"Eu nunca havia filmado na Grécia, nem interpretado uma mulher que adota outro país como sua segunda pátria. E ainda tinha o desafio de aprender a língua persa. Pensei, isto vai ser uma aventura!".
Glenn Close não esconde seu entusiasmo pela segunda temporada da série israelense "Teerã", cujos dois primeiros episódios chegam nesta sexta (6) à plataforma Apple TV+. Em entrevista exclusiva para a Folha, ela conta como foi encarnar a espiã Marjan Montazeri, uma figura-chave da nova safra.
"Só tive dois meses para me preparar. Assim que fui escalada, passei imediatamente a ter aulas de persa por videoconferência com um professor iraniano que mora em São Francisco. Começamos pelo básico: palavras, frases, e só depois trabalhamos na entonação. Aí, chegando ao set de filmagem, eu ainda precisava ajustar o ritmo, para parecer que sou fluente em persa".
Marjan é uma mulher complexa. Nascida no Reino Unido, ela conhece um rapaz iraniano na faculdade. Após se casar com ele e se converter ao ramo xiita do Islã, muda-se para a capital Teerã e se apaixona pelo país. Ela e o marido, ambos psiquiatras, abrem uma clínica onde atendem veteranos da guerra Irã-Iraque, e depois passam a ter membros da Guarda Revolucionária entre seus pacientes.
Mas o marido morre numa demonstração contra a ditadura dos aiatolás. Marjan então decide ficar no Irã e lutar pela queda do regime, tornando-se agente do Mossad, o serviço secreto de Israel. Anos mais tarde, tenta ajudar Tamar Rabinyan, a jovem espiã israelense vivida por Niv Sultan, que precisa cumprir uma última missão em solo iraniano antes de voltar para casa.
O austero chador —o véu negro que as iranianas precisam usar sempre que estão perto de homens— ajudou Glenn Close a compor a personagem. "Eu achei bastante profundo pensar que tudo o que me faz feminina tem que ser coberto. É preciso calcular o tempo todo quanto cabelo você pode mostrar. Felizmente, minha camareira era uma refugiada iraniana, e uma expert em véus".
Assim como na primeira temporada, as filmagens da segunda fase aconteceram em Atenas, na Grécia, "maquiada" para se parecer com Teerã. Glenn passou duas temporadas na cidade, no segundo semestre de 2021, trabalhando com um elenco em que não conhecia ninguém.
"Mas eu adoro atores. Digo que nós somos uma nação de alienígenas. Toda vez que estou com atores, eu me sinto em casa, não importa a língua que eles falem".
A disponibilidade da atriz surpreendeu seus colegas. "Eu esperava por uma grande estrela de Hollywood, uma diva", afirma Niv Sultan. "Depois do nosso primeiro dia se filmagem, fui ao trailer dela para agradecer. Glenn então me puxou para dentro, para ensaiarmos uma cena complicada que rodaríamos no dia seguinte. Quando acabou, eu liguei para o meu namorado e disse, acabei de ter uma aula de atuação de três horas com Glenn Close!".
Ao contrário de muitos de seus colegas de elenco, Niv não é uma israelense de origem iraniana. Precisou aprender a língua persa, e hoje até já percebe quando seu sotaque não está bom. Também fez aulas de krav magá, a luta marcial de Israel, e ainda teve que aprender a empunhar armas, apesar de ter prestado dois anos de serviço mlitar.
A ideia original de "Teerã" veio do roteirista Moshe Zonder, um dos criadores da elogiada "Fauda". A série mostra o Mossad como uma organização ultra-eficiente, com acesso a quase todas as câmeras de segurança do Irã. Mas, também, implacável na hora de eliminar quem não serve mais aos planos da agência.
"Nós tentamos não envolver muito o Mossad quando escrevemos os roteiros", diz o diretor Daniel Syrkin. "Não queríamos chegar num ponto em que eles nos proibissem de mostrar alguma coisa. Mas, depois que a primeira temporada fez sucesso, vários ex-agentes nos procuraram, e alguns contaram que o que mostramos na série não é nada perto da realidade".
"Nunca fomos ameaçados pelo Irã", acrescenta a produtora Dana Eden. "Mas uma matéria crítica sobre 'Teerã' saiu num jornal do governo de lá. Sabemos que o regime está de olho em nós".
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.