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Régine, mais do que empresária, marcou a vida cultural da França

Expoente da 'chanson française', morta aos 92, teve um império que se estendeu até Brasil e que não deve ter sucessores

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Régine Choukroun, que morreu aos 92 anos, neste domingo, nos arredores de Paris, era bem mais do que a "rainha da noite", um título que ostentou com orgulho por mais de 50 anos. Também era cantora, atriz, apresentadora de TV, empresária em diversos negócios e uma figura central da cena cultural francesa.

Nascida em 29 de dezembro de 1929 em Anderlecht, na Bélgica, Régina Zylberberg era filha de judeus poloneses que haviam vivido oito anos na Argentina. Em 1932, quando tinha três anos de idade, seu pai perdeu a mercearia da família num jogo de pôquer, e todos se mudaram para Paris.

A atriz, cantora e empresária Régine, em retrato de 2012 - Eric Feferberg - 9.jan.2012/AFP

Mas sua mãe decidiu voltar sozinha para a América do Sul, e a pequena Régina e seu irmão mais novo, Maurice, passaram a infância em lares temporários, em diversas cidades da França. Uma dessas famílias adotivas batizou os dois como católicos, o que certamente os salvou do Holocausto .

Mesmo assim, os nazistas deixaram uma marca trágica na vida da jovem. Seu primeiro amor, Claude Schonberg, filho de um rabino de Lyon, foi preso pela Gestapo e morto num campo de concentração.

Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, seu pai abriu um café no bairro parisiense de Belleville, onde ela trabalhou como garçonete e descobriu ritmos americanos como o jazz e o bebop. Pouco depois, ela se casou com Paul Rotcage, com quem teve seu único filho, Lionel. Também mudou a última letra de seu prenome, de Régina para Régine.

A empresária Régine e o cantor e compositor francês Serge Gainsbourg em festa no clube Le Palace, em Paris, em 1984 - Pierre Guillaud - 24.out.1984/AFP

Na década seguinte, Régine atuou como barwoman e DJ em diversos estabelecimentos e percebeu que a vida noturna era sua maior vocação.

Abriu sua primeira boate parisiense em 1956, o Chez Régine. A escritora Françoise Sagan se tornou sua grande amiga, e também a maior divulgadora de seu clube, que passou a atrair celebridades como Brigitte Bardot e Rudolf Nureyev.

Em 1965, já conhecida como a "rainha da noite", Régine se lançou como cantora. Nomes como Serge Gainsbourg, Charles Aznavour e Henri Salvador escrevem canções para ela, que fazia shows com frequência. Para alguns críticos, ela é a última representante da tradicional "chanson francaise", que teve em Édith Piaf o seu maior expoente.

Ao mesmo tempo, Régine desenvolveu uma carreira bissexta como atriz de cinema. Entre 1962 e 1994, participou de cerca de uma dúzia de filmes, dirigida por cineastas como Claude Lelouch , Philippe de Brocca e Claude Zidi.

Mas foi como empresária da noite que Régine deixou sua marca. Depois de abrir boates em Paris e Cannes, na França, em 1976 ela inaugurou em Nova York uma filial do Chez Régine. Pouco depois, desembarcou no Brasil, onde, em parceria com os hotéis Méridien, abriu clubes com seu nome no Rio de Janeiro e em Salvador.

A empresária e atriz Régine e seu marido, Roger Chourkroun - 7.dez.1969/AFP

A década de 1980 é marcada pela expansão de sua grife a nível global. Foi uma das primeiras empresárias da noite a vender carteirinhas de sócios de seus clubes, pela bagatela de US$ 600 --cerca de R$ 3.000. O documento garantia a entrada do titular e convidados em qualquer um de seus estabelecimentos pelo mundo todo.

Depois de se divorciar do primeiro marido, Régine se casou com o empresário Roger Choukroun. Fréderic Mitterrand, sobrinho do ex-presidente François Mitterrand e ex-ministro da Cultura da França, resume o segredo do sucesso de Régine. "Eu era um rapaz sem dinheiro, mas ela me recebia de braços abertos e não me cobrava nada. A clientela de suas boates era formada por 80% de ricaços, 10% de celebridades internacionais e 10% de jovens bonitos. Régine adorava ganhar dinheiro, mas, ao mesmo tempo, não estava nem aí."

A atriz e empresária Régine, em durante o festival de Cannes de 1978 - Ralph Gatti - 31.mai.1978/AFP
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