Nasi, do Ira!, ataca em três bandas aos 60 anos e produz documentário sobre Exu

Além de comandar o grupo de rock quarentenário, vocalista lança singles com os Spoilers e Voluntários da Pátria

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

É certo que o roqueiro Nasi nunca trabalhou tanto quanto agora. Com sua nova banda, os Spoilers, ele está lançando nas plataformas um EP com quatro canções inéditas e duas regravações. Com sua velha banda, Ira!, é a vez do elogiado 12º álbum, que saiu digitalmente há dois anos, chegar ao vinil. Com outro grupo, o bissexto Voluntários da Pátria, está lançando dois singles. Sozinho, gravou uma canção inédita do amigo Zé Rodrix que vai sair em breve.

Tem mais. Toda sexta à noite, ele apresenta "Nasi e os Irmãos do Blues" na Kiss FM. Sua biografia "A Ira de Nasi", de Mauro Beting e Alexandre Petillo, publicada há dez anos, sai agora em audiolivro com o cantor lendo as passagens em primeira pessoa. E, no segundo semestre, chega às telas o documentário "Exu e o Universo", que o cantor ajudou a escrever e a produzir, sobre a cultura e religião iorubá, que ele pratica.

O músico Nasi, vocalista do Ira! - Divulgação

Não, não acabou. Voltando ao Ira!, a banda está em turnê nacional lembrando os 40 anos de carreira, com cerca de 30 apresentações já marcadas até o final do ano. Um disco duplo em vinil chamado "Demos 83-84" com raridades e shows recuperados daqueles anos está em pré-venda e chega aos compradores em agosto. E a banda ainda entrou no universo NFT, ao disponibilizar fotografias recentes e antigas, de quando Charles Gavin ainda era o baterista, antes de seguir para os Titãs.

O fato de Marcos Valadão Ridolfi ter feito 60 anos em janeiro só prova que o velho ditado está certo —vaso ruim não quebra. "Me sinto muito bem aos 60", ele conta, em sua casa na zona oeste de São Paulo, enquanto dá essa entrevista tomando cervejas e fumando cigarros. A cocaína ele largou em 1997; a maconha, dez anos depois. "Estou com a agenda cheia, vejo que tenho relevância, me sinto na minha plenitude como cantor, conheço minhas qualidade e limites. Está tudo em paz."

Mas paz não é algo que geralmente se associe com Nasi. A começar por esse apelido polêmico, que ganhou de colegas da Escola Estadual Brasílio Machado, na Vila Mariana, onde estudou com Edgard Scandurra, colega do Ira!.

"Eram os anos 1970 e, depois do Fantástico, a Globo exibiu uma série chamada 'Holocausto', que mostrava os horrores do nazismo. Aí, na escola, onde me chamavam de Valadão, me apelidaram de Nazista. Porque eu nunca fui valentão, mas a gente tinha que enfrentar os mais velhos às vezes. Eu era o briguento, o capeta, o coisa ruim, o ‘nazista’. Apelido que a gente não gosta é o que pega. E assim foi. Quando o Ira! começou a aparecer, eu troquei o ‘z’ pelo ‘s’. Mesmo assim, esse nome me deu muitos problemas", diz ele, que é filiado ao PC do B desde 2003.

A maior das confusões aconteceu há 15 anos, numa briga que começou com o Ira!, incluiu tentativas de interdição a Nasi e terminou em batalhas jurídicas do cantor com seu irmão, empresário da banda. O Ira! voltaria com ele e Scandurra sete anos depois, mas o baixista Ricardo Gaspa e o baterista André Jung ficariam de fora, hoje substituídos por Johnny Boy e Evaristo Pádua.

A nova banda de Nasi, os Spoilers, apresenta um punk rock bem pesado, daqueles que você achava que não se fazia mais no mundo. A história começou na quarentena, quando Daniel Tessler (guitarra e voz), Gustavo X (guitarra) e Johnny Zanei (baixo) chamaram Nasi para algumas sessões de quarentena, cada um tocando na sua casa. O repertório era Clash e Stooges.

A banda Nasi e Os Spoilers, que lança EP nas plataformas de streaming - Divulgação/Anderson Carvalho

Até que a banda começou a investir em inéditas. O primeiro single saiu em dezembro do ano passado, e outros três se seguiram. Destaque para a balada "Feedback", composta pelo atual baixista e tecladista do Ira!, Johnny Boy.

Já os singles do Voluntários da Pátria trazem as mesmas texturas de guitarras do único álbum da banda, lançado em 1984. Os integrantes também são os mesmos de 38 anos atrás. Além de Nasi e de Ricardo Gaspa —ex-baixista do Ira!—, Miguel Barella e Giuseppe Lenti atuam nas guitarras e Thomas Pappon, na bateria.

Como no EP dos Spoilers, as duas novas canções dos Voluntários da Pátria foram gravadas a distância, depois de compostas conjuntamente por WhatsApp. O single "O Voluntário", sobre quem ajudou na batalha contra a Covid e sobre quem ajuda pessoas em situação de rua, saiu em abril. Já "Ainda Estamos Juntos" chegará às plataformas esta semana.

Nasi termina a entrevista falando do documentário "Exu e o Universo". Nascido e criado no Bexiga, de família calabresa católica, desde criança via sua mãe manifestar mediunidade e receber entidades de religiões de matriz africana. Criança, frequentava a Federação Umbandista e, em 1988, foi pré-iniciado na Bahia por uma ialorixá.

Sempre lendo e estudando a cultura e a religião afro-brasileira, conheceu em 2009, durante a crise com o Ira!, o professor e pesquisador nigeriano Bàbá King, que há 20 anos trabalha na produção de um dicionário iorubá-português. "Ele me falou tudo o que eu não queria ouvir. Hoje, tenho iniciações aqui e na África", diz Nasi. "Neste ano, vou para a Nigéria pela quinta vez, para ficar recolhido por duas semanas evoluindo em orixás."

O projeto do documentário começou em 2015, e a equipe já viajou para filmar na Nigéria, na Espanha e na Eslovênia. Agora, prestes a ser finalizado pelo diretor Thiago Zanato, ele ganhou uma relevância inesperada. O enredo campeão do Carnaval do Rio de Janeiro, da Grande Rio, foi sobre Exu, e como ele é uma divindade africana, e não o diabo, como muitos brasileiros se acostumaram a pensar. Esse é justamente o mote do documentário de Nasi.

Nasi & Os Spoilers

Nasi e os Irmãos do Blues

  • Quando Sex., às 20h
  • Onde Kiss FM (92.5)

A Ira de Nasi

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.