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Televisão games

Série de 'Halo', genérica, dá poucos motivos para ser acompanhada

Produção é lotada de referências aos jogos originais, mas impressão é a de uma ficção científica pouco inspirada

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Halo

  • Quando Novos episódios toda quinta até 19 de maio
  • Onde Disponível no Paramount+
  • Elenco Pablo Schreiber, Natascha McElhone e Yerin Ha
  • Produção EUA, 2022

Com mais de 20 anos na indústria dos games, "Halo" é uma franquia com uma boa reputação —mas nada inabalável. O primeiro jogo, lançado em 2001, fez muito sucesso no Xbox original e mostrou que os jogos de tiro tinham um potencial muito grande nos consoles. A exclusividade do game para as plataformas da Microsoft gerou uma legião de fãs armada de argumentos para não ter um PlayStation. Nesse meio tempo, alguns dos últimos títulos ou não satisfizeram os jogadores experientes, ou não trouxeram novos públicos.

cena de série
Cena de 'Halo', série da Paramount+ baseada na franquia de jogos - Divulgação

Nisso, a franquia deu origem a HQs, filmes e animações de pouca repercussão, restritas, por aqui, a alguma programação noturna de TV. Nesta quarta-feira (24), enfim, a série baseada nos jogos chega ao streaming Paramount+, mas —com base nos dois episódios que foram disponibilizados à imprensa— há poucos motivos para celebrar "Halo".

Assim como outras apostas recentes do streaming —vide a recente "Cowboy Bebop" da Netflix—, a série parece habitar um lugar intermediário, um meio-campo pronto para colher críticas de gregos e troianos. Ou, no caso, de humanos e alienígenas.

A trama é protagonizada por Master Chief, um supersoldado da classe dos Spartans, produzido pela UNSC, o Comando Espacial das Nações Unidas, para combater as investidas dos Covenant —uma classe teocrática de ETs que destrói e escava planetas em busca de relíquias ancestrais de uma raça superior mas que, por acaso, parece ter legado algo de seu poder aos humanos.

O fato é que as inovações de "Halo" sempre estiveram muito mais ligadas aos avanços tecnológicos dos games (o multijogador e a evolução gráfica dos consoles) do que ao manancial de teorias originais da ficção científica moderna, de Arthur C. Clarke a Robert A. Heinlein.

Isso fica ainda mais evidente com a série, cujo roteiro parece algo pré-"Tropas Estelares", num militarismo fora de moda onde a violência é recheada de clichês. No enredo, um assassinato brutal e pretensamente emotivo convive com mutilações de alienígenas e massacre de crianças fora de quadro.

Diga-se, então, que isso vale para dar o tom emocional a Master Chief e sua jornada a fim de perceber que, afinal, não passa de uma máquina de matar sem sentimentos manipulada pela UNSC —e talvez tenha mais a ganhar se refletir sobre as facções rebeldes e sua busca por liberdade interplanetária.

Por outro lado, as peças de propaganda têm lá seu fundo de verdade, afinal, os Covenant não estão para brincadeira com suas armas laser. Por outro lado, a faceta multiétnica dos rebeldes remete ao visual pós-apocalíptico de um "Matrix" ou das ruínas de "Fuga de Los Angeles", de John Carpenter —mas sem a personalidade.

Pior, talvez, a necessidade de, logo no primeiro episódio, Chief revelar o seu rosto —opção quase inevitável para evidenciar Pablo Schreiber (estrela de filmes B e de séries como "Orange Is the New Black" e "Deuses Americanos").

É algo inédito para a franquia, já que, sempre em sua armadura verde, o protagonista nunca tirou o capacete. É legítimo, mas falha ao não criar expectativa. Parece um atestado de que não há ambição em termos de linguagem, pois nada como a luz e uma boa construção de personagem para dar expressão ao maquinal.

Não contente, logo vemos não só o rosto, mas flashbacks, visões do passado em preto e branco, uma sidekick rebelde (vivida por Yerin Ha), além de outros núcleos da USNC —com as cientistas vividas por Natascha McElhone, Olive Gray e o desenvolvimento da inteligência artificial Cortana— e dos Covenant, que montam um painel novelesco, com um narrador que não cria mistérios.

O showrunner Steven Kane disse em entrevista ao portal americano Variety que a equipe criativa nem olhou para os jogos na hora de conceber a série —algo que parece uma meia-verdade.

Afinal, as bases da origem de Chief estão ali, seguindo o cânone de soldado geneticamente modificado. Também há trechos durante a ação em que se assume a primeira pessoa, como nos jogos, bem como remete, sem moderação, ao tema clássico da série em canto gregoriano. Mas esses aspectos só devem arrepiar aos mesmos fãs que deliram só de ouvir "Duel of Fates" no trailer da vindoura série "Obi-Wan Kenobi", de "Star Wars".

Quando as liberdades criativas ficam explícitas, porém, a coisa degringola, justamente, por falta de criatividade. Seja como for, a segunda temporada estava confirmada antes mesmo desta primeira, que custou mais de US$ 10 milhões por episódio.

Ao lotar os capítulos de referências aos jogos sem entender a grandiosidade que outrora significaram, a série descuida da linguagem e vira uma ficção científica genérica. Nessa indecisão, os dois primeiros episódios não dão motivos suficientes para que o restante seja acompanhado.

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