Na famosa oficina do mestre italiano Andrea del Verrocchio, onde iniciou sua aprendizagem, Leonardo da Vinci já deixou sua marca. Em "A Manifestação de um Gênio", quarto volume da Coleção Folha Grandes Pintores, é notável como, desde o início de sua trajetória, o pintor toma decisões inaugurais na história da arte, o que vale tanto para a técnica, na mistura da têmpera com a pintura a óleo, como para o estilo.
Em "O Batismo de Cristo" (1470-75), por exemplo, tela de Andrea del Verrocchio na qual interviu com outros discípulos, Da Vinci representa um anjo em uma pose até então inédita: seu busto está voltado para um lado, enquanto a cabeça se vira para outro.
Para o artista, um grande defeito da pintura era repetir os mesmos procedimentos, as mesmas pregas nos tecidos e fazer com que todas cabeças parecessem desenhadas com base no mesmo modelo.
Na sua busca por representar a maior gama de fisionomias, há estudos em cima das mais diversas feições e emoções. São desenhos que registram com minúcia os movimentos musculares e as dobras da pele. Da Vinci observa que o riso e o choro não provocam grande diferença na faixa dos olhos, na boca e nas bochechas, mas mudam as sobrancelhas, que se unem quando alguém sofre e se mantêm arqueadas na risada.
Analisada neste volume da coleção, "A Adoração dos Magos", pintura inacabada de 1482, é um bom exemplo de como Da Vinci criava. Nela, quase todas as figuras estão em movimento e cada uma apresenta uma atitude diferente.
No que se refere à paisagem, a técnica da "perspectiva aérea", que cria a ilusão de profundidade por meio da gradação de cores e da diminuição do contraste, é considerada uma das principais contribuições do artista para a arte pictórica.
Já "Retrato de um Músico", único retrato de um homem atribuído a Da Vinci, mostra o perfeito domínio do claro-escuro. A tela foi realizada durante o período em que o artista esteve na corte do duque Ludovico Sforza, em Milão, de 1482 a 1499.
Foi também nessa temporada que ele se dedicou a "A Última Ceia", uma de suas obras-primas, na qual os apóstolos demonstram, cada um a sua maneira, surpresa e desolação ao ouvir de Cristo que um deles o trairá.
De volta à Itália, a pintura de Mona Lisa (1503-19) ocupou o pintor por vários anos e nunca foi entregue a seus patrocinados, um casal de florentinos que encomendou a obra para celebrar dois acontecimentos: o nascimento do segundo filho e sua mudança de casa.
Na biografia de Da Vinci escrita por Giorgio Vasari, o historiador diz que, para distrair a retratada, e dissipar seu ar melancólico, o pintor lançou mão de palhaços e músicos.
Ao longo da vida, Da Vinci concebeu várias engenhocas. Por meio da associação do voo das aves à sua pesquisa da física, desenhou uma série de máquinas de voar. Também projetou pontes giratórias e máquinas industriais na área da tecelagem, cardagem e relojoaria.
Analisando esta produção, um escritor anônimo da família Gaddi observou que, apesar de suas lindas invenções, Da Vinci nunca estava satisfeito consigo mesmo e, por isso, não pintou muitas coisas. Por conta desse preciosismo, Vasari também escreve que as flores da tela "Madona com o Cravo" (c. 1475) parecem "mais naturais que a natureza".
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