"A gente sabe que não parece, mas nossa Veveta completa 50 anos", dizia a chamada do especial que a Globo produziu e veicula nesta sexta à noite, ao vivo, em comemoração dos 50 anos de Ivete Sangalo, direto da orla de Juazeiro, na Bahia, sua cidade natal.
Até o estado vizinho, Pernambuco, especialmente a cidade de Petrolina, está lucrando com o acontecimento. É que parte da equipe de produção da festa, show, como quer que seja chamado o evento, vai se hospedar nessa cidade do sertão e ocupou todos os quartos de hotéis e pousadas existentes por lá, segundo informou o G1.
Mas o que era pra ser uma grande celebração do que alguém da TV Globo aparentemente acha que é uma grande loucura —uma mulher bonita, ativa e boa no que faz completar 50 anos— virou um tiro no pé da equipe de marketing.
Tudo por causa dessa frase de tiozão, "a gente sabe que não parece", que foi cortada da chamada assim que a grita começou nas redes sociais.
É tudo um pouco triste nessa história. Não a Ivete, que está incrível, se achando o máximo e a fim de celebrar a vida. Quem gosta dela como cantora vai poder ver um showzão bacana, de graça, na TV aberta. Tudo certo.
É deprimente que o canal de TV mais importante do Brasil veicule uma chamada —que imagino que tenha passado por várias pessoas antes de ir ao ar— sem ninguém no processo achar no mínimo cafona que esse chavão antigo estivesse no texto.
Mas essas coisas acontecem nos melhores veículos de informação e entretenimento, e não há cartilha do que pode e do que não pode fazer. Então todo o mundo, todos nós, estamos o tempo todo arriscando escrever, falar, postar alguma coisa que já era, mas que ninguém nos avisou. Faz parte de estar vivo neste momento.
E o que dizer da decisão de eliminar a frase depois da grita das redes? É assim que os formadores de opinião vão agir daqui para frente? Tendo suas próprias opiniões mudando conforme a repercussão? E a liberdade de expressão? E a criação artística? Fica tudo em eterno suspenso, esperando as reações das redes sociais?
Quando "And Just Like That", a continuação de "Sex and the City", entrou em cartaz na HBO Max, em dezembro do ano passado, alguém lembrou que Sarah Jessica Parker, aos 56 anos, era cinco anos mais velha que a atriz Rue McClanahan, quando estreou como Blanche Devereaux em "As Super Gatas", em 1985, aos 51, ao lado de Betty White, Bea Arthur e Estelle Getty. Elas interpretavam quatro idosas viúvas que moravam juntas em Miami.
O ponto dessa comparação era dizer como ter 50 anos hoje é diferente de ter 50 anos nos anos 1980. Jura? Ninguém teve avó, mãe, tia, professora? Esse é simplesmente um fato, não precisa ninguém se esforçar para perceber.
Assim como é diferente ter 13 anos hoje e nos anos 1960, 1970, até 1980. Se bem que hoje em dia ter 13 anos é bem parecido com ter 23. Na verdade, é bem difícil adivinhar a idade de qualquer pessoa nos nossos dias, já que vivemos todos o tempo quase inteiro curvados para baixo, olhando cada um a tela do seu celular.
Mas a gente sabe que Julia Roberts existe, está gloriosa, e tem 54 anos. Carla Bruni também, com a mesma idade. Gloria Pires tem 58. Jennifer Lopez, 52. Jennifer Aniston, 53. Claudia Raia, 55. Patrícia Pillar, 58. Malu Mader, 55. Adriana Esteves, 52. Claudia Abreu, 51. Até a Ingrid Guimarães já tem 50.
A gente também sabe que essas são algumas das mulheres mais bem tratadas do mundo. Não é que elas representem todas as mulheres, longe disso. Sempre foram lindas, ricas e bem cuidadas. Como a Ivete Sangalo.
Que, também sabemos, é mais festeira que todas essas. Então, que ela queira comemorar os 50 anos em grande estilo é quase natural. Afinal, não foi assim que ela comemorou os Carnavais por muitos e muitos anos?
Ivete ser tratada como estrela é merecido. Ela se parece com uma, age como uma, se diverte como uma. Mais especificamente como uma estrela de 50 anos, no auge de sua vida. E sim, dá para perceber.
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