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Luiz Gê, figura histórica dos quadrinhos nacionais, lança coletânea 'Fronteira Híbrida'

Livro celebra parcerias do quadrinista com o músico Arrigo Barnabé e apresenta três quadrinizações inéditas de óperas

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São Paulo

O quadrinista Luiz Gê é protagonista de alguns dos capítulos mais memoráveis da história das HQs nacionais. Como um dos cocriadores e editores de revistas lendárias como Balão e Circo, ele ajudou a impulsionar uma geração de autores composta por nomes como Angeli, Laerte, Glauco, Marcatti e os irmãos Paulo e Chico Caruso.

Colaborador da Folha, ainda publicou em O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, Jornal do Brasil, Pasquim, Veja, Placar e outras publicações. É autor de "Avenida Paulista", clássico dos quadrinhos brasileiros publicado em 1991 e reeditado em 2012 pela Companhia das Letras.

No início de 2020, Gê foi anunciado como autor homenageado da Bienal de Quadrinhos de Curitiba, com o tema música & quadrinhos, por causa de suas parcerias com o músico Arrigo Barnabé. Veio a pandemia e ele seguiu como protagonista do evento em sua edição virtual. A celebração física vem só agora, com o livro "Fronteira Híbrida", coletânea de 240 páginas que reúne alguns dos trabalhos mais inovadores da carreira do autor, intercalados com reflexões do artista sobre possibilidades pouco exploradas da linguagem das HQs.

Luiz Gê
Luiz Gê, em cena da série Série 'São Paulo Meu Humor' - Divulgação


"Meu trabalho sempre foi experimental", diz Gê sobre o recorte do livro em torno de seus trabalhos ligando quadrinhos e música. "Existem algumas grandes áreas em que esse experimentalismo se manifestou. Uma delas foi com a música, e se deu principalmente por ter um interlocutor constante nessa área, o Arrigo Barnabé. O livro cobre essas experiências relacionadas com a música. E, como quadrinhos e música, a princípio, têm essa fronteira aparentemente intransponível, que a gente rompeu, veio o título/conceito ‘Fronteira Híbrida’."

O livro começa reproduzindo algumas das experimentações mais antigas de Gê, com a HQ ‘Oba-Oba’, originalmente publicada em 1972, propondo múltiplas possibilidades de leitura em função das escolhas do leitor.

No entanto, ele só supriu suas ambições com a obra em 1996, ao publicá-la na internet, permitindo que o público interagisse ao pé da letra com seu trabalho. Gê inclusive segue praticando suas "HQs multilineares" até hoje —e incluiu algumas recentes no livro, com forte teor político, sempre críticas ao governo de Jair Bolsonaro.


No entanto, o foco maior do livro está nas interações pouco usuais entre quadrinhos e música. "Fronteira Híbrida" reúne de HQs com trilha sonora a óperas e peças com ares de quadrinhos. Entre os momentos mais singulares constam a íntegra de alguns dos projetos com Arrigo Barnabé —também autor do prefácio do livro.

"Somos amigos desde 1970", conta Gê, sobre sua relação com Barnabé. "Então, desde sempre houve trocas de ideias e propostas que, embora sejam realizadas individualmente com toda a liberdade e independência, sempre acabam se encontrando. O livro é em boa parte a celebração dessa convergência. As influências mútuas devem ser muitas. Mas nenhum dos dois define ou determina o que o outro vai fazer."

Gê fez a capa e o projeto gráfico das duas versões de "Clara Crocodilo", primeiro álbum de Barnabé, lançado em 1980 e relançado em 1999 —nessa segunda versão, com um encarte misturando fotos e experimentos gráficos do quadrinista. O segundo disco do compositor, "Tubarões Voadores", surgiu a partir de uma HQ de Gê —republicada na íntegra em "Fronteira" e seguida por um artigo do autor em relação às suas propostas com a obra.

Ainda constam no livro versões inéditas, misturando quadrinhos e fotografias, das óperas "O Homem dos Crocodilos", "Enquanto Estiverem Acesos os Avisos Luminosos" e "A História do Soldado" —todas cenografadas por Gê, em outras parcerias com Barnabé.

Também autor da coletânea "Ah, Como Era Boa a Ditadura…", reunindo suas tiras produzidas durante os anos de reabertura política do Brasil, Gê diz ter guardado seus trabalhos mais contemporâneos para um próximo projeto, focado em sua produção entre 2016 e 2022.

Fronteira Híbrida

  • Preço R$ 109 (240 págs.)
  • Autor Luiz Gê
  • Editora MMarte
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