SP-Arte começa com euforia equivalente a de um ano com dois Carnavais

De volta ao parque Ibirapuera, galeristas se animavam com movimento do público, mas vendas ainda oscilavam

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São Paulo

Comparável à animação de um ano que terá dois Carnavais, a euforia ditou o clima do primeiro dia da 18ª edição da SP-Arte, na quarta (6). Os corredores da feira, que retornou ao Pavilhão da Bienal, voltaram a ficar lotados de galeristas e colecionadores sem máscara se encontrando —e de um público em frenesi, com taças de vinho nas mãos.

Era um movimento esperado, e as galerias participantes investiram tanto nos estandes caprichados quanto na seleção de trabalhos.

Nesse alvoroço, boa parte das casas parecia apontar para todos os lados na seleção de obras expostas. Galerias dedicadas à arte contemporânea arrumaram espaço não só para vários de seus artistas já conhecidos, como também para nomes novos. Os jovens Zéh Palito, da Simões de Assis, Maya Weishof, da Millan, e O Bastardo, da Casa Triângulo, para ficar em alguns exemplos, tinham destaque já na entrada dos estandes de suas respectivas galerias.

Já as galerias do segundo setor —que lida com trabalhos oriundos de coleções anteriores e, portanto, cifras maiores— ostentaram obras de Keith Haring, Joan Miró​, Anish Kapoor, Lygia Clark, Brecheret e tantos outros.

Artistas que estão com grandes mostras em São Paulo, como Adriana Varejão e Alfredo Volpi, também chamaram a atenção dos colecionadores. A pintura "Blue Sauna", de Varejão, que tem a maior retrospectiva de sua carreira agora na Pinacoteca de São Paulo, foi vendida pela Almeida e Dale ainda nos primeiros minutos de feira. A obra é avaliada entre R$ 6 milhões e R$ 8 milhões.

Até as galerias mais novatas investiram em apresentações arrojadas. A HOA, casa especializada em artistas emergentes que estreou na feira ainda na pandemia, na sua primeira edição online, cobriu com uma cortina dourada o seu estande, deixando as obras visíveis só por algumas frestas. Ou "escondendo o ouro", como um representante da própria casa definiu.

Estande com obras de arte
Estande da HOA SP-Arte de 2022, no Pavilhão da Bienal - Carolina Moraes/Folhapress

Há ainda a montagem mais sóbria da Gomide&Co, que investiu num espaço de 90 metros quadrados com uma coleção que poderia compor a decoração de um apartamento. Foi essa mesma a inspiração da galeria, que escolheu as obras como se encarnasse uma personagem fictícia —uma mulher que vive no Rio de Janeiro nos anos 1960 e tem pendurados em sua casa off-white trabalhos de Antonio Dias e obras em tons terrosos de Maria Lira Marques.

Todo esse glamour é construído, claro, para vender, e vários comemoraram o movimento da feira nesse primeiro dia. Carlos Dale, da Almeida e Dale, e Max Perlingeiro, da Pinakotheke, afirmam que a expectativa para essa edição é comparável à da vida antes da pandemia —talvez até melhor.

A opinião não era unânime entre os galeristas, no entanto. Maneco Müller, da Mul.ti.plo, afirmou que o movimento não é igual àquele pré-Covid, apesar de ter vendido produções de Cildo Meireles e Pedro Cabrita Reis —português que estará na próxima Bienal de Veneza. Ele apresentava uma dobradinha de obras dos dois artistas que chegavam a R$ 600 mil.

É um indicativo de que o investimento feito na feira pode não decolar, mas Müller também acredita que há nessa conta uma mudança da postura dos colecionadores no Brasil, que migraram de compras impulsivas do que está de certa forma na moda para uma seleção mais analítica dos trabalhos. Ou, como diz o galerista, "antes se comprava pelo ouvido, agora é pelo olho".

É também o que vê Adriano Casanova, dono da casa que leva seu sobrenome. Segundo ele, houve em alguma medida um amadurecimento do setor —e não basta mais abrir a mala para sair vendendo tudo nas feiras.

Seja como for, as vendas das obras pareciam oscilar nesse início da SP-Arte. Quando a reportagem passou pelos estandes no meio da tarde da quarta (6) —o evento abriu para os colecionadores às 11h—​, muitos dos trabalhos estavam ainda em negociação.

No setor ocupado pelas galerias de arte contemporânea, a mistura de estandes de casas consagradas e espaços mais jovens também parecia interferir nas escolhas dos colecionadores recém-chegados. O Projeto Vênus, que participa pela segunda vez da SP-Arte e representa artistas em começo de carreira, selecionou pinturas de grande porte no local que alugou, de frente para a galeria Luisa Strina, uma das maiores do país.

Pedro Mendes, da Mendes Wood DM, avaliou que a edição parecia ser marcada por uma espécie de "celebração da cultura brasileira que estava soterrada pelo clima político". Isso também pode ter sido catapultado pela presença menor de galerias estrangeiras, segundo ele.

Estande com obras de arte
Estande na SP-Arte de 2022, no Pavilhão da Bienal - Carolina Moraes/Folhapress

No termômetro dos tempos atuais, parecia ter ficado em último plano o mundo dos NFTs, obras digitais que funcionam com base nos códigos blockchain que apareceram com mais peso em feiras como a Art Basel Miami Beach, no fim do ano passado.

O que já parece ter se pulverizado pelas galerias é a representação de uma geração de artistas jovens que se reafirmam como sujeitos negros, indígenas, asiáticos e de outros grupos postos à margem em seus trabalhos. Além do próprio O Bastardo, não passam batidas obras de nomes como Maxwell Alexandre, n' A Gentil Carioca, e de Panmela Castro, na Luisa Strina. Isso mesmo que se olhe para os lados e ainda se veja uma maioria branca curtindo o evento nos corredores.​

SP-ARTE

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