão raro que, além de Anitta, apenas Bad Bunny chegou perto disso, com "Dákiti".

O porto-riquenho, que faz sucesso com o reggaeton, chegou à primeira posição mundial com uma distribuição ainda menor noutros países. "Dákiti" figurou entre as mais tocadas de 34% dos países, isto é, com dois pontos percentuais a menos do que "Envolver". O hit, no entanto, teve mais ajuda para chegar lá, tendo figurado como a mais tocada em quase 20 territórios.

A segunda leitura é a de que a cantora não faz um sucesso tão global quanto parece. "Envolver" só figurou entre as dez mais tocadas no Spotify em países da América Latina, com exceção de Luxemburgo e de Portugal, país onde historicamente os cantores brasileiros têm mais facilidade para exportar seu trabalho devido ao idioma em comum.

Mesmo em Portugal, no entanto, Anitta nunca chegou ao topo das mais tocadas. "Envolver" ficou em segundo lugar. Na verdade, ela nunca chegou ao topo das paradas do Spotify em nenhum país além do Brasil, algo que Giulia Be, Pedro Sampaio, MC Kekel, MC Kevin o Chris, MC Davi e Xamã já fizeram em Portugal.

Desta forma, "Envolver" não é nem sequer o maior sucesso global da cantora. "Downtown" e "Me Gusta", embora tenham tocado menos no exterior, conseguiram emplacar fora da América Latina, chegando às paradas de 81% e 62% dos países em que o Spotify opera desde o lançamento.

As diferenças numéricas parecem ser amenizadas com o tempo. Duas semanas depois de ter chegado ao topo, nesta segunda-feira, "Envolver" já se fazia presente em 58% das paradas dos outros países, o que representa um aumento de 22 pontos percentuais.

Sem diferenças artísticas expressivas nem idiomáticas —as três são cantadas em espanhol—, o que talvez explique o sucesso maior dos outros dois singles lá fora é que, além de Anitta, eles são colaborações com nomes com carreira consolidada no exterior —"Me Gusta" é cantada com os rappers Cardi B e Myke Towers, e "Downtown", com J Balvin, hit do reggaeton.

São, aliás, esses feats —isto é, as parcerias com cantores estrangeiros— os que mais fizeram sucesso lá fora. Suas apostas solos têm pouca penetração nos outros países. Para citar um exemplo recente, a canção "Girl From Rio", inspirada em "Garota de Ipanema", de Tom Jobim, figurou entre as 200 mais tocadas apenas do Brasil e de Portugal.

"Boys Don’t Cry", seu primeiro single solo em inglês, é outra prova disso. Chegou à parada global do Spotify, onde ocupou a 53ª posição, mas 78% de suas audições vieram apenas do Brasil. Nos
Estados Unidos, a faixa não apareceu entre as 200 mais tocadas em nenhum momento.

Ainda assim, por número de reproduções no streaming, Anitta é hoje a brasileira que mais faz sucesso lá fora. É um feito. Sua penetração fora da América Latina, no entanto, ainda é pequena, se comparada a estrelas globais que costumam ocupar o topo da parada mundial do Spotify, como Bad Bunny, Taylor Swift ou BTS, os três mais ouvidos da plataforma no ano passado.

É assim também para outros brasileiros que tentam construir uma carreira fora. Até hoje, nenhum conseguiu chegar ao topo das mais ouvidas do Spotify de nenhum país além de Portugal e Paraguai.

Mas isso tudo não parece dizer muita coisa para Anitta, que lança nesta terça o disco "Versions of Me", que, com apenas uma faixa em português, é a maior aposta de sua carreira no mercado estrangeiro, sobretudo nos EUA.

Com um inglês que beira o de um falante nativo e a proximidade com cantoras americanas como Miley Cyrus, com quem ela se apresentou no último Lollapalooza, em São Paulo, Anitta é uma cantora cujos passos merecem ser acompanhados de perto.

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