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Cinema

'Fresh' é filme que mistura terror e sátira em trama diabólica

Sensação do último festival de Sundance, longa une atores como Daisy Edgar-Jones, de 'Normal People', e Sebastian Stan

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Fresh

  • Onde Disponível no Star +
  • Classificação 18 anos
  • Elenco Daisy Edgar-Jones, Sebastian Stan, Jojo T. Gibbs
  • Produção EUA, 2022
  • Direção Mimi Cave

Difícil classificar este longa-metragem. Ele passa por vários gêneros cinematográficos, do suspense à comédia romântica, com um roteiro que deixa várias janelas abertas para interpretações.

A mais evidente é que o universo dos encontros via aplicativos não passa de um mercado de carne em que o corpo das mulheres é a principal mercadoria. Esse pode ter sido o pitch do filme, aquele resumo em duas linhas que os produtores costumam pedir aos cineastas para decidir se têm interesse na história que eles querem contar.

Mas a frase acima não faz jus à trama esperta e surpreendente de Lauryn Kahn, roteirista e diretora com vários curtas-metragens no currículo, além de ter sido assistente de direção de Adam McKay em muitos trabalhos. A diretora, Mimi Cave, também vem dos curtas-metragens e dos videoclipes, e trouxe deles uma economia na linguagem que permeia todo o filme.

Cena de filme que retrata um homem e uma mulher se beijando no rua
Cena do filme 'Fresh', dirigido por Mimi Cave - Divulgação/IMDb

A câmera está sempre na melhor posição possível, para que o espectador veja o que ela quer mostrar e não perca tempo com o que está fora de quadro. A menos, é claro, que ela tenha decidido fazer o coração de quem assiste bater mais rápido ao imaginar o que está fora do quadro. O que acontece bastante.

A dupla de seminovatas juntou um casal de atores badalados por trabalhos recentes em séries de TV, a inglesa Daisy Edgar-Jones, a mocinha rica e complicada de "Normal People", e o romeno Sebastian Stan, intérprete de Tommy Lee em "Pam & Tommy", para protagonizar uma história nojenta e engraçada, complexa e simples, moderna e antiquada.

E importante: capaz de provocar reações exaltadas de quem assiste, já que há partes repugnantes bastante explícitas, enquanto o humor, o romance e as cenas de amizade são bem mais contidas.

Noa, interpretada por Edgar-Jones, morre de preguiça de conhecer homens com quem pode vir a namorar. Como quase toda menina de sua geração —a atriz tem 24 anos—, Noa frequenta apps de relacionamento, mas está cheia de escolher seus pretendentes por fotos não realistas e depois aturar jantares boçais com gente desinteressante. E decreta o fim dessa jornada em uma sessão de boxe com sua melhor amiga, Mollie, papel de Jojo T. Gibbs.

Mas eis que num final de tarde nada especial, na seção de frutas e legumes de um supermercado, ela conhece um cara bonito, charmoso e simpático chamado Steve, personagem de Sebastian Stan. E assim, dessa maneira antiquada de se conhecer um potencial ficante ou namorante, "como nossos pais faziam", como ele diz, Noa concorda em dar seu telefone para Steve.

E eles saem para jantar. E tudo é fofo demais. Ele é lindo, um cirurgião plástico que ri de si mesmo —com o sorriso divino do ator que o interpreta—, faz perguntas e parece realmente interessado no que ela tem a dizer –apesar das respostas dela provocarem os primeiros calafrios no público, que sabe que o filme tem um pé no terror. Noa não tem família próxima, mora sozinha e vai se deixando levar pelo clima zen do primeiro encontro.

Que, claro, se desdobra em uma noite de sexo, risadas, sono pesado e vai até o café da manhã. Então, na empolgação daquela noite perfeita, Steve sugere que os dois passem um fim de semana juntos e fora da cidade, e o destino será uma surpresa para ela.

Mollie, a melhor amiga, de cara acha aquilo tudo muito estranho. Tenta alertá-la que viajar a um lugar sem saber para onde vai com um cara que acaba de conhecer não é a melhor ideia, mas Noa desdenha de sua preocupação, afinal, Mollie nunca encontrou Steve e já começou a implicar com ele.

Os dois vão parar em uma casa linda e enorme no campo, o que deixa Noa até constrangida. Steve só pode ser rico, além de tudo. E ainda faz drinques e promete cozinhar para ela.

E essa é a parte da história que dá para contar sem estragar a principal surpresa, a mesma que vai fazer algumas pessoas rirem e outras se contorcerem de aflição.

Não à toa, tudo isso acontece nos primeiros 38 minutos do longa, que dura 1h 54 min, e só então aparece o crédito inicial. "Fresh", fresco, ou fresca, em inglês. Não no sentido de ligeiramente frio, bem arejado ou que se melindra facilmente. Muito menos como bem-disposto, repousado. É fresco como algo que se compra num mercado de luxo e que acabou de ser colhido do pé, pescado do mar ou abatido numa fazenda.

Só que bem mais perverso. E infinitamente mais pitoresco.

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