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Cinema

Série 'The Offer' mostra bastidores do 'Poderoso Chefão', mas é morna

Obra estica demais uma história cheia de atribulações, sem tanta gente boa no elenco nem na produção

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São Paulo

The Offer

  • Quando Estreia nesta sex. (29), com três episódios. Novos episódios às sextas
  • Onde Disponível na Paramount+
  • Elenco Miles Teller, Matthew Goode e Dan Fogler
  • Produção EUA, 2022
  • Criação Michael Tolkin e Leslie Greif

Nunca vi uma lista de melhores filmes de todos os tempos, seja com 100 títulos, 50, dez ou até cinco em que a primeira obra-prima de Francis Ford Coppola, "O Poderoso Chefão", de 1972, com Marlon Brando, Al Pacino, James Caan e Diane Keaton no elenco, não estivesse entre os primeiros títulos. Em muitas delas, a minha inclusive, é o primeiro da lista.

E bem perto dele, algumas vezes até antes do filme original, invariavelmente está "O Poderoso Chefão 2", lançado dois anos depois, com Robert De Niro como o jovem Vito Corleone, o chefão da história, interpretado por Marlon Brando no primeiro longa.

cena de série
O elenco da série 'The Offer', do Paramount+, sobre os bastidores de 'O Poderoso Chefão', em cena - Divulgação

Dezesseis anos depois da continuação foi lançado "O Poderoso Chefão 3", que recentemente teve uma versão reeditada pelo diretor e ganhou o subtítulo "A Morte de Michael Corleone". Esse raramente aparece nessas listas, o que é assunto de muito debate entre os cinéfilos.

Cada um dos filmes tem pelo menos duas horas e 40 minutos de duração, sendo que o mais longo, o segundo, chega a três horas e 22 minutos. São uma saga, contam uma história complexa, que se passa em vários lugares e por um período longo de tempo. E são imprescindíveis na vida de qualquer pessoa que tenha curiosidade de conhecer o que o cinema já fez de melhor em sua história.

Agora, a Paramount, o mesmo estúdio que quase não permitiu que o primeiro filme fosse feito —depois tentou substituir o ator principal no meio do caminho, ameaçou demitir o diretor e co-roteirista e infernizou a produção de todas as maneiras que um chefe impertinente pode fazer—, lançou uma série em seu canal de streaming, a Paramount+, "The Offer", contando essa história, nos mínimos detalhes.

Os três primeiros episódios já estão no ar, e os sete seguintes entram semanalmente, sempre às sextas-feiras. Só que sem Marlon Brando, Al Pacino, Robert De Niro, Diane Keaton ou Robert Duvall. Muito menos um livro de Mario Puzo (1920-1999) como a base da história, nem um roteiro escrito a quatro mãos por ele e por Coppola, que também não assina a direção.

A grande estrela é o ator Miles Teller, revelado no ótimo "Whiplash", de 2014, e que está igualmente interessante aqui. Ele é produtor e protagonista da série, interpretando o também produtor Albert S. Ruddy, um cara que saiu do mundo da programação de computadores para Hollywood e lutou até o último cachorro para que "O Poderoso Chefão" fosse feito exatamente como Coppola queria.

O nome de Ruddy está no poster oficial, foi ele que subiu ao palco quando o filme ganhou o Oscar mais importante de 1973. Na ocasião, o longa ganhou outros dois prêmios na mesma noite. Um para Mario Puzo e Francis Coppola pelo roteiro adaptado. Outro, para Marlon Brando, que não foi à cerimônia. Em vez disso, mandou a atriz e ativista Sacheen Littlefeather recusar o prêmio em seu nome, como forma de protestar pela falta de representação de índios americanos em Hollywood.

Mas ele não tem uma personalidade lá tão cativante. É um cara bonitão, ambicioso, audacioso, que passou por vários perrengues, enfrentou os executivos do estúdio que só pensavam em controlar o orçamento, a máfia, que queria acabar com o filme para proteger a imagem dos ítalo-americanos, e até Frank Sinatra, que não gostou nada do personagem do livro semibaseado em sua história pessoal.

Ruddy namorava a dona do lendário hotel Chateau Marmont nessa época, então até tem umas cenas de sexo e tal. Mas uma estrela, estrela mesmo, ele não é.

Talvez tivesse sido mais interessante centrar o enredo no chefe da Paramount à época, Robert Evans, interpretado pelo ótimo ator inglês Matthew Goode, de "Match Point" e "Downton Abbey", esse sim com uma daquelas personalidades "maiores que a vida".

Robert Evans, aliás, já foi tema de um documentário incrível, "O Show Não Pode Parar", de 2002, baseado na autobiografia dele, que tinha o mesmo nome e foi lançada em 1994.

Evans foi o primeiro ator a dirigir um estúdio. Era bonito, charmoso, ultra bem-vestido, cativante, festeiro e insolente. Viveu intensamente os anos 1960 e 1970, mas no começo dos 1980 foi preso por porte de cocaína, perdeu o emprego e acabou caindo no ostracismo.

Mas antes disso foi o responsável por fazer a Paramount renascer, depois de um longo período de fracassos de bilheteria, com a sequência de títulos que começou com "O Bebê de Rosemary", de 1968, seguiu com "Love Story", de 1970, e culminou com "O Poderoso Chefão", dois anos depois.

Nos anos 1990, depois da publicação da autobiografia, Evans foi recontratado pela Paramount. O último filme de sua gestão foi a vexatória comédia romântica "Como Perder um Homem em Dez Dias", de 2003. Morreu em 2019.

Quanto a "The Offer", para voltar ao assunto desta resenha, não é que seja ruim nem nada. Mas se você tem dez horas livres, quer preenchê-las com um produto audiovisual e prefere que a trama seja contada da melhor forma possível, vale mais a pena ver ou rever os três filmes originais.

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