Os italianos vieram a este Festival de Cannes lamentar as amizades perdidas. Ao menos na mostra principal, onde "Le Otto Montagne" e, agora, "Nostalgia" têm suas tramas atreladas a relações intensas entre garotos que, quando crescem, seguem em direções totalmente opostas.
No novo longa de Mario Martone, que pela terceira vez vem ao evento, testemunhamos o desembarque do personagem de Pierfrancesco Favino em sua Nápoles natal após 40 anos morando no Egito.
Ele retorna para ver a mãe, já muito idosa e com a saúde debilitada, e é cuidando dela e curando as feridas de sua bruta e total separação que sua jornada começa. Martone filma o reencontro com a matriarca e sua decadência e velhice com muita delicadeza ao mesmo tempo em que dá o tom para a narrativa.
"Nostalgia" tem um clima de filme de investigação, impulsionado por uma trilha sonora incisiva. O protagonista, no entanto, não persegue crimes ou culpados, mas memórias. É um tema que se faz bastante presente no cinema italiano recente, tomado pela nostalgia que com Martone é posta numa vitrine.
Mas enquanto o protagonista redescobre as estreitas ruas pelas quais andava de moto na juventude, ele é invadido pela lembrança do melhor amigo de adolescência. A dupla de arruaceiros se separou sem delongas após um acidente, digamos, para não entregar muito da história.
O protagonista quer remendar o laço que uma vez os ligou, mas após 40 anos sem qualquer contato, com ele fazendo dinheiro no Egito e o amigo abandonado na Itália, a tarefa se prova complexa, até mesmo perigosa.
Também na corrida pela Palma de Ouro, "Leila's Brothers", ou os irmãos de Leila, de Saeed Roustayi , acompanha um quinteto de irmãos no Irã.
Sem dinheiro ou bons empregos para juntá-lo, eles querem comprar uma loja num shopping, na esperança de tirar a família da lama. Mas o pai, um bobalhão dado à mentira, prefere usar as poucas economias como presente de casamento para parentes distantes que nunca deram bola para ele.
É sua chance de ser eleito o grande patriarca do clã, uma posição importante, mas os filhos não concordam, e nem gostam da parentada interesseira.
Em suas quase três horas, "Leila's Brothers" pode ser dividido em duas partes —a segunda é quando as coisas acontecem, quando percebemos o que Roustayi faz na corrida pela Palma de Ouro. A primeira, por sua vez, talvez nem prenda o público para que ele chegue ao que realmente importa —não foram poucos os que abandonaram uma das sessões desta quarta (25).
Em sua primeira metade, o longa é enfadonho e monótono, excruciantemente verborrágico. Leila e os irmãos passam mais de uma hora de filme entrando e saindo de aposentos onde têm conversas longas e repetitivas.
Pela falta de concisão, talvez "Leila's Brother" não consiga chegar a muita gente. Pelo menos não imaculado em suas duas horas e 45 minutos de duração.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.