SP-Arte termina com vendas lentas e colecionadores jovens chamando a atenção

Galeristas veem renovação importante dos compradores, mais interessados em se educar sobre artistas que vão comprar

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São Paulo

É unânime que o clima da primeira edição da SP-Arte no pavilhão da Bienal após o começo da pandemia era de festa e reencontro. O público encheu os corredores do prédio nos últimos cinco dias, com média de 5.000 visitantes diários. Mas isso não se reverteu em colecionadores abrindo as carteiras e comprando o quanto era esperado para esse frenesi.

A começar pelo ritmo de negociações, que foi diferente para diversos galeristas. A abertura, que aconteceu na quarta-feira, é geralmente o grande termômetro para as casas —e muita gente se assustou por não ter vendido nada de cara.

Primeiro dia da 18ª edição da SP–Arte, no Pavilhão da Bienal
Primeiro dia da 18ª edição da SP–Arte, no Pavilhão da Bienal - Divulgaçao Bienal


Anita Kuczynski, do Paulo Kuczynski Escritório de Arte, avalia que, no primeiro dia, o público parecia mais interessado nos encontros do que nas compras em si. Ainda que com esse começo de feira atípico, as vendas foram compensadas aos longos dos dias, segundo ela. O estande teve obras de até US$ 1,1 milhão vendidas, e nomes de peso foram comercializados, como Henry Moore.

Renato Magalhães Gouvêa Jr., da Arte 57, também sentiu essa diferença de ritmo dos compradores e até uma presença menor de colecionadores no primeiro dia, ainda que, segundo o galerista, a feira tenha ido além das expectativas que ele tinha. Ele chegou a vender cerca de 20% das obras expostas —esse número chegava a 50% em edições anteriores.

Gouvêa Jr. afirma que boas reservas de trabalhos foram feitas na SP-Arte, e que isso deve se refletir em negociações nas próximas semanas, cenário similar para outras casas que participaram da edição.
Mas isso não significa que vale a pena para todo mundo alimentar esse pós-feira em vez de fechar negócio logo.

As vendas durante a SP-Arte com cifras de até R$ 3 milhões são isentas de recolhimento do ICMS do estado de São Paulo. Para muitos nomes do segundo setor, portanto, é interessante fazer valer durante os cinco dias da feira do que deixar para depois.

Maneco Müller, da carioca Mul.ti.plo, já havia afirmado a este jornal que o movimento do primeiro dia não é igual àquele pré-Covid, o que confirmou nos dias seguintes da feira.

Ele também considera que houve uma diminuição de pessoas interessadas em comprar obras de arte, apesar do público ter comparecido.

Müller e quase todos os galeristas ouvidos pela reportagem, no entanto, veem uma renovação importante dos compradores, com a chegada em peso de colecionadores mais jovens.

Luísa Strina, que vendeu 21 obras e comemorou a edição como um bom período de negociações, também percebe a chegada de uma nova geração. Ela avalia, inclusive, que são pessoas mais interessadas em se educar e ler sobre os artistas que vão comprar, hábito que não era regra no colecionismo mais antigo no país segundo a galerista.

Outro nome importante a comemorar as vendas foi a Almeida & Dale que, até a conclusão da reportagem, vendeu a obra mais cara da feira, a pintura "Blue Sauna", de Varejão, que tem a maior retrospectiva de sua carreira agora na Pinacoteca de São Paulo. A obra é avaliada entre R$ 6 milhões e R$ 8 milhões.
Ainda assim, a venda desta e de uma segunda obra no primeiro dia foram as únicas negociações fechadas pela casa nesses dias cinco dias.

Todas as obras de Varejão comercializadas na feira, aliás, foram levadas para casa. Trata-se de uma valorização de artistas que estão com grandes mostras em São Paulo, e as galerias estavam atentas a isso.

A própria Pinakotheke vendeu, entre as seis obras que agora têm novos donos, uma obra de Alfredo Volpi, que tem uma grande retrospectiva agora no MASP.


Há ainda espaços como a Central Galeria que viram boas vendas nesta edição —eles tiveram 25 de suas obras com negócio fechado.

Fernanda Feitosa, que comanda a SP-Arte, afirma que as vendas já parecem melhores do que na edição na Arca, no segundo semestre do ano passado, e comemora a edição da feira. Ela diz que a maioria dos galeristas afirmaram que tiveram boas vendas.

Para Feitosa, o cenário foi influenciado por fatores como a queda do dólar e por um público que é muito fiel às compras de obras de arte.

Ela comemora ainda um capricho na montagem dos estandes das galerias, que investiram em espaços com projetos arrojados. Foi o caso da Gomide&Co, que comercializou mais de 20 obras. Algumas das cifras mais altas da casa foram vendidas nas últimas horas da feira. A obra mais cara deles, um Miró avaliado em R$ 12 milhões, estava em negociação até a conclusão da reportagem, segundo Thiago Gomide, que comanda a galeria.

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