Bienal do Mercosul recria consultório de Lygia Clark e investe em obras sensoriais

Evento, que acontece em Porto Alegre a partir de setembro, anuncia escalação com 93 artistas

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São Paulo

A próxima Bienal do Mercosul quer pôr o público para sonhar a partir do contato com a arte. A 13ª edição do evento, que ocorre entre 15 de setembro e 20 de novembro em Porto Alegre, reúne uma seleção de trabalhos que giram em torno dos conceitos de trauma, sonho e fuga. Para tanto, a curadoria escalou nomes de peso da arte brasileira e estrangeira e 20 artistas e coletivos praticamente desconhecidos, selecionados por uma chamada pública.

A ideia desta Bienal, que reunirá 93 artistas de 20 países, é "usar a arte para expressar o indizível, tornar tangível um sentimento comum a partir de uma sequência de experiências vividas", disse o curador, Marcello Dantas, ao anunciar a lista de artistas do evento, nesta terça. "Não limito à pandemia, mas experiências de impacto global que afetam o indivíduo. Como um evento do outro lado do mundo pode afetar o meu sonho."

'Estruturação do Self', terapia de Lygia Clark com seus objetos relacionais - Sergio Zalis/Associação Cultural Lygia Clark/Divulgação

Uma obra diretamente relacionada ao onírico será a "hipnopédia" do mexicano Pedro Reyes, uma enciclopédia de sonhos narrados pelas pessoas que os viveram. Ainda no universo do inconsciente, um dos destaques será a exibição de trechos inéditos do diário clínico de Lygia Clark, que registram a atuação da artista como terapeuta, prática a que se dedicou nos últimos anos de sua vida. A mostra vai reconstruir o consultório de práticas psicoterapeutas da mineira, com a recriação dos objetos relacionais confeccionados por ela e usados nas sessões de arte-terapia com seus pacientes.

Outro destaque é a presença de dois dos principais nomes da performance contemporânea. A sérvia Marina Abramovic apresenta "Seven Deaths", vídeo no qual recria cenas de mortes da cantora greco-americana Maria Callas. Tino Sehgal, vencedor do Leão de Ouro na Bienal de Veneza de 2013, trará "This Element", ação em que os seguranças e mediadores que trabalharão nos diversos locais da bienal cantam para os visitantes, de tempos em tempos, no decorrer de um dia. Sehgal é conhecido por sua arte que se vale apenas do corpo humano, sem o uso de objetos.

As obras serão espalhadas em dez espaços de Porto Alegre, como o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, a Fundação Iberê Camargo, o Instituto Ling, os armazéns às margens do rio Guaíba e também num percurso no centro da cidade, ocupando o espaço público. Cerca de um quinto dos artistas foi selecionado por edital e apresentará trabalhos inéditos, comissionados pela Bienal.

Esses 20 artistas e coletivos, em geral nomes jovens e menos conhecidos do circuito, vão compor uma mostra chamada "Transe", a ser exibida num novo espaço da capital gaúcha, o Instituto Caldeira. Os projetos escolhidos investigam novas tecnologias, ao mesmo tempo em que revisitam técnicas artísticas tradicionais. Dos selecionados, 15 são brasileiros e os outros vêm do Uruguai, do Peru, da Alemanha, da Bolívia, dos Estados Unidos e da Espanha.

Dos escolhidos via edital, o brasileiro Pedro Carneiro, por exemplo, mistura em seus desenhos e pinturas signos da cultura pop com imagens da herança diaspórica afro-latina para refletir sobre seu entendimento como indivíduo negro na sociedade. Já as esculturas e vídeos da dupla peruana Esfincter pensam sobre a interação entre forças históricas, identidade e gênero.

Estarão presentes também nomes de destaque no circuito brasileiro no último ano, como a ceramista Lídia Lisbôa, a pintora Panmela Castro e o artista gaúcho Luiz Roque, que tem vídeos expostos agora na mostra principal da Bienal de Veneza. Jaime Lauriano participa com Igor Vidor numa obra coletiva sobre a descolonização do Brasil, e a artista trans Nidia Aranha terá um trabalho demonstrando como um corpo masculino pode produzir leite.

O evento contará com duas mostras individuais —uma na Fundação Iberê Camargo reunindo grandes esculturas do espanhol Jaume Plensa, incluindo um trabalho inédito, e outra no Farol Santander, de Rafael Lozano-Hemmer. Um das instalações em grande dimensão do artista mexicano vai transformar a pulsação do coração dos visitantes em luz e som.

Da lista preliminar anunciada nesta terça, o estado com maior participação é São Paulo —18 artistas—, seguido pelo Rio de Janeiro —12— e Rio Grande do Sul —11. Há 30 estrangeiros, cerca de um terço do total. A escalação ainda pode ganhar novos nomes antes da abertura da mostra, segundo Dantas. Ele fez a curadoria acompanhado de Tarsila Riso, Laura Cattani, Munir Klamt e Carollina Lauriano.

Veja a lista dos artistas participantes da Bienal do Mercosul

Adrianna Eu
Alejandra Dorado
Antonio Henrique Amaral
Antonio Tarsis
Bruno Borne
Camila Sposati
Carlos Nader
Carlos Zerpa
Cesar & Lois
Craca
Daniel Lie
Daniel Monroy Cuervas
Daniel Senise
Daniel Steegmann Mangrané
David Manzur
Denise Milan
Dora Smék
Elias Maroso
Ênio Pinalli
Esfincter
Estela Sokol
Evgen Bavcar
Fayga Ostrower
Felippe Moraes
Fernando Sicco
Fernando Stockinger
Franco Callegari
Gabriel de la Mora
Gabriela Mureb
Garrett Bradley
Gastão Hofstetter
Gisela Waetge
Gustavo Prado
Guto Nóbrega
Héctor Zamora
Iole de Freitas
Ivan Caceres
Janaína de Barros
Janaina de Mello
Jaume Plensa
Juliana Góngora
Julius Von Bismarck
Karin Lambrecht
Karola Braga
Leandra E. Santo
Leandro Lima
Leonardo Drew
Leticia Monte, Ana Vitória e Carolyna Aguiar
Lia Menna Barreto
Lídia Lisbôa
Liuska Astete
Lucas de Sordi
Lucas Dupin
Luísa Mota
Luiz Roque
Luzia Simons
Lygia Clark
Mara Weinreb
Marilá Dardot
Marina Abramovic
Martin Soto Climent
Mazenett Quiroga
Milton Kurtz
Nati Canto
Nico Vascellari
Nídia Aranha
Noélia de Paula
Panmela Castro
Pedro Carneiro
Pedro Reyes
Pierre Fonseca
Poema Mühlenberg
Rabih Mroué
Rafael Lozano-Hemmer
Raphael Escobar
Sebástian Calfuqueo
Silêncio Coletivo - Jaime Lauriano e Igor Vidor
Tino Sehgal
Túlio Pinto
Tunga
Vera Chaves Barcellos
Vitor Mizael
Vivian Cacuri
Zé Bento
Walid Raad
Yeddo Titze

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