Atraído pelas cores claras da primavera e do verão, Renoir nunca suportou a chuva, os tons de outono e as paisagens invernais. O inverno, para ele, era uma "doença da natureza" e, por isso, pouquíssimas telas suas enfatizam essa estação.
Por ser uma raridade, "Patinadores em Longchamp", de 1868, é uma das primeiras obras analisadas em "A Exaltação da Vida", volume da Coleção Folha Grandes Pintores dedicado à trajetória do artista francês. Na cena, vista do alto, ele apresenta um instantâneo do lugar aonde os franceses vão para se distrair, com o lago do Bois de Boulogne tomado por blocos de gelo.
Já influenciado por Monet, pouco após a realização dessa tela, Renoir adotou a técnica impressionista. Em "Pont-Neuf, Paris", de 150 anos atrás, o pintor incorpora as cores claras e o hábito de trabalhar ao ar livre. Na feitura dessa obra, é seu irmão mais novo, Edmond, quem fica encarregado de parar os transeuntes para perguntar a hora ou a direção, ganhando tempo para que o artista executasse os esboços do quadro.
Entre 1881 e 1882, no entanto, ao passar um período com Cézanne, que havia se afastado do impressionismo, Renoir abandonou os contornos imprecisos e deu lugar à nitidez, à luz e às cores uniformes. Foi o começo de seu período ácido, como ele próprio preferia nomear, que se caracterizou por uma camada pictórica muito fina.
O ponto alto dessa fase é a tela "As Grandes Banhistas", de 1887, para a qual Renoir realizou uma série de desenhos e estudos preparatórios até atingir uma feitura quase transparente. A pele das mulheres ali representadas, com suas poses milimetricamente estudadas, parece de porcelana.
A Coleção Folha dá ênfase especial à faceta de Renoir como exímio retratista —entre os artistas que o pintor representou, estão os amigos Sisley, Bazille e Monet, com quem ele pintava com frequência. Do seu círculo íntimo, são inúmeros os retratos de Gabrielle Renard, que esteve 20 anos a serviço da família, além dos próprios filhos do pintor. Em "Lise com Sombrinha", de 1867, ao representar Lise Tréhot, sua amante à época, Renoir aparece em plena busca da luz, o que se nota pelo branco resplandecente do vestido e os efeitos de transparência das mangas.
Na década de 1870, o artista passou por um período de dificuldades, tendo dias em que mal conseguia dinheiro para pagar os tubos de tintas. É dessa época a obra "Madame Clémentine Valensi Stora", na qual representa a mulher de um comerciante vestida como uma argelina.
Enquanto para a maioria dos impressionistas o exotismo se vinculava ao Japão, Renoir o associava ao norte da África. No inverno de 1881, inclusive, ele viajou à Argélia em busca do sol. Ali, admirado pelas cores da vegetação, realizou paisagens como "Campo de Bananeiras" e "Paisagem Argelina, A Ravina da Mulher Selvagem".
No campo das raridades, a coleção também analisa o trabalho "Mulher Nua Deitada", de 1906, que traz uma modelo em ambiente interno, algo incomum na trajetória de Renoir, que preferia representar as mulheres em plena natureza. A tela de cores quentes —vermelho e amarelo—, que contrastam com a pele lisa e de grande luminosidade da modelo, ainda inspiraria Matisse para alguns de seus nus.
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