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'Monumentos' mostra que celebrar a memória não exige solenidade

Dois episódios da série do SescTV têm exibição nesta sexta e mostram como o conceito que lhe dá título pode ser íntimo

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Monumentos

  • Quando Sessão especial com os episódios 'Álbum de Fotografia' e 'Mausoléu' nesta sexta (20), às 18h30; estreia no canal e sob demanda na segunda (23), às 20h
  • Onde Cinesesc - r. Augusta, 2.075
  • Preço Grátis, retirada de ingressos uma hora antes na bilheteria
  • Classificação Livre
  • Produção Ebisu Filmes e Loma Filmes, 2021
  • Direção Paulo Pastorelo

Uma série intitulada "Monumentos", concebida por um cineasta formado em arquitetura e por uma professora universitária da área de história pode fazer supor, de imediato, uma produção que vá se dedicar a esmiuçar aspectos do patrimônio.

Mas são artísticas, mais que didáticas, as ambições da produção em 12 episódios, dirigida por Paulo Pastorelo e criada por ele e por Lucília S. Siqueira, a ser exibida pelo canal SescTV a partir da semana que vem.

Ao menos a partir dos dois capítulos disponíveis para avaliação, aqueles que comporão uma sessão especial, nesta sexta, no Cinesesc, em São Paulo, depreende-se que a ideia é ampliar a concepção comum do que é um monumento.

"Monumento", enuncia a vinheta de abertura, é "aquilo que traz algo à lembrança". Essa definição vasta estabelece o terreno sobre o qual se debaterão os temas selecionados –ruínas, relíquia, restauro, vestígio, entre outros.

Cena da série 'Monumentos',  do canal SescTV
Cena da série 'Monumentos', do canal SescTV - Divulgação

"Álbum de Fotografia", segundo episódio do conjunto, traduz claramente essa compreensão ampliada de um termo que estamos mais afeitos a tratar como algo solene.

Acompanhando os registros de momentos especiais na vida de uma família de origem armênia radicada em Santos, no litoral paulista, "Álbum de Família" enternece o espectador e estabelece uma entrada importante –a de que um monumento pode ser algo pessoal, íntimo.

A narração leva a refletir sobre o papel da fotografia na elaboração da lembrança; o que fica de fora da moldura da foto é evocado pelo que se vê, sugere.

Escrito por Giselle Beiguelman, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, pesquisadora e artista com trabalho relacionado a memória, patrimônio e tecnologia, o texto é rico, mas por vezes entra em dissonância com o que se vê.

Isso não se dá pelo teor —que as imagens na tela vão comprovando, conforme os membros da família repassam a vida em fotos—, mas pelo tom, um registro mais elevado que se choca com a singeleza das considerações dos personagens e parece não encaixar tão bem na leitura de Erika Li.

O episódio que fecha a série convoca, de forma apropriada a seu caráter último, a morte. Ora, a finitude é um dos motivos pelos quais erigimos monumentos, para que a lembrança não nos falhe.

"Mausoléu" trata, portanto, desses monumentos mortuários, colocando em contraste o de Chico Xavier, no cemitério São João Batista de Uberaba, em Minas Gerais, onde o corpo do médium foi sepultado, e o de dom Pedro 1º, a cripta, dentro do Monumento à Independência, no bairro paulistano do Ipiranga, onde estão os restos mortais do imperador.

Enquanto o mausoléu do médium é um vulcanizador de paixões —fé, devoção, longas filas, flores e até mesmo um ataque aparecem na história—, o do monarca é frio, sombrio, solitário e, finalmente, vetusto como imaginamos um monumento.

A oposição se constrói pelos aspectos formais –a simplicidade interiorana do túmulo de Chico, a grandiloquência do sepulcro de Pedro– e por seus reflexos no texto, de Guilherme Gontijo Flores, tradutor e professor de letras da Universidade Federal do Paraná, além de poeta, como vários outros autores convidados a contribuir para a série. Desta vez o escritor é encarregado também da narração, num resultado mais desenvolto e que traduz com mais coesão o que as imagens mostram.

Já perto do final, se destaca uma frase que serve como chave de ouro à série e que, podemos adivinhar, é de certo modo seu leitmotiv.

Monumentos, diz o texto, não precisam ser grandiosos —"são quase sempre íntimos, ínfimos", objetos cotidianos como um relógio ou uma roupa, ou a pá de pedreiro que serve para sepultar o humilde e o poderoso.

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